Durante alguns anos, mais precisamente desde os meus doze anos, altura em que integrei o conjunto musical das Oficinas de S. José, em Lisboa (Campo de Ourique), o domingo era abonado e pecunioso, pois já auferia 250 escudos, o que na altura era copioso dinheiro. Apenas como uma informação adicional, quando frequentei e cursei a Escola Industrial Machado de Castro, o almoço ficava por 20 escudos no restaurante em frente!…Se converter para cêntimos, atualmente dá 10 cent… Refiro-me a uma refeição completa que além do prato principal, tinha a sopa, a bebida e o café! Ou seja, era aos domingos que eu ia buscar o meu primeiro ordenado mensal (1972)…
Casei cedo, e iniciaram-se os almoços nos pais e sogros, alternadamente.
Ao domingo era uma chatice! Ter que levantar mais cedo para o convívio familiar obrigatório…
Depois, houve outros esposórios, mas os sogros começaram a escassear… Já imaginaram que há mais viúvas do que viúvos! As mulheres aguentam mais, será?…
Passaram-se alguns profusos anos! Quando vivi na Golegã, trabalhava no Café Central e quando chegava o dia de folga e coincidia com o domingo, lá ia almoçar completamente só, ao “Cu da Mula”, o melhor restaurante na esfericidade e propinquidade!
A pergunta do funcionário:
– Sr. Ferro, vem sozinho?
E o que poderia responder eu (?)…
Francamente, tive imensas saudades dos almoços com pais e sogros!
Mesmo com todas as intempéries, preferia o convívio familiar.
Passaram mais alguns anos (muitos) e fiquei diversas vezes irresoluto, com o que fazer…
Há uns anos, tive uma ideia brilhante!
Sair de casa cedinho, apenas com 1 euro no bolso, sem telemóvel e sem cartão bancário e partir à aventura, sem local pré-destinado! Conhecer gente, conhecer novos locais, novos cafés, mas não esquecer… apenas 1€ no bolso…E o domingo tornou-se diferente, mais surpreendente, perplexo e criativo!
Agora sim! Voltei a gostar dos domingos!

Músico/Colaborador