O senhor Primeiro Ministro tem todo o direito e liberdade para criticar os jornalistas ou outros profissionais que entender; ainda bem que vivemos numa sociedade onde (ainda) é possível pensar e exprimir o pensamento em liberdade e sem censura.
Naturalmente que os jornalistas “ofegantes”, os “dos auriculares”, não devem ter ficado muito agradados com as palavras, mas têm de aceitar e, se quiserem, fazem o contraditório. Até porque não é bem assim que funciona o jornalismo atual, como o Primeiro – Ministro quis dar a entender. As novas tecnologias alteraram muitas coisas.
Nos meus inícios como profissional da comunicação social -anos 80 -, já os políticos nos criticavam, não tanto como agora, mas criticavam. E não usávamos “auriculares de sopro”, mas uns pesados cascos, por onde éramos informados se estávamos em direto. Nem havia tempo para sopros… Nem telemóveis havia, vejam bem! Hoje, nesses aparelhos, podemos escrever as perguntas, na calma buliçosa da redação e, frente ao entrevistado, ter na mão, simultaneamente, smartphone e microfone. Antes, era no bloco de notas; microfone (ou gravador), bloco de notas e esferográfica. Atualmente é muito mais prático, sem dúvida.
Mas quem critica, está sujeito a ser criticado também. E o sr. Dr. Luís Montenegro não vai levar a mal – mas está desinformado sobre o trabalho da comunicação social. Ou talvez não! A arrogância com que falou aos repórteres, o tom sobranceiro e doutoral, é de quem sabe o que está a dizer, ou porque está a dizer. Se um político (ou quem quer que seja) está à vontade perante a imprensa, não precisa de apressar o passo, fugir ou fazer de conta que os jornalistas, à sua volta, são transparentes. Acontece muito, com várias figuras públicas, considerarem as pessoas da imprensa, blocos transparentes. Às vezes, só falta passarem-lhes por cima. Mas quando precisam deles… ( cala-te boca!)
E os “ofegantes”?! Ó senhor Primeiro-Ministro, nem todos praticaram desporto como o senhor, que tem uma caixa torácica e uns pulmões cheios de vida! Há gente a abarrotar de tabaco, mas a precisar de trabalhar para comprar o leitinho dos filhos! E que tem de correr atrás de si, pois o senhor não tem o cuidado, o respeito, para ser mais preciso, de lhes facilitar a vida.
E podia ser tão simples! Parava, olhava em volta e dizia “minhas senhoras e meus senhores, não vou prestar declarações. Muito obrigado”. Acredite, pouparia tanto oxigênio aos tristes pulmões dos repórteres!
Mas o senhor, não! Acelera a passada, ignora as perguntas ofegantes, cujas respostas, a alguns de nós pouco importam, mas são essenciais para aqueles que lhe deram votos e o elevaram ao lugar em que está. E esse é o nosso trabalho – perguntar e informar.
Curioso é haver tantas críticas – e aqui o doutor Luís Montenegro é, apenas, o último exemplo – por parte dos políticos aos jornalistas (fazem lembrar os homens do futebol quando metem “o pé na argola”). Não conheço nenhum político de topo, não me recordo, a exercer cargos públicos, que não critique a comunicação social. Todos os partidos têm razões de queixa! E isso é bom. É prova de que a imprensa está a cumprir a sua missão.
Senhor doutor Luís Montenegro, não estou a defender qualquer “rebanho”, ou qualquer “tribo”; não tenho vocação para isso. Estou apenas a recordá-lo de que há bons e maus políticos (e o senhor sabe que sim) e bons e maus jornalistas. Confundir a “árvore com a floresta” é que não lhe fica nada bem! E imagine os jornalistas a criticar e a contar tudo o que sabem (e acham !) da classe política. Que fotografia tremida ia sair!
Sabe, senhor Primeiro Ministro, se houver respeito entre as pessoas, profissionais, afinal, e findarem as fugas às perguntas, através do passo acelerado a preparar a fuga, acredite que o jornalismo a que chama “ofegante” pára. E os despedaçados pulmões dos repórteres agradecem.
Jornalista