No primeiro dia do seu segundo mandato (21 de Janeiro de 2025), Trump indultou cerca de 1.600 condenados por delitos cometidos no assalto ao Capitólio de Janeiro de 2021, onde morreram cinco pessoas e houve muita destruição. A origem do tumulto esteve num discurso de Trump, enquanto perdedor das eleições, incendiando a raiva dos seus apoiantes, levando-os à prática de actos de bandidagem. Actos que Trump premiou quatro anos depois libertando os bandidos.
Trump e Bolsonaro (este seguiu aquele no acto de assaltar a “Casa da Democracia”) fazem parte de um punhado de tiranos que se imaginam “mandatados por Deus”. Bolsonaro deixou-se “benzer” pelo líder de uma seita extremista, dita cristã, e Trump criou o “Departamento de Fé da Casa Branca”, tendo como “assessora espiritual”, desde Fevereiro de 2025, Paula White, de 59 anos, que proclamou esta enormidade: “está a caminho uma legião de anjos para oferecer reforço celestial a Trump” (jornal espanhol El País de 13/09/2025).
Ao contrário de Bolsonaro, Trump não se assume como “fiel crente de uma fé religiosa”, só porque o seu umbigo fortemente inchado de poder e arrogância, não lhe permite submeter-se aos ditames de um deus; ele está acima de qualquer deidade… todos os deuses do mundo é que devem submeter-se-lhe… a “fé” de Trump é outra. Como comissionista que é, não obedece a outros deuses que não sejam o lucro, as suas contas bancárias, o desejo de exercer o poder sobre todos os governos do mundo, e de ver submetidos a si todos os cidadãos do universo.
Trump encarna “uma virilidade autoritária enraizada no imaginário evangélico”, a qual faz parte da cartilha dos extremistas da Direita americana (quiçá mundial) que interrogam: “Se Deus decide quem é o rico e o pobre, o que é que o Estado pode fazer perante tal decisão divina?”. Esta perigosa associação da política extremada de Direita com o extremismo religioso cristão, criou uma nova ideia referida por “cristoneofascismo” que preocupa muita gente, incluindo teólogos como Juan José Tamayo (que acabou de publicar o ensaio «Cristianismo Radical», na editora Trotta – Madrid) no qual afirma que “o evangelho da prosperidade” – conceito extremado na Direita política dos EUA e da América do Sul – está a arrebatar ao cristianismo a sua mensagem original.
Se os “pobrezinhos europeus” se consolam na ideia da bondade de Deus, do outro lado do Atlântico isso não basta. Enraíza-se a ideia de que “Deus abençoa os bons cristãos com êxito material”. Se a minha avó ouvisse tal argumento benzia-se com a mão esquerda e morria outra vez! (Bom… na verdade, a Igreja sempre praticou o poder material. A filosofia do “pobrezinho mas honrado” não passa de artimanha saloia para arrebanhar fiéis na escala dos mais desgraçados).
Quem alerta para essa ideia é Kristin du Mez, autora do livro “Jesús y John Wayne”, onde diz que os cristãos substituíram o humilde Jesus dos evangelhos por ídolos de masculinidade autoritária e pelo nacionalismo cristão. Pior ainda… há quem difunda a ideia de que “os pobres são indignos e os únicos culpados da sua pobreza”, cuja mensagem contraria os ensinamentos cristãos, mas que pretendem fazer lei na «América grande outra vez», de Trump.
Concluindo este meu raciocínio, alerto os meus leitores para o facto de Trump apoiar a decisão de El Salvador (para cujas prisões “exportou” imigrantes latino-americanos) poder abolir os limites do mandato presidencial, abrindo caminho ao presidente autocrático Nayib Bukele (empresário de 44 anos filiado no partido de extrema-Direita “Novas Ideias”, no poder desde 2019) para que se eternize no cargo de presidente do país). Isto devia preocupar-nos a todos porque, na sua campanha eleitoral, Trump disse aos americanos, ser “a última vez que precisam de votar” numa clara alusão à vontade de se eternizar no poder se conseguir, nos seus quatro anos de mandato, alterar as leis fundamentais da democracia nos EUA!…
(Quanto aos Bandidos e Religiosos referidos no título, deixo ao leitor uma viagem pela geografia política do mundo para poder elaborar a sua própria lista).

Jornalista/Cartunista