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Quarta-feira, Outubro 29, 2025

Análise Política: O Chega e a sua primeira derrota

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Há 15 dias escrevia que a eventual possibilidade da conquista de um número elevado de câmaras municipais pelo Chega poderia significar o começo da mudança do regime ou, pelo contrário, a parede que se erguia contra essa realidade. Sem meias-medidas e sem margem para qualquer dúvida, prevaleceu a segunda. O bipartidarismo venceu e o partido que tinha ganhado em 60 concelhos nas legislativas, há poucos meses, conquistou três câmaras.

Por incrível que pareça, o Chega, que chegou a definir como objetivo as tais 30 câmaras (metade dos concelhos onde tinha ganhado nas legislativas), acabou atrás do CDS (que ganhou em seis) e da CDU, que conquistou12.

O recuo do partido de extrema-direita ultrapassou todas as expectativas e o facto de ter caído para apenas 600 mil votantes em poucos meses é digno de registo. E serve de atenção para os partidos que criaram o regime democrático, mas sobretudo para o PSD.

Refiro-o assim e para este último porque pude constatar – nestas eleições autárquicas que devem ter leitura nacional – a atenção que o PSD e o PS no terreno dispuseram às pessoas e a alta rejeição que o partido de extrema-direita reúne entre a maioria. Aliás, foram audíveis algumas críticas aos intervenientes políticos, exatamente por não serem mais contundentes com o ódio e a descaracterização do País que André Ventura e os seus procuram perpetrar.

A vitória em toda a linha do PSD, reconquistando a presidência da Assembleia Nacional dos Municípios e as cinco mais populosas câmaras do País – Lisboa Porto, Sintra, Gaia e Cascais – é estrondosa. Não existe outra forma de a descrever.

A derrota do PS, em condições normais, mereceria a mesma conotação, mas em sentido contrário, não fora o contexto. Um partido que vem da “hecatombe” das legislativas e vê outros congéneres seus a extinguirem-se em países como França, acabando por conquistar 128 câmaras, entre as quais Viseu, Bragança, Évora, Coimbra, Leiria e deixando uma lança em Faro, está bem vivo. Perde-se por erros estratégicos em Lisboa e no Porto. Erros, esses, que sobretudo na sua escolha na capital do País e na coligação à esquerda, eram expectáveis.

Mas a realidade analítica da noite eleitoral é que todo o mediatismo do Chega na imprensa e nas redes sociais, toda a sua implementação no sistema, que não é de hoje, mas que ganhou maior eco desde as legislativas, deixou de servir para um voto de descontentamento.

Nas eleições autárquicas, com menos abstenção nos últimos 20 anos, o Chega tem a sua primeira grande derrota desde que existe. Isto é sinal de que sejam eleições locais ou nacionais, as pessoas deixaram de ver naquele partido que tanto influi e influência tem nas várias áreas da sociedade o tal protesto. Para isso e na melhor das hipóteses, votam em branco.

Quem vota no Chega, hoje, sabe muito bem o que propõe aquele partido e até o seu efeito no País. Já ninguém vai ao engano. Deixou de ser um voto de protesto. Vivam as autárquicas.

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