Até 31 de agosto de 2025 arderam 254 mil hectares em Portugal, segundo relatórios da AGIF-Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais e do ICNF-Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, tornando este ano um dos três piores de sempre em área ardida. A situação afeta sobretudo o Norte e o Centro, regiões com elevada concentração de floresta homogénea e pouco gerida. Os povoamentos florestais foram os mais atingidos, com 118.127 hectares destruídos, seguidos de 107.881 hectares de matos e 28.288 hectares agrícolas.
Entre as áreas protegidas afetadas estão o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque Natural do Alvão, o Parque Natural da Serra da Estrela e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Perante este cenário, a WWF Portugal-World Wide Fund for Nature recomenda ao Governo a aplicação de três medidas até maio de 2026:
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Abertura de Aviso no Fundo Ambiental para projetos de restauro ecológico e regeneração natural, incluindo uso de pastoreio extensivo para reduzir risco de incêndio e conservar habitats;
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Abertura de Aviso no Fundo Ambiental para apoiar sistemas agrosilvopastoris e de agrofloresta, com impacto na fixação da população rural e transformação da paisagem a norte do Tejo;
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Desburocratização e reforço de recursos humanos qualificados no Fundo Ambiental, para permitir maior acesso de proprietários aos fundos e operacionalização de pedidos.
Ângela Morgado, diretora executiva da WWF Portugal, sublinha: “Ao mesmo tempo que lamentamos profundamente todas as perdas resultantes dos incêndios, principalmente as de vidas humanas, não podemos deixar de lamentar também a inércia dos sucessivos Governos na resolução deste problema. Ano após ano, o Governo continua sem fazer o que é necessário para prevenir os incêndios do verão seguinte. Exemplo disto são as medidas já lançadas pelo Governo logo após os incêndios deste ano para recuperação da área ardida, mas que têm pouco foco na prevenção. Este não é um tema da responsabilidade deste ou daquele Governo, é um problema estrutural, e cuja resolução tem de sobreviver às consecutivas legislaturas e opiniões”.
A WWF considera que, para quebrar o ciclo, é preciso alterar a composição e a estrutura da paisagem, reduzir a área de floresta de produção não gerida e promover sistemas agrosilvopastoris, em mosaico com áreas de produção e conservação.
“A WWF, em Portugal e a nível global, defende uma abordagem proativa e integrada para a prevenção e redução do risco de incêndio, ao invés de nos concentrarmos exclusivamente no combate. A solução passa pela paisagem mosaico em que bosques, zonas húmidas e pastagens funcionem como barreiras contra a propagação dos grandes incêndios e passa também pelo pagamento de serviços ambientais a quem tem práticas de gestão responsáveis na sua propriedade e com impacto à escala da paisagem. Ecossistemas saudáveis e em pleno funcionamento são mais resilientes ao fogo quando protegidos e restaurados e precisamos pagar esses serviços”, acrescenta Ângela Morgado.
Em maio de 2025, a WWF publicou a “Agenda Comum para a Prevenção de Incêndios Florestais”, resultado de um encontro com especialistas de vários setores, onde foram apresentadas medidas dirigidas ao Governo, setor privado, sociedade civil e comunidade científica.
OC/RPC






