Durante séculos, as guerras travaram-se com espadas, canhões e tanques. Hoje, as armas são invisíveis e cabem dentro de servidores climatizados em bunkers de betão. Chamam-se algoritmos de inteligência artificial, e já não servem apenas para recomendar séries na Netflix. Servem para espiar, manipular eleições, vigiar populações inteiras e até decidir quem vive ou morre num campo de batalha.
Não, não é o enredo de um filme do James Bond. É o noticiário do século XXI.
Os Estados Unidos e a China jogam este xadrez tecnológico como gladiadores digitais. Os primeiros, apoiados por gigantes como a Microsoft e a Google. Os segundos, com uma máquina estatal que investe biliões e não pergunta pela ética. Pelo meio, a União Europeia tenta ser árbitro, aprovando regulamentos e códigos de conduta, como se fosse possível parar um maremoto com um balde de areia.
O resultado? Estamos numa nova Guerra Fria. Só que, desta vez, os mísseis foram substituídos por semicondutores e os tanques por redes de vigilância facial. A corrida não é apenas para criar tecnologia, mas para definir os padrões globais – porque quem dita as regras controla o futuro.
E se a geopolítica já é preocupante, o impacto no dia a dia não é menos assustador. Fake news fabricadas em massa por IA, vídeos deepfake tão perfeitos que enganariam até a tua mãe, exércitos de bots a manipular eleições e drones autónomos a decidir alvos sem intervenção humana. É a guerra sem rosto, sem sangue nas mãos – mas com mortes reais.
Entretanto, países como Portugal tentam encontrar o seu lugar neste tabuleiro. Criamos “estratégias nacionais de IA” e “gasodutos de inovação digital”, mas arriscamo-nos a repetir a história: de potência marítima a estância turística digital, sempre dependentes de quem tem os grandes navios – ou neste caso, os grandes algoritmos.
E é aqui que entra o paradoxo: quanto mais avançados nos tornamos, mais vulneráveis ficamos. Um apagão tecnológico, um ataque cibernético ou até uma tempestade solar, e de repente voltamos à Idade da Pedra… ou pelo menos à do papel e caneta.
No fim, não é a nação com a IA mais poderosa que vai sobreviver. É a que souber adaptar-se, questionar e resistir. Porque, como dizia Tesla, não vence o mais forte nem o mais inteligente, mas quem tem capacidade de se adaptar.
E se achas que, sozinho, não tens poder neste jogo global, lembra-te de uma coisa: até o ditador mais implacável perde o sono com um simples mosquito no quarto.
Foi disso que falamos numa conversa aberta que podes ouvir, refletir e comentar.
🎧 Ouve o episódio 16 de IA & EU aqui mesmo…
Terapeuta e Formador Psicossocial | Autor
Criador de Conteúdos | Especialista em Inteligência Artificial






