Há uns anos, o Estado admitiu poder vir a criar legislação que preveja multas a sério e cobradas na hora, para quem deixe lixo nas praias. No final de 2016, o Estado definiu novas regras no atendimento público ou privado: seja numa repartição de Finanças ou num supermercado, os idosos, pessoas acompanhadas de crianças de colo, grávidas e pessoas com deficiência têm direito a passar à frente na fila.
Tudo isto se resume à educação das pessoas que deveria ser ensinada nos bancos da escola e em casa, nem era preciso legislar. Uma questão de civismo, de maneiras, de saber estar!
Devolver a saudação, espirrar com moderação e de forma protegida, não falar alto ou aos gritos, não devorar a comida, deixar sair antes de entrar são gestos universais que deveriam ser respeitados.
Os bons modos passam por:
1 – Dar os bons dias ( vivemos no nosso mundo que até nos esquecemos que há outros mundos e outras pessoas);
2 – Falar sem dizer impropérios;
3 – Falar baixo, de modo a não incomodar os outros;
4 – Saber ouvir;
5 – Sorrir;
6 – Ser delicado.
Não é preciso legislar, ou impor para uma pessoa educada, dar o seu lugar sentado no Metro a um cidadão de idade, ou a uma mãe com uma criança ao colo, ou abrir a porta a quem vai carregada com compras. Estas atitudes deveriam ser normais e naturais, sem leis ou legislação, mas sim, por norma de educação, adquirida com os nossos pais ou nos bancos da escola.
Infelizmente, há leis a mais, neste país. Qualquer governo procura “pôr a República em ordem”. O problema é fazer-se cumprir as que já existem. Há tantas infracções que não se cumprem e a impunidade continua.
Por exemplo, controlo do ruído. As pessoas só porque estão em casa não se podem dar ao luxo de fazerem tudo o que querem e lhes apetece, a começar por barulho fora de horas.
Na condução de automóveis, há condutores sabendo que têm prioridade não se importam de provocar um desastre. Costumo chamar-lhes, “ condutores que não se importam de morrer com prioridade”. Quando circulam, esquecem que não são só eles que circulam e, que por vezes, devem dar a passagem. Não se esquecerem de agradecer quando impedem a passagem por inversão de marcha ou falta de espaço nos dois sentidos.
Lavam os carros na rua, apesar de ser proibido e os produtos de limpeza deterioram a via pública. Deitam lixo e entulho onde lhes dá jeito e na primeira esquina.
Quem frequenta as praias portuguesas sabe que é proibido levar cães, andar no passadiço de bicicleta. Nada disto é cumprido e ninguém se rala. A praia tornou-se o W.C. dos cães.
Nas escadas rolantes deve-se ir encostado ao seu lado direito para deixar passar quem vai com pressa. Falar ao telemóvel baixo para não incomodar os outros, não transformar uma viagem de comboio num escritório ambulante aos berros. Woody Allen tem razão ao dizer num dos seus filmes, ao estar à espera numa fila para o cinema, que não tinha que levar com a conversa dos outros nem ter nada que ver com as suas vidas. As pessoas devem falar baixo e evitar incomodar os outros, têm que ter a noção onde estão.
Quando alguém nos envia um SMS ou faz uma chamada, responde-se ou atende-se. Se estivermos ocupados, é norma de educação devolver a chamada logo que estejamos livres.
Há, tantos exemplos, que daria para escrever um livro sobre,” a falta de educação das pessoas”. Em relação a filas de espera, costumo verpessoas a tentarem passarem à frente de outras, em vez, de dar o lugar.
Há muitas pessoas educados e com maneiras, mas, infelizmente, a grande maioria falta-lhes berço e só porque têm dinheiro, julgam-se mais do que os outros.
Antigamente as pessoas distinguiam-se pelo que tinham, agora não, distinguem-se pela sua educação e princípios. A educação e os princípios não se podem comprar, são-nos transmitidos pelos nossos pais, que por sua vez aprenderam com os nossos avós.
Infelizmente a maioria das pessoas são ignorantes, arrogantes, mal-educados, sem maneiras, indelicados, com constantes faltas de respeito e grosserias. E não há leis que nos valham.
Ainda falta muito para sermos um país civilizado. O Governo querer estabelecer algumas regras faz muito bem, mas deve investir na educação de base dos cidadãos portugueses, nos bancos da escola. Isto não vai lá só com leis.
Há situações de convivência social entre pessoas, em que, quem é educado é lorpa. As pessoas actuam em função dos seus desejos e não do local onde estão inseridos e da realidade que os rodeia.
Há pessoas que têm modos, outras, simplesmente não os têm. A boa educação vai mais além de conhecimentos e estatuto social da pessoa. O civismo e o respeito fazem a pessoa. Tudo se resume na nossa quase ilimitada capacidade de ignorar a nossa ignorância do que é ser educado.
Vivemos numa sociedade blasé, indiferente a tudo; está a tornar-se fechada, autista e insensível.
Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores