Qualquer democrata tem de condenar vivamente o atentado de que foi alvo Donald Trump. A política faz-se com palavras, discussão, oposição, contraditório, cedências e tolerância. Nunca com violência. Seja de que tipo for.
Esta tentativa de assassinato vem engrossar a longa lista de candidatos ou presidentes americanos que passaram pelo mesmo. Alguns, mais do que uma vez. Muitos, como Trump, escaparam. Outros, foram mesmo abatidos. A primeira vez que aconteceu foi em 1835 e o alvo, Andrew Jackson, o 7º presidente dos Estados Unidos. Depois, um rol de casos: Lincoln (1865); Garfield (1881); Mckinley (1901); Roosvelt(1933); Truman (1950); Kennedy – John e Robert – (1963); Nixon ( 1974); Ford (1975); Reagan (1981. E não podemos esquecer os defensores dos direitos humanos Malcolm X (1965) e Luther King (1968).
Este historial de violência – e só estamos a falar de políticos e ativistas sociais – demonstra que os Estados Unidos da América podem ser tudo, menos um país pacífico. Quando Biden vem a terreiro dizer que “não há lugar na América para este tipo de violência, para qualquer tipo de violência, nunca, ponto final, sem exceções. Não podemos permitir que esta violência seja normalizada.”, faz tábua rasa de um ambiente violento, em que as armas sempre foram adquiridas pela população com toda a facilidade.
Provavelmente, se fosse complicado comprar uma arma, como são uma série de procedimentos administrativos, burocráticos e sociais no velho país do “sonho”, alguma, grande parte, da violência contra pessoas não aconteceria. Curiosamente, as alterações feitas pelos políticos nunca acabaram com a freima dos americanos em possuírem armas. E a indústria do armamento jamais deixaria que acontecesse…
Se assim foi ao longo da história, hoje, com uma onda de violência social, ódios exacerbados, fabricados pelos políticos, amplificados nos Media e com o extremar de posições político-partidárias, nada surpreende o aumento dos tiroteios na América e o avanço, a todo o vapor, para o resto do mundo.
A propósito de extremos políticos e, se calhar, as gerações mais novas desconhecem, até cerca dos anos 1990, pouco se falava da extrema-direita (radicais e terroristas, estes, sempre os houve e nada têm a ver com política); a extrema-esquerda, marxista, leninista, maoísta,” lutava” por uma sociedade sem classes, pelo fim do capitalismo e pela instauração, através de revolução, da ditadura do proletariado. Obviamente, nunca o conseguiu. Os povos rejeitaram tal coisa, deram forte sinal em eleições livres e esses movimentos foram desaparecendo.
A extrema-direita é a protagonista atual. Força o regresso a um passado nebuloso, é intolerante, propõe medidas anacrónicas que não cabem nas sociedades desenvolvidas. Mas o povo parece apoiar. E utiliza como voto de protesto em diversas ocasiões.
Esta extrema-direita contrapõe aos ideais da nova extrema -esquerda. Já não é ideológica, esqueceu Marx, Lenine, Estaline ou Mao, não pretende a instauração da ditadura do proletariado, mas outra, a do “wokismo” que deveria ser uma sensibilização para problemas de discriminação e nunca um menu de exigências que, em vez de incluir, excluem, exigem, punem. E torna a sociedade mais violenta.
No meio de tudo isto, onde estão os movimentos tolerantes, da social-democracia, democracia-cristã, socialismo democrático? Foram tomados pelos extremos. E o futuro afigura-se perigoso. Muito perigoso.
Voltando a Trump, no momento em que vi as imagens da bala rasarem a orelha e a deixá-la ensanguentada, disse para quem estava ao meu lado – “Trump vai ganhar as eleições!.”
Embora sabendo que o “trumpismo” não domina, nem metade, do partido republicano, o gosto dos americanos pelos mitos, pelos “mártires” e pelos heróis ( mesmo de barro) pode ter sido aguçado pelo movimento errático daquela bala.

Jornalista