Pensamentos de uma pessoa que gosta de café….
As pessoas perguntam constantemente porque é que os profissionais da informação e distribuição turística, leia-se profissionais (agentes) de viagens, ainda existem na idade da internet. Quando se fala da sua existência já há quase trinta anos como se de uma crónica de uma morte anunciada se tratasse.
Há uma resposta simples, usando metáforas: as viagens são como chávenas de café!
O café, tal como as viagens, pode ser servido de muitas e variadas opções e maneiras.
Pode ser feito em casa e não é que é bastante barato desta forma? Sabe-se
exactamente o que está lá dentro, os custos que se tem e se o café tiver um
mau sabor, bom, não se pode culpar um terceiro por ele não ter saído bem.
Podemos arriscar-nos a afirmar que, grosso modo, e como é sempre possível qualquer pessoa pode fazer um café em casa, não há alguém que possa ser considerado um especialista fazedor de café, e quando é o próprio a prepará-lo consegue poupar-se um
bocadinho de dinheiro. Perde-se tempo, mas….
No entanto, os estabelecimentos especializados em café (cafés, coffee shops, cafetarias, casas de chá, etc.) pululam desde sempre por aí! Andam de mão dada com questões como a necessidade de socialização das pessoas, entre outras não menos importantes. Nesses casos, encontram-se nesses estabelecimentos profissionais que fazem aquilo que qualquer um é perfeitamente capaz de fazer por si próprio e com a vantagem agregada de se pode poder fazer no conforto de casa.
Os preços variam de loja para loja e do profissional especialista que o está a fazer, das quantidades e da forma como se escolhe querer tomá-lo, em função do que a loja estipule em relação ao valor do tempo gasto na sua feitura e o custo com os recursos envolvidos que definirão o preço a pagar.
É essencialmente o mesmo produto que se faz em casa, mas está-se a pagar a alguém para o tirar bem da máquina com aquela espuma deliciosa, para o tirar pingado com leite, à italiana, meio cheio ou cheio, para lavar as chávenas, para vir com chávena aquecida, para servir o pastel que se decide comer enquanto o mesmo é bebido, e para ser levantada a mesa após o serviço.
Quando se quer que o café seja preparado segundo um determinado gosto particular, está-se a pagar a alguém para que o faça dessa forma específica. E se o mesmo sabe ou sai mal, pode-se sempre mandá-lo para trás para que o façam bem e de acordo com as expectativas. Portanto, nestes casos está já tomada a decisão de pagar aquele extra adicional para que alguém faça esse trabalho, e para se assegurar que se vai beber exactamente o café que se gosta de beber.
Porque é que se vai a um café em vez de o café ser feito em casa? Talvez porque simplesmente se goste da forma como um determinado estabelecimento nos faça o café. Talvez porque se gosta do ambiente do café onde se vai. Ou da simpatia no atendimento, ou por colocarem uma barrinha de chocolate com menta para acompanhar o café. Ou talvez porque, no fim de contas, seja mais conveniente ir a um estabelecimento do que andar a mexer com a máquina de café lá de casa. Ou talvez ainda o café onde se costuma ir tenha um novo tipo de café ou um pastel que ainda não tenha sido provado. Talvez eles tenham acesso a muito bons bolos. Quem sabe?
Pode-se sempre questionar se os estabelecimentos da cadeia Starbucks são mais baratos que o café das redondezas, onde se costuma tomar café? Ou se é servido um café mais um pastel a acompanhar, mais baratos que o seu café local? Não, simplesmente vai-se tomar o café aí porque se gosta. E pode gostar-se por variadíssimas razões que justifiquem essa tomada de decisão.
Moral da história:
As empresas dedicadas à comercialização de viagens, as mesmas que estavam sentenciadas de morte por muitos visionários, são, fazendo um paralelismo com a metáfora apresentada, os estabelecimentos que servem café da indústria das viagens. E os profissionais de viagens que nelas trabalham, especialistas e consultores com conhecimento técnico da matéria, são o equivalente aos baristas dos estabelecimentos de café.
Claro que as viagens que são preparadas e apresentadas ao consumidor poderão não ser sempre as mais baratas, e neste caso fazer as coisas em casa é sempre uma opção também. Mas se se está a pagar a alguém especializado para ouvir, guiar, pesquisar, aconselhar, construir à medida uma viagem como se de uma peça de roupa se tratasse, e reservar as viagens ou as férias, de modo a que obtenha aquilo que deseja e que procura, não será esta a solução ideal para os consumidores deste produto? Considerando que, para além disso, há sempre alguém que, embora na penumbra, acompanhará o consumidor desde o início até ao fim do consumo do produto, de modo a que tudo esteja feito para agradar e para que tudo resulte numa agradável surpresa, numa boa experiência para mais tarde recordar.
Não valerá isso aquele extra que se paga a mais, quando é mais, algumas das vezes? Eis a questão de fundo.
* O autor escreve segundo a antiga ortografia
Profissional de Turismo