Numa sociedade tantas vezes alienada de valores e afetos, onde tudo é de consumo rápido e banal, sem entrega, ainda faz sentido falar de amor – ou não faz sentido nenhum. – O Amor será sempre a poesia da nossa entidade.
Será sempre uma não questão. Todos procuramos e desejamos viver um grande amor.
Gostamos da exigência do amor, do crescimento e evolução que ele nos permite, mas… estaremos nós preparados e organizados emocionalmente para aceitarmos o outro sem colocarmos em risco a nossa própria individualidade e liberdade?
Vale sempre a pena viver um grande amor, não só pelo que nos dá, mas sobretudo, pela possibilidade de sermos com o outro. Reinventamo-nos nesse amor.
A história está repleta de grandes amores, mesmo em tempos mais conturbados como os que vivemos hoje.
Não há amores ausentes – Ainda somos todas as tardes que já vivemos
Gostavas da chegada do outono. Dos ventos suaves e cheiro a terra. Das aves que pousavam no nosso alpendre.
Talvez ainda gostes, mesmo quando me dizes que os dias não trazem nada de novo. Estendo para ti a minha vontade de te abraçar. Atiçar a tua memória e atravessar contigo, a clareira dos dias, um a um e alimentá-los da nossa chuva quente que emergia do nosso amor, quando tudo nos saciava. O sabor dos nossos lábios a mordiscar maçãs. As nervuras das mãos atiçadas em desalinho pelo corpo. Eram esses dias alimento abençoado e demónios adormecidos. Éramos nós sem penumbras.
Quando me dizes que emudeceram os sentidos e tudo está longe, encontro-me a segurar-te o rosto, trespasso os teus olhos e procuro o caminho da tua memória – a memória dos dois. Onde a perdeste? permaneço nela? em que mar deixaste de navegar? – e os teus dedos trémulos tateiam os meus como se ainda os conhecesses.
O teu olhar, sempre o teu olhar debruçado no meu como se quisesses percorrer aquele mar tão nosso, tão intenso. Tantas vezes te falo dele… e embalo-te como se fosses a onda mais dócil…
Ainda que a tua memória esteja dormente continuarei a encher-te o regaço de rosas. Amarelas como gostas.
Há nestes dias soalheiros, uma alegria que toma conta de nós. As glicínias emanam um aroma doce que invade o nosso alpendre – o lugar onde o entardecer nos abraçava. A música ainda soa e sorriem os teus olhos aos primeiros acordes, “Stand By Me”… encaminho os teus passos numa dança só nossa – um enlaçamento perpétuo.
“Stand by me
When the night has come
And the land is dark
And the Moon is the only light we’ll see
No, I won’t be afraid
Just as long as you stand, stand by me…”
Ainda somos todas as tardes que já vivemos e continuaremos a viver.
Sobrevivo, tantas vezes à deriva, destes momentos de silêncio que me estreitam a garganta e do teu olhar terno, sem horizonte. São breves os lampejos no teu olhar e no teu corpo… mas é neles que me seguro e tenho a certeza de que todas as rosas que plantámos não murcharam.
Ainda é a tua presença que me aquece os dias. Persisto que ela permaneça na quietude das palavras que te sussurro – Stand by me…
Professora e Escritora