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Terça-feira, Setembro 17, 2024

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Sónia Aguiar
Sónia Aguiar
Advogada/Mestre em Direito

Eu faço parte de um grupo do Whatsapp, aberto exclusivamente a mulheres. Lá, nós temos a liberdade de abordar, sem filtros, todos os temas que fazem parte do universo feminino. Naturalmente que algumas mulheres são mais interventivas do que outras. Eu leio mais do que aquilo que partilho (há vida para viver) mas, uma delas (a M.) intervém durante todo o dia, todos os dias, muitas vezes ao dia…

Certo ocasião, partilhou connosco que tinha encontrado emprego, em “part-time”, nos exatos moldes que pretendia. A M. estava extasiada de alegria e nós, alegramo-nos com ela.

Mesmo tendo começado a trabalhar, continuava a torrente forte de partilhas. Excelente. Até ao dia em que desapareceu. Nem mais uma palavra. Nem um chá do sumiço bem feito poderia sumir assim com a mulher.
Imediatamente, começamos a procurá-la, a telefonar, a mandar mensagens, mas, do outro lado, só silêncio.

Os dias foram passando e nós apercebemo-nos que, não obstante o convívio franco entre todas, a verdade é que, se acontecesse algo a alguma de nós, as outras ficavam impotentes para ajudar. Resolvemos que todas partilhariam e as outras registariam um contacto de alguém próximo para o caso de ser necessário.

À data em que escrevo, dez dias após o desaparecimento da plataforma, ela continua desaparecida e não temos como saber se estamos apenas perante uma pausa sabática das redes sociais ou se aconteceu algo mais do que isso. Esperamos pelo melhor, claro.

Dois ou três dias após o sumiço da M. li, num jornal, uma crónica onde se fazia a apologia da internet e das plataformas de comunicação no combate ao isolamento. Fiquei a pensar naquilo. Por qualquer razão que não sei explicar, fiquei incomodada.

Olhei para a minha realidade. Pessoalmente, envio e recebo centenas de mensagens diariamente. Entre e-mails, WhatsApp, Messenger e SMS, tanto por razões pessoais como profissionais, eu comunico com muita gente. As mensagens têm  vantagem em relação às chamadas telefónicas: tudo é dito de forma mais breve, concisa e rápida. Uma mensagem e está dito, está feito, registado e segue.

De repente, uma ideia travessa surgiu para desassossegar: “e que tal fazer o teste? Será que a internet e as plataformas de comunicação combatem mesmo o isolamento ou apenas fingem que o fazem, criando uma ilusão”?
Se bem o pensei, melhor o fiz. Entrei em modo “off de grid”, “off line” ou, simplesmente, ”off”.
Sem aviso, deixei de comunicar. Silêncio….

O facto de poder pousar o aparelho eletrónico a que chamamos smartphone sem constantemente estar a olhar para o ecrã por causa das notificações foi, por assim dizer, libertador.
Passou-se um dia e eu mantive-me em silêncio. Veio o segundo dia. Passou a manhã. Só a meio do segundo dia, por volta da hora de almoço, uma alma se lembrou de dizer “bom dia”. Respondi, obviamente e mantive-me em modo “radio silent” com todos meus contactos, com exceção daquele.

Não vou discorrer aqui acerca das lições e ilações que tirei desta experiência, pois teríamos matéria para escrever um tratado sobre assunto. Aliás, na minha opinião pessoal, este tema merecia um estudo, uma tese de mestrado ou doutoramento, talvez.

Escusado será dizer que as coisas não voltaram à sua velha forma, nem poderiam, pois, há certas verdades que, uma vez expostas, são impossíveis de ignorar.
Posso, contudo, dizer que há uma distância gritante entre virtualidade e realidade. Nem tudo é o que parece, nem tudo parece o que é.

Lembro-me de, ao meditar sobre a experiência, lembrar-me de alguns dos gurus do coaching (cujos nomes não vou indicar) mas que, em podcasts e outras plataformas, não se cansam de defender o silêncio como forma de auto valorização. De facto, a ignorância é muito atrevida. Pelo silêncio, alguns testam e outros desvalorizam-se.

Aos meus leitores, deixo o desafio: se tiverem o estofo necessário e ousarem saber quem é quem, façam este exercício de desapego eletrónico. Isto eu prometo: surpresas não vão faltar!



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