O Comité Nobel da Noruega atribui anualmente cinco prémios para, a nível mundial, galardoar organizações ou pessoas com o “Prémio Nobel” por se terem destacado em alguma destas seis áreas: a da Física, da Química, da Economia, da Medicina, da Literatura e da Paz.
Este último prémio acabou de ser anunciado no passado dia 10 de Outubro, e será entregue a María Corina Machado, engenheira venezuelana, professora e activista política que fez (e faz) oposição aos governos de Hugo Chávez e de Maduro, desde há mais de 20 anos. A razão do prémio foi justificada com as seguintes palavras: “Pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela, e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
Até ao último momento especulou-se sobre a possível atribuição de tal galardão a Donald Trump. Embora num recente discurso ele afirmasse merecê-lo mas “não o querer receber”, percebeu-se que era um modo de dizer “venha ele rapidamente, pois não há ninguém no mundo que mereça o Nobel da Paz mais do que eu”.
Na verdade não merece… e jamais o merecerá se for levado em linha de conta o testamento de Alfred Nobel onde há uma descrição clara do candidato ideal para o galardão da Paz: “… a pessoa [ou instituição] que mais, ou melhor, tenha contribuído para fomentar a irmandade entre as nações, a abolição ou redução dos exércitos permanentes e o estabelecimento e a promoção de congressos de Paz”.
Ora, esta descrição choca frontalmente com atitudes, discursos e acções de Trump. Ainda recentemente ele disse publicamente: “odeio os meus inimigos”.
Mesmo assim – sabendo-se do seu passado pouco exemplar como homem de negócios e como pessoa, do seu presente político e humano (isto é: “desumano”) e a suposta previsão do que ele é genuinamente capaz de fazer no futuro, de acordo com o que tem feito, comandado pela sua profunda e doentia vaidade já largamente demonstrada – o seu nome foi proposto e figurava entre as 338 nomeações para o Prémio Nobel da Paz, sendo 244 individualidades e 94 organizações.
Os entendidos nesta matéria nunca acreditaram ser possível que Trump ganhasse o Nobel da Paz porque as previsões à volta do seu nome apontavam para uns 3% de probabilidades, contrastando com outros candidatos, como “Médicos Sem Fronteiras” (13%) e Yulia Navalnaya, viúva do opositor ao governo russo, Alexei Navalny, assassinado na prisão pelo regime de Putin, em Fevereiro de 2024 (9%).
Trump tudo fez para receber o Nobel da Paz, com o qual o seu inchadíssimo umbigo explodiria em feéricas constelações de luz e estalinhos alegremente sonoros. Se tal acontecesse, para mim (e para um enorme número de pessoas e instituições) seria o descrédito total e o fim da reputação do Comité Nobel da Paz. Os esforços de Donald Trump para almejar tal distinção começaram com a possibilidade por si alvitrada de terminar com a guerra na Ucrânia (à qual poria cobro em dois dias se fosse eleito…) mas o ditador Putin não ajudou nada… pior ainda, serviu-se da vaidade pavoneante e estupidez sem freio de Trump, para o enganar em cada conversa telefónica e em cada encontro.
Quando, finalmente, Trump acordou e viu que Putin lhe contava “historinhas” de embalar, tomando-o pelo parvo que realmente é (todos os vaidosos são parvos), abandonou a opção A e adoptou a opção B, virando-se para Israel. Depois de ter apoiado Netanyahu na aniquilação do povo palestino num acto genocida, animado pelo sonho de tomar Gaza e fazer dinheiro em quantidades milionárias na construção da “Riviera do Médio Oriente”, decidiu “virar o bico ao prego” e encontrou na ideia da “Paz de Gaza” (que nunca será conseguida porque judeus e árabes não querem viver em concórdia) um trunfo a juntar às “sete guerras” que diz ter conseguido parar… mas que a realidade não confirma totalmente.
Por essa via esperava conseguir o Nobel da Paz… e deve ter pensado que o presidente Obama não é um ser humano com melhores qualidades do que as que ele imagina ter! Barack Obama ganhou o Prémio Nobel da Paz em Outubro de 2009 “pelos seus esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre povos”.
Em favor de Obama lembro que, quando das cerimónias fúnebres de Nelson Mandela, num estádio de futebol em Joanesburgo, Obama dirigiu-se à bancada onde se sentavam vários chefes de governos mundiais, tendo cumprimentado efusivamente Raúl Castro, presidente de Cuba, com cujo país os EUA andavam de “candeias às avessas” desde que Fidel Castro destituiu o presidente Fulgêncio Baptista em 1959.
Este acto de humildade e elevação que Barack Obama teve com Raúl Castro, jamais seria protagonizado por Trump (que quando chegou à Casa Branca cortou as relações comerciais e congelou conversações de aproximação que Obama mantinha com Cuba). Também por isso Obama mereceu o Nobel… e Trump não o merece.
Ao contrário de promover a paz, Trump promove o conflito a vários níveis, tanto económicos como sociais, em todo o mundo. Cobra taxas a seu belo prazer, quer apoderar-se da Gronelândia, quer fazer do Canadá o 51º estado americano, quer apoderar-se do Canal do Panamá, e mudou o nome do Golfo do México para Golfo da América!… (Mudança que só se usa nos EUA. Em todo o mundo o golfo continua a ser do México).
Trump nunca foi, não é e nunca será, um Homem de Paz. Ele persegue os seus opositores políticos e, sem vergonha, fez a Casa Branca emitir um comunicado onde se diz que Trump queria ganhar o Nobel e acusa o comité de “colocar política acima da Paz”… quando a política de Trump é fomentar a desordem e o mal estar, como se comprova com o envio de tropas para prender imigrantes em estados onde o partido republicano perdeu para os democratas, alegando que “a criminalidade está fora de controle na região”, escondendo a sua verdadeira razão, que é lançar o caos em estados que não votaram maioritariamente em si.
Um homem de conflitos, que promove a guerra e a discórdia, que tem no Nobel da Paz o seu sonho… mas que, para todo o mundo, tal animal não passa de um pesadelo!…

Jornalista/Cartunista