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Domingo, Dezembro 8, 2024

Manuel Pinto de Azevedo Jr

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Onofre Varela
Onofre Varela
Jornalista/Cartunista

O Primeiro de Janeiro era, dos jornais diários editados no Porto (por ordem de antiguidade: os matutinos O Comércio do Porto [CP], O Primeiro de Janeiro [PJ] e Jornal de Notícias [JN], mais o vespertino Diário do Norte) o de mais prestígio e que apresentava melhor qualidade de impressão e de conteúdo. A sua secção de política internacional, na página dois, era sempre ilustrada com um cartune de origem inglesa.

O PJ era, também, o periódico que publicava mais séries de Banda Desenhada (BD) variada, incluindo a produzida nos estúdios Walt Disney. Qualquer filme da Disney (fosse de figura real ou desenho animado) estreado nos cinemas, logo a seguir tinha a sua publicação em versão de BD, a cores, publicada por episódios semanais no suplemento de Domingo.

Para além das produções dos Estúdios Disney, o PJ publicava outras histórias de BD em vários dias da semana… estou a lembrar-me de “Dom Lucas & Dona Perliquitetes”, de Chic Young, “O Coração de Julieta”, de Stan Drake, “O Reizinho”, de Otto Soglow”, o “Príncipe Valente”, de Harold Foster e a “Cara Metade”, de Don Tobin, mais “O Corisco”, também de Walt Disney, e o “Zé do Boné” de Reg Smythe que tinha publicação regular nos jornais tablóides britânicos Daily Mirror e Sunday Mirror, desde 1957.


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“A Cara Metade”
dom lucas e dona pertilitetes
“Dom Lucas § Dona Perliquitetes”
O Reizinho scaled
“O Reizinho”


O CP publicava a tira diária “Ferdinando”, do cartunista Mik (diminutivo do nome do seu criador, Mikkelsen, desenhador dinamarquês que começou a desenhá-lo em 1937 e em 1946 mudou-se para os Estados Unidos da América onde faleceu em 1982).

O JN inseria (no tempo em que eu era jovem tenrinho) em rodapé da última página, a tira diária “X-9 o Agente Secreto”, de Alex Raymond, e no canto inferior-direito da página três, “O Optimista” cujo autor não consigo encontrar. Para além disso publicava o “Mandrake”, de Lee Falk, “O Santo”, escrito por Leslie Charteris e desenhado por Mike Roy, primeiro, e por John Spranger depois (o personagem retratava Roger Moore, o actor que deu vida à série televisiva do detective Simon Templar, de cujas iniciais saiu o nome The Saint); “Dr. Kilder”, produzido pela Dell Comics, editora norte-americana que contava com 23 desenhadores de BD) e “Eddie”, desenhado por S. Vallvé e que retratava o actor francês Eddie Constantine como protagonista de uma série policial onde era detective. Tinha ainda “O Sr. Simplício” (ou “Cândido”) desenhado pelo espanhol Mena, e a “Lola”, uma mulher fatal desenhada por Iñigo. Tudo isto para além do cartunista Miranda.

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Onofre Varela, com os seus desenhos debaixo do braço, entra em “O Primeiro de Janeiro”


Manuel Pinto de Azevedo Jr. proprietário e director do PJ era um homem cordial. Não precisava do jornal para viver porque o seu principal negócio era a Indústria Têxtil herdada do pai, com fábricas no Porto, na Areosa e em Matosinhos (uma das suas principais fábricas situava-se nos terrenos onde foi construído o Centro Comercial Norte Shopping de Matosinhos.

A sua cordialidade permitiu a fuga a um dos seus tipógrafos, comunista, para não ser preso pela PIDE. Contava-se que, mercê do bom relacionamento mantido com as várias autoridades do Estado Novo, um dia Manuel Pinto de Azevedo recebeu um telefonema avisando que agentes da PIDE estavam a caminho do jornal para prenderem o “tipógrafo comunista”. De imediato, levou o seu funcionário tipógrafo para os confins do edifício do jornal, que ia da rua de Santa Catarina até à rua da Alegria, permitindo-lhe a fuga para que os agentes da polícia política não o encontrassem.

De uma outra vez a coisa foi mais grave, originando um “castigo” que obrigou ao encerramento do jornal por dois ou três dias. Uma notícia de primeira página, com o título “Contas Gerais do Estado” saiu com uma gralha. À palavra “Contas” faltava a letra T !… Agentes da PIDE interrogaram os tipógrafos responsáveis pela primeira página, mas não obtiveram respostas concretas. Ninguém sabia, ninguém fez e ninguém leu… o encerramento temporário do jornal foi um aviso para que se tomasse mais cuidado na revisão das provas tipográficas.

Manuel Pinto de Azevedo foi o homem que me abriu as portas do Palácio da Informação da rua de Santa Catarina. Em 1969 escrevi-lhe a propor-me para colaborador… e ele aceitou a minha colaboração!

Obrigado, Manuel Pinto de Azevedo Jr.

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