Percorrer os quase 30 quilómetros entre o Porto e Melres, em Gondomar, pela Estrada Nacional (EN) 108, ajuda a perceber como os incêndios mudaram as rotinas, sendo que com a Autoestrada 43 fechada desde segunda-feira, esta era mesmo a única forma, pela margem norte do rio Douro, de ir do Porto ao extremo do concelho vizinho.
Sucessivamente cortada ao longo da manhã devido ao avançar das chamas, assim que a EN 108 foi reaberta, pelas 13:15, percebeu-se que só se podia ir em frente, pois em cada desvio à esquerda, para o centro do concelho estava uma brigada da GNR a cortar esse acesso.
Os fogos em Jovim e em Branzelo tornavam impossível circular nas freguesias do alto concelho e, para quem seguia a pé, as autoridades recomendavam o uso de máscara por causa das cinzas em suspensão e do muito fumo, que num dia de intenso calor não deixavam, pelas 14:00, ver o sol.
A chegada do incêndio manhã cedo à mata anexa ao Clube de Caçadores de Gondomar, em Jovim, deixou em alvoroço os moradores das mais de 100 casas da Quinta das Luzes, explicou à Lusa Miguel Raimundo.
“Estivemos a combater o fogo com baldes e recorrendo à água da cisterna, entre as 09:00 e o meio-dia. Não havia bombeiros. Foi uma aflição”, continuou o morador que, tal como a esposa, Susana Fonseca, abdicaram de trabalhar para defender a sua casa.
Nesse período, acrescentou Susana, “o vento soprava muita forte e cada fagulha que caía no chão imediatamente pegava fogo”.
Ainda um Jovim, segundo o presidente da União de Freguesias de Gondomar, António Braz, o incêndio “atingiu uma oficina e, pelo menos, seis carros terão ardido”.
Noutra freguesia, na Foz do Sousa, um estabelecimento comercial, a “Tasca da Tita”, trocou o festejo do quinto aniversário pelo auxílio aos bombeiros que estavam no combate às chamas.
À Lusa, a responsável do estabelecimento, Patrícia Pinto explicou que a ideia de apoiar “surgiu durante a madrugada quando se aperceberam das dificuldades que os bombeiros estavam a enfrentar no combate às chamas em Gens”.
E se na publicação no Facebook ofereciam refeições aos bombeiros, depressa a responsável percebeu que a realidade superava tudo menos a boa vontade, adaptando-se “à falta de tempo dos bombeiros para comer uma refeição com a oferta de lanches”.
“Vamos preparar algumas dezenas”, garantiu Patrícia Pinto.
Em Melres, a junta de freguesia tem reservado o salão paroquial e o centro de convívio locais para receber “várias dezenas de pessoas” caso seja necessário, contou o presidente da União de Freguesias de Medas e Melres, José Paiva.
“Esta manhã tivemos de retirar uma idosa acamada de uma casa cujo fogo se estava a aproximar, mas até ver não houve mais ocorrências”, acrescentou.
Hoje, às 13:30, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) registava 127 ocorrências, envolvendo mais de 5.400 operacionais, apoiados por 1.700 meios terrestres e 25 meios aéreos.
A Proteção Civil estima que arderam pelo menos 10 mil hectares na Área Metropolitana do Porto e na região de Aveiro.
Desde domingo, as chamas chegaram aos distritos do Porto, em Gondomar, de Braga, em Cabeceiras de Basto, de Vila Real, em Vila Pouca de Aguiar e Chaves, de Viseu, em Penalva do Castelo e Nelas (com seis feridos), e de Castelo Branco, em Louriçal do Campo. Mas foi o distrito de Aveiro, com 10 mil hectares já ardidos, o centro dos maiores focos de incêndio, em Oliveira de Azeméis, Sever do Vouga, Albergaria-a-Velha e Águeda.
OC/ Jorge Fonseca/Lusa