Sabia o que queria ser desde criança!
Sonhava salvar todos os animaizinhos do mundo.
Desafiei-me a mim própria a conquistar e esse objetivo. Após 6 longos anos de curso, tornei-me médica veterinária.
“Boa, já cá estou…vou começar a salvar vidas.”
Acredito que é o que todos nós pensamos quando começamos a trabalhar na área. Mas a verdade é que ninguém está preparado para a montanha russa diária que é ser médico veterinário.
Afinal salvar vidas é difícil e frustrante.
Vamos ler a história de três dos meus pacientes, cujos nomes são fictícios, pelas razões que entendem:
- O “Kiko” é um gato com 10 anos, deixou de comer há uma semana, agora começou a vomitar e está muito “amarelinho” …
Fui descobrindo que o meu trabalho não é só perceber o que se passa com o Kiko, mas também ouvir as queixas da dona Alice, que tem a casa em obras porque o filho mais velho decidiu divorciar-se da “galdéria” da nora e trazer as trouxas de novo para casa da mãe. Estranho coincidir com o iniciou da doença do Kiko. Não concorda Dona Alice?
O Kiko tem lipidose hepática.
A dona Alice continua o desabafo e pergunta se não posso dar uma injeção ao Kiko para ele parar de vomitar. Agora está sem dinheiro para ajudar o gatinho porque está a arcar com os gastos lá em casa;
- A “Mia” é uma bulldog azul de olhos verdes, tem 10 meses e está com vómitos, diarreias e não quer comer. O senhor Vítor garantiu-me que foi buscá-la ao melhor criador do país, era a mais bonita da ninhada, fazia ver aos outros irmãos. Foi a mais cara! Era uma prenda para a Rita, na altura namorada. Como foi sempre uma relação complicada, as vacinas ficaram esquecidas e o tempo foi passando.
A Mia tem parvovirose.
O senhor Vítor está desempregado, está a pagar um psicólogo para o ajudar com a separação e não consegue pagar os cuidados que a Mia precisa;
- A “Branquinha” é uma gatinha de 3meses, que foi adotada recentemente na feira semanal da terra da dona Vitória. A Dona Vitória fazia 92 anos e os filhos ofereceram-lhe a branquinha para fazer companhia a ela e ao “Nico”, um gato idoso que nunca saiu de casa. Ficaram imediatamente amigos, até dormiam juntos e partilhavam a mesma caixa de areia.
A branquinha tinha espirros ocasionais e secreções que a dona Vitória ia limpando cuidadosamente com soro fisiológico. A branquinha está bem e a ficar gordinha, mas o Nico esta mais parado, não quer comer e agora também tem espirros e parece muito quente, talvez tenha febre.
A dona Vitória foi internada no hospital, antes de conseguir levar o Nico ao veterinário.
O Nico piorou e agora está com vómitos, diarreias e muito fraco.
O Nico tem calicivirose sistémica.
Os filhos da dona Vitória estão a ter muitos gastos com a mãe no hospital e nenhum deles consegue tratar no Nico.
Não só acabamos por ler a história do “kiko”, da “Mia” e do “Nico”, mas também da dona Alice, do senhor Vítor, da dona Vitória e dos seus filhos.
Qualquer um dos tutores entra no consultório com as melhores das intenções. Sentam-se para conversar. Querem tentar ajudar os seus animais. Encontram atalhos para explicar como tudo aconteceu, querem soluções rápidas e eficazes.
E não queremos todos?
Quando falei em montanha-russa, estava a criar uma analogia ao facto de diariamente sermos desafiados a tratar de animais cuja voz sai da boca do seu cuidador. Cuidador esse que encontra em nós um refúgio, um colete salva-vidas e na maioria das vezes também um saco de boxe.
Porque é que ninguém nos preparou para ser algum desses três?
Queria deixar apenas esta pequena introdução satirizada, tentando agarrar-vos, leitores, para mais escritas.
Estou preparada para falar de muito mais, esclarecer dúvidas, desmistificar mitos e ajudar em mais temas relacionados com os nossos animais de companhia!
Nota do editor: Hoje dia 4 de outubro celebra-se o Dia do Médico Veterinário e o Dia Mundial do Animal.

Médica Veterinária