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Quinta-feira, Outubro 30, 2025

Cemitérios: lugares de encontros – Por Victor Carvalho

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Poderá, à primeira vista, parecer estranho este título, mas é sentido, já realizei alguns e em vários cemitérios e confesso que aprendi bastante.

Podemos ir a um cemitério para um funeral, para visitar os nossos “entes queridos”, colocar flores, fazer manutenção às campas. O Cemitério é um lugar de respeito, e já vi e ouvi muitas coisas nesses locais.

Campas bem cuidadas, outras nem tanto e outras abandonadas. Por terem passado tantos anos sem manutenção, as campas, especialmente, nas de mármore branco são mais visíveis a falta de cuidados, de higiene e tratamento dos mármores. Os privados, donos das respetivas campas e descendestes dos familiares enterrados, são os responsáveis pela situação de conservação de cada campa. O zelo e manutenção dos espaços comuns são da competência da respetiva junta de freguesia.

Os familiares, amigos e outros que encontramos nesses locais podem entabular uma conversação mais ou menos demorada. “Olha, não sabia que fulano tinha falecido”,” era boa pessoa”, certamente já aconteceu a alguém uma conversa similar. Querendo, até podemos conversar com desconhecidos, nem que seja no “encontro” a ir buscar o regador ou o balde de água para se realizar a limpeza de uma campa.

Conversa puxa conversa e tanto se pode falar, com o padre que realizou o funeral, ou o que fez o casamento do defunto, etc…

Nesses locais, já tive conversas de política, de religião e de cidadania…

Este foi umas vira casacas, mudou de partido, aquele era muito religioso … Sei, de quem, já teve de intervir perante quem trabalhava na construção de uma campa e tinham conversas inapropriadas de defuntos de outros cemitérios em obras que já haviam feito, teve de dizer aos operários que o vocabulário que estavam a utilizar não era adequado e não devia ser pronunciado nesse local, assim exigiu o familiar da campa em construção.

Há dias tive uma longa conversa com um empresário/fotógrafo, que acompanhado da sua irmã, (vim a saber que era irmã no decorrer da conversa), pois só os conheci nesse dia, e que prestavam homenagem ao pai falecido recentemente. Eles sentiam muito a morte do pai e estavam a acender as velas, chovia copiosamente, o filho pisou a terra, pois esta tinha abatido um pouco. Fiquei impressionado, pela positiva, pelas conversas tidas. É um homem de convicções e aconselhando, às tantas dizia, “quando dialogar com um padre, fale verdade e com convicção”. Estava triste com o padre da freguesia, pois o seu pai fora um católico muito devoto, mais do que ele, que fora seminarista. A minha companheira, ainda lhe disse, foi pena ter desistido, ao que ele, prontamente, retorquiu e mostrando uma foto da carteira que havia retirado do seu bolso, com as fotografias dos seus filhos. Sabe, valeu a pena ter desistido, senão não tinha estes lindos filhos.

Pede para que a sua Fé não se desmorone (o pai havia falecido no dia do seu aniversário), desabafou, o meu pai era Ministro da Comunhão durante muitos anos, sentiu-se descriminado pelo Padre que privilegiava os Ministros da Comunhão Doutores, (leia-se licenciados, Drº). Curioso, na mesma freguesia, já havia conhecido outra pessoa a queixar-se do mesmo assunto.

Pela sua profissão de fotógrafo, ele faz imensos batizados, comunhões, eventos empresariais, não só na cidade onde trabalha, como na sua região e, como tal conhece muitos padres de ginjeira.

Aproveitou para tecer considerações sobre vários padres e alguns são figuras públicas mais destacadas, mencionou um desaguisado que teve com um sacerdote acerca de um casamento. Uma vez, na sua experiência profissional, o padre vira-se para ele, em pleno altar, e diz, “então Sr. Fotógrafo, o casamento está atrasado”, ele retorquiu “já falo consigo”, enquanto se encaminhou para o exterior da igreja na expectativa do padre vir falar com ele. Foi diplomata, não quis discutir com o padre no interior da Igreja e cá fora disse-lhe, ”Quem me contrata são os noivos”. “Eu e a minha equipa chegámos antes da hora marcada, a parte ecuménica é consigo”. Não aceitou ser bode expiatório do atraso do casamento e ele nada tinha a ver com a situação.

Muitos locais, “sui generis”, de encontros e conversas improváveis podem revelar muitas informações sobre os mais variados assuntos

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