Apesar de todas as dificuldades que as casas regionais enfrentam, José Manuel Couto quis deixar bem claro o seguinte: “Estava consciente dos muitos problemas que iria encontrar pela frente quando decidi candidatar-me à presidência das Casa das Beiras, mas neste momento posso dizer que a minha equipa está coesa e determinada. O nosso principal objectivo é dar mais vida à casa e dinamizar a importância do regionalismo. Nos tempos que correm bem sei que é um desafio hercúleo, mas como bons beirões que somos, não nos rendemos à inoperância. Acreditamos numa sociedade mais humanista e é isso que nos move para continuar aqui”.
Neste momento, as casas dos concelhos de Vila Velha de Rodão, Penedono e de Aguiar da Beira, a Comissão de melhoramentos da Povoação de Gondufo, a Associação dos Antigos Estudantes da Guarda, as Ligas dos Amigos de Alvoco da Serra e da freguesia de Alcafozes, juntamente com a Casa da Associação Académica de Coimbra em Lisboa, estão sediadas no edifício da Casa das Beiras. É ali que fazem as suas reuniões e organizam as actividades.
O Passado
Na primeira metade do século XX as casas regionais em Lisboa, tiveram uma importância fulcral na resistência ao Estado Novo e na implementação da democracia em Portugal. Havia na baixa de Lisboa muitas casas regionais, onde as pessoas que tinham imigrado para a capital à procura de novas oportunidades e melhores condições de vida, se encontravam para matar as saudades gastronómicas, culturais e recreativas dos seus concelhos.
“Eram tempos bem diferentes dos que vivemos hoje. Agora quem é de longe e vive em Lisboa, pode ir todos os fins de semana às suas terras de origem, pois existem estradas e uma rede de transportes públicos que permitem isso. É verdade que o associativismo em Portugal está a passar por momentos agonizantes, mas isso não invalida que todos nós deixemos de acreditar e lutar por um mundo melhor!”, afirmou a O Cidadão, José Manuel Couto.
Mais de 100 anos de vida
O Grémio Beirão fundado a 1 de Maio de 1915, em Lisboa, por uma elite Beirã dessa época, em representação de três concelhos – Vouzela, S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades. Mas em 1933, esse Grémio dá lugar à Casa das Beiras que assume um estatuto diferente no mapa das casas regionais, representando nessa altura uma província. Uma província que pretendia afirmar-se na capital e, ao mesmo tempo, chamar a atenção da instaurada República, para as grandes carências que as Beiras sofriam.
Nessa época as Beiras e outras regiões do interior de Portugal confrontavam-se com muitas dificuldades. E o fascismo fustigava as populações, atirando-as para um miserabilismo inenarrável. Mas hoje a desertificação e o envelhecimento das populações do interior exigem uma atenção redobrada.
As casas regionais em Lisboa são consideradas associações porque estatutariamente têm uma massa associativa e quadros dirigentes que não usufruem de salários. E são apelidadas de regionalistas porque representam uma região na cidade de Lisboa. São recreativas, porque um dos seus principais objectivos é promover acções lúdicas para os seus associados. E por último também podem ser encaradas como casas de solidariedade, pois não são lucrativas e ao longo da sua existência sempre cuidaram dos mais necessitados.
“Presentemente a Casa das Beiras está a investir na recuperação do edifício para oferecer melhores condições a todas as outras associações que têm aqui a sua sede e também para podermos ajudar as pessoas mais necessitadas que nos procuram. A solidariedade é um dos pilares sagrados da nossa existência!”, esclareceu José Couto.
Com mais de um século de existência, a Casa das Beiras tem tido nos últimos anos uma vida bastante atribulada. “As grandes transformações sociais e o alheamento das novas gerações pelo regionalismo e o associativismo explicam isso mesmo essas dificuldades. Mas não é só isso. A falta de recursos financeiros e os parcos apoios que recebemos do Governo Central e das próprias autarquias fazem com que muitas casas regionais tenham fechado as suas portas”, clarifica o presidente da Casa das Beiras.
Na defesa do regionalismo
No dia 18 de Setembro, A Casa das Beiras foi convidada para a vice presidência da Associação das Casas Regionais de Lisboa (ACRL) e José Manuel Couto aceitou com base nestes pressupostos: “numa altura em que o regionalismo, o associativismo e o humanismo parece que estão a definhar, acho que a Casa das Beiras devia aceitar este novo desafio, pois podemos fazer com que as Casas Regionais de Lisboa passem a ser olhadas de outra forma pelo Governo e pelos municípios que são representados na capital”.
O associativismo tem vindo a esmorecer desde os finais do século XX. A nova era digital e as redes sociais, nomeadamente a internet criaram a ilusão de mais comunicação e participação, mas a verdade é que a massa associativa da Casa das Beiras (e de outras casas regionais!) comprova exactamente o contrário. Revelam alguma inércia.
E foi a pensar em romper essa inércia que José Manuel Couto convidou gente nova para dar mais vida a uma casa que faz parte da alma lisboeta, apesar de ter as suas raízes nas beiras.
“Quem pensar que é fácil dirigir uma instituição como a Casa das Beiras está bem enganado. Arranjam-se muitas inimizades e é necessário ter grande capacidade para suportar alguns críticos que só vivem disso. Mas quando se tem uma equipa coesa e com vontade de trabalhar em prol de uma região, consegue-se superar todas essas invejas!”, sublinhou José Manuel Couto.
Motivação
De momento a actual direcção está apostada na recuperação da casa. Estamos a falar de um investimento que ainda envolve muitos milhares de euros. “As obras que estamos a fazer na Casa das Beiras é a pensar no bom acolhimento dos associados e dos amigos que nos visitam. Sabemos que não é fácil as obras de uma só vez, mas nós estamos empenhados para conseguir esse objectivo”, refere o nosso interlocutor.
José Manuel Couto termina o seu mandato em Junho de 2025. Procuramos saber que é sua intenção voltar a candidatar-se ao cargo, mas a sua resposta foi esta: “Vamos ver o que se vai passar no semestre que ainda temos pela frente e se muitos dos actuais dirigentes também se encontrem motivados para continuar. Ainda é cedo para confirmar qualquer coisa”.
Com este trabalho, O Cidadão dá o pontapé de saída para acompanhar de perto o trabalho e as dificuldades que se sentem nas Casas Regionais de Lisboa. E a partir de hoje, prometemos ficar atentos a todas as actividades levadas a cabo pela Casa das Beiras ou pelos seus associados.
A defesa do regionalismo é cada vez mais importante, numa sociedade que vai esquecendo as suas raízes culturais, gastronómicas e etnográficas.
OC/JP/AJS
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