Os dados do censo nacional do lobo-ibérico, referentes ao período de 2019-2021 e publicados recentemente pelo ICNF, apontam para uma redução de 23% na área de presença confirmada da espécie e uma diminuição de 8% no número de alcateias em relação ao censo anterior, realizado em 2002/2003. A área habitada pelos lobos passou de cerca de 20.400 km² para 16.000 km² ao longo de duas décadas.
Apesar de algumas melhorias, como o aumento de 50% das alcateias no núcleo da Peneda-Gerês, os dados reforçam o agravamento da situação do lobo-ibérico em Portugal, classificado como “Em Perigo” no Livro Vermelho da Fauna e Flora de 2023. Em Espanha, a mesma subespécie está classificada como “Quase Ameaçada.”
A ANP|WWF considera insuficientes os esforços de conservação realizados pelos sucessivos Governos, destacando problemas como a fragmentação de habitat, perseguições diretas, escassez de presas, incêndios florestais e alterações climáticas. Para Catarina Grilo, Diretora de Conservação e Políticas da ANP|WWF, “esta situação torna-se ainda mais preocupante tendo em conta o panorama internacional e a mais recente resolução da Convenção de Berna, apoiada por Portugal, que determinou a diminuição do estatuto de proteção do lobo, colocando em causa décadas de esforços de conservação.”
A resolução da Convenção de Berna foi adotada em dezembro de 2024, permitindo abates “seletivos” em situações de conflito com populações rurais. A ANP|WWF lamenta a mudança de posição de Portugal, que inicialmente se opôs à proposta, mas acabou por apoiar a medida em setembro, durante uma reunião do Conselho da União Europeia. O Governo justificou a decisão afirmando que a legislação nacional de proteção do lobo-ibérico permaneceria inalterada.
No entanto, a ANP|WWF alerta para o impacto potencial desta decisão, argumentando que o atraso de um ano na publicação dos dados do censo pode ter sido uma tentativa de evitar influenciar as votações na União Europeia. “Proteger o lobo-ibérico não é apenas uma questão de conservar uma espécie. Trata-se de garantir a integridade dos nossos ecossistemas, promover a coexistência harmoniosa entre pessoas e a vida selvagem, e respeitar os compromissos internacionais de Portugal em relação à salvaguarda da biodiversidade”, afirmou Vasco da Silva, Coordenador de Florestas e Biodiversidade da ANP|WWF.
A organização apresentou uma lista de medidas urgentes ao Governo, incluindo: inviabilizar projetos de infraestruturas em territórios ocupados por alcateias; proibir caça em áreas de reprodução; melhorar os mecanismos de compensação para prejuízos causados por lobos; e prevenir incêndios florestais que afetam habitats da espécie.
A ANP|WWF apelou ainda à revisão do Plano de Ação para a Conservação do Lobo-Ibérico, sublinhando a necessidade de medidas mais ambiciosas para travar o declínio da espécie e assegurar a sua sobrevivência em território nacional.
OC/RPC