O Encerramento do Curso e o Caminho da Filosofia Política
A última sessão do curso iniciou-se com um tom de celebração e agradecimento. David Erlich, visivelmente emocionado, expressou a sua gratidão pelo envolvimento dos participantes, “É sempre um gosto e um prazer estar no âmbito cultural. Cada edição deste curso reforça a importância do pensamento crítico e do diálogo filosófico.” Antes de entrar no cerne da discussão, o professor recomendou leituras essenciais para quem deseja aprofundar-se na filosofia política, destacando obras de referência como “A República” de Platão, “O Leviatã” de Hobbes e “As Origens do Totalitarismo” de Hannah Arendt, entre muitos outros.
A Perspetiva de Hannah Arendt sobre o Totalitarismo
A primeira parte da sessão foi dedicada ao pensamento de Hannah Arendt, figura central na análise do totalitarismo. “O totalitarismo é algo novo. Não é apenas uma ditadura, não é apenas um regime autoritário, é um sistema que visa remodelar a própria natureza humana”, explicou David Erlich. A sua obra “As Origens do Totalitarismo” foi debatida, destacando as diferenças entre ditadura, tirania e regimes totalitários.
Arendt argumenta que o totalitarismo, como visto na Alemanha nazi e na União Soviética de Stalin, difere das ditaduras tradicionais pelo seu caráter absoluto. “No totalitarismo, todos estão sujeitos ao terror, independentemente das suas ações. É um sistema que não persegue apenas opositores políticos, mas transforma toda a sociedade num mecanismo de controlo absoluto”, acrescentou o professor.
A Democracia Direta de Rousseau e os Desafios Atuais
A sessão prosseguiu voltando mais uma vez à análise do pensamento de Jean-Jacques Rousseau e a sua visão da soberania popular. “Rousseau criticava a democracia representativa como a conhecemos hoje. Para ele, a soberania não pode ser delegada; deve ser exercida diretamente pelo povo”, explicou Erlich, lendo um dos trechos mais marcantes do “Contrato Social”:
“A soberania não pode ser representada pela mesma razão porque não pode ser alienada. Ela consiste, essencialmente, na vontade geral. E a vontade não se representa: ou é ela própria, ou é outra; não há meio-termo.”
Os participantes refletiram sobre a viabilidade da democracia direta no século XXI, considerando os avanços tecnológicos que poderiam facilitar a participação popular nas decisões políticas. “Imaginemos um sistema onde cada cidadão pudesse votar diretamente nas leis através de uma aplicação móvel. Seria uma atualização do modelo de Rousseau para os tempos modernos”, sugeriu o pedagogo.
O Papel da Filosofia Política no Mundo Contemporâneo
O curso terminou com uma reflexão sobre a relevância da filosofia política nos desafios atuais. “Se há algo que aprendemos ao longo destas sessões, é que a política não pode ser reduzida ao jogo eleitoral. É um campo de ideias, de debates e de construção de visões para o futuro”, afirmou David Erlich.
A discussão final centrou-se na necessidade de um pensamento crítico e informado. “Vivemos numa era de desinformação, onde as redes sociais moldam opiniões sem um verdadeiro debate. A filosofia política ensina-nos a questionar, a argumentar e a não aceitar respostas fáceis”, concluiu o professor.
O curso “A Pólis entre 10 Filósofos” encerrou-se com a entrega de diplomas, marcando o fim de uma jornada intelectual enriquecedora. Os participantes saíram com um entendimento mais profundo das ideias que moldaram a política e a sociedade, prontos para continuar a explorar e debater o pensamento filosófico.
OC/RPC
Editor Adjunto