“As pessoas que têm boas notas no ensino secundário, não têm, necessariamente, de ir para cursos de médias muito elevadas. As boas notas não são, não devem ser, algo que prenda. Antes pelo contrário, devem dar-nos a liberdade de escolhermos o curso de que, realmente, gostamos. E pode nem ser um curso universitário.”- referiu o jovem “caloiro” de Biologia
Por deferência da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto – departamento de biologia – aí encontrámos Miguel Cruz. No laboratório, observou com aqueles “olhos com sede de aprender”, os animais dissecados e guardados nos frascos com formol. Muito interesse ou não seja o jovem maiato apaixonado pela zoologia.
A pergunta é inultrapassável. Quantos pessoas já te perguntaram por que não escolheste medicina, uma vez que conseguiste 20 valores no acesso à faculdade? Miguel, com uma maturidade superior à média dos jovens nos tenros 18 anos, não hesitou na resposta. Nem temeu dizer que chegou a ter dúvidas.
“Essa pergunta é recorrente; quando, às vezes, calha em conversa saberem as minhas notas e dizerem “então, com essa nota não vai para Medicina?” . Quando digo Biologia, torcem o nariz “isso tem boas saídas profissionais?”. Confesso que durante o “secundário” tive dúvidas, hesitei. Questionei alguma vezes a escolha que ia fazer. Mas optei, em primeiro lugar, por ignorar esses comentários – muitas vezes com o intuito de me ajudarem, claro! -Em segundo lugar, seguir a ideia que tenho há imenso tempo, desde o 2ºCiclo, e que é seguir o curso de Biologia.”
Dinossauros
Quem diria que estes velhos animais podiam, ainda hoje, ser a causa de opção por um curso universitário. Miguel adorava-os. E ainda adora, mas de outra forma. Chegou a pensar, nessa fase “jurássica”, ser paleontólogo, ou seja, estudar os fósseis.
“A opção biologia talvez tenha começado quando fiquei fascinado com os dinossauros; era uma coisa fantástica para mim. Naquela altura, queria ser paleontólogo”. Risos. “E tinha de explicar a toda a gente o que era isso. Eu adorava os dinossauros”
O amor manteve-se, mas a paixão moveu-se para outros domínios.
“Passei a interessar-me por outros seres vivos, não extintos. Atrai-me a enorme variedade de espécies, adaptadas a um certo meio. A particularidade de cada um. Todos são especiais e dão-me uma vontade enorme de saber mais sobre o tema.”
A Biologia abarca diversas especializações. O Miguel, apesar de ter a sua ideia mais ou menos definida, como qualquer pessoa inteligente, não fecha opções. Sabe que o curso ainda tem muito para lhe mostrar.
“Gosto muito da zoologia e da botânica. Mas sei que há muito mais a aprender na Biologia. Pode ser que encontre outras áreas tão fascinantes quanto estas. “
Estudar
Duas das caraterísticas do jovem estudante é a espontaneidade e frontalidade. Encara os temas sem receios e sem rodeios. E como tirar média de 20 não é para todos – na Universidade do Porto só há três pessoas (Biologia, Matemática e Direito), a nossa curiosidade aponta no sentido de sabermos como se chega lá…
“A minha professora primária costumava dizer que os meus olhos tinham sede de aprender. Sempre tive um grande prazer em saber mais, sou muito curioso e isso ajuda a ter boas notas. Se nos interessarmos pelas coisas, isso incentiva-nos a estudar. Sempre trabalhei muito desde a “Primária” e com boas notas. Habituei-me a estudar bastante. Só alterei a estratégia no 9ºano…”
O Miguel procura melhorar progressivamente. Estuda, questiona, duvida e altera o que for necessário para ultrapassar dificuldades.
“No 9º ano e a partir daí, deixar de estudar tanto. Porque concluí que mais importante do que estudar muito é saber estudar. Descobri a melhor forma, passei a conhecer-me melhor e saber em que período do dia obtinha melhor rendimento.”
Não gosta de estudar à noite…
“Prefiro estudar de dia e à noite descansar. Porque o descanso é essencial para o bom rendimento.”
E, aos fins-de-semana, é entre as 10h00 e as 19h00 que se dedica aos estudos. E com muitas pausas pelo meio.
“Eu não consigo estudar muito tempo seguido. Ao fim de uma hora de estudo, descanso 10 ou 15 minutos. E vou gerindo assim o tempo.”

Mitos
Às vezes, muitas vezes, encontramos alunos que obtém excelentes notas e dizem que não estudam muito. Justificam-se com a ida permanente às aulas e, nesses momentos, estarem sempre muito atentos. E as notas saltam como bolas de ténis. Miguel Cruz é pragmático e desfaz o mito.
“As pessoas que tiram sempre boas notas fazem um esforço para demonstrar aos outros que não estudam muito. Que o conseguem com um mínimo de esforço. Isso não é verdade! Para termo notas altas é obrigatório estudar muito!”
Cada estudante tem as suas formas de descansar e mudar ritmos. No caso do Miguel, é o ténis e a escalada que lhe ocupam o tempo livre. Mas também gosta de “perder-se” nos bosques com uma máquina fotográfica na mão.
Ler – e não só revistas de divulgação científica – é frequente na sua vida atual.
E viajar…
“Gosto muito de viajar, mas não tenho tido oportunidade de o fazer tanto quanto desejava. Mas quero viajar por diferentes países, europeus e não europeus, conhecer as cidades, principalmente a sua história e geografia. Há lugares tão interessante por todo o mundo que gostava de descobrir…”
E sair com os amigos, mas saber dizer “não” quando é necessário.
“Gosto de sair com os meus amigos, mas não posso quebrar determinadas regras pessoais se quero atingir objetivos. Se preciso de estudar, tenho de dizer, às vezes, “não” a certas saídas. E digo-lhes, depois de estudar eu vou lá ter.”
O que Miguel não gosta mesmo é de ambientes barulhentos e de fumo
“Não gosto nada desses ambientes noturnos. Prefiro algo mais tranquilo, algo mais relaxado”
E é assim que Miguel Cruz consegue atingir as metas propostas e tirar 20 no acesso à faculdade. Com inteligência, trabalho, determinação, método e foco no mais importante. E, claro, alimentando sempre a fome incessante de saber.
Fotos: João Dias

Jornalista