Caro leitor, se habitualmente lê as minhas crónicas, sabe que escrevo sobre temas relacionados com a educação financeira, que tão maltratada tem sido em Portugal, com consequências graves.
Hoje escrevo sob a forma de uma história, que é real!
O meu amigo “alemão” é português. Tem cerca de 60 anos de idade e ainda criança, saiu de Portugal, porque os seus pais emigraram para a Alemanha, à procura de melhores condições de vida.
Este meu amigo, já na Alemanha, concluiu a sua formação básica, ao nível do 9º ano e assim que lhe foi possível, começou a trabalhar, como operário fabril, numa empresa multinacional, com grande dimensão.
Hoje continua a colaborar na mesma empresa, já com alguma responsabilidade acrescida que resulta da sua experiência, mas continua a ser um empregado fabril.
Devido à morte do seu pai, deslocou-se de urgência a Portugal. Nessa altura, falámos sobre a necessidade de investimento em obras de melhoria na casa de seus pais, cá em Portugal, e sobre o custo financeiro, com alguma dimensão, que o mesmo obrigava.
Foi então que me deu nota que o património financeiro que iria herdar, era extramente importante nesta fase da sua vida financeira. Estranhei esta informação, porque estava convencido que teria amealhado uma poupança significativa ao longo da vida.
Não estava enganado! O constrangimento atual resultava do investimento financeiro que tinha efetuado. Para além de ter constituído um pequeno fundo sem risco para uma emergência, a grande maioria da sua poupança estava investida num fundo de investimento de ações, que após o período de início da Guerra na Ucrânia, estava bastante desvalorizado, e, portanto, não era o momento de fazer o seu resgate. Esperava, como com toda a certeza ocorreu, que a valorização voltaria a acontecer. Fez estas afirmações com a convicção de um especialista na matéria…
Fui completamente apanhado de surpresa… pelas opções que tomava para os seus investimentos financeiros, já há bastante tempo, mas sobretudo pela tranquilidade com que transmitia o facto de estar numa fase de desvalorização dos seus ativos…
Insisti, só para perceber melhor! Tens a poupança investida num Fundo de Investimento de Ações? E tens essa tranquilidade toda?
Explicou com toda a segurança que assim era, porque na empresa onde sempre trabalhou, com alguma frequência havia reuniões com os colaboradores, onde se abordavam temas relacionados com a educação financeira, que lhe permitia dominar os aspetos mais relevantes dos investimentos financeiros e também dos seus riscos.
Caro leitor, julgo que cada um de nós saberá quanto seria anormal esta história, se vivida por um “amigo português”, começando logo pela pouca capacidade de criar uma poupança, mas também por tudo o resto, que procurei transmitir. Dispenso-me de relatar episódios, também reais, alguns muito conhecidos, que os insucessos de alguns investimentos provocaram, por diversas causas, mas também por défice de literacia financeira…
Qual o impacto da educação financeira, no bem-estar dos colaboradores e no sistema organizacional de uma instituição? No envolvimento no trabalho? Na diminuição do stress financeiro, com consequências no absentismo e produtividade? Na retenção de talento e no reforço das lideranças? Ficará para desenvolvimento numa próxima crónica…
Economista Conselheiro e Consultor