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Terça-feira, Setembro 17, 2024

A Astrologia Sensitiva à luz do “Lapidário” de Alfonso X, O Sábio

Alfonso X, rei castelhano, conhecido como “O Sábio”, no seu “Lapidário”, revela uma busca incansável pela compreensão dos segredos do universo. Através da interligação entre astrologia e a classificação de seres naturais. Alfonso X oferece uma visão holística do cosmos, onde as influências astrais moldam não só os destinos individuais, mas também as características de todas as formas de vida. Um testemunho da riqueza do pensamento medieval que continua a inspirar até os dias de hoje.

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Sofia Estrela
Sofia Estrela
Astróloga Sensitiva

Alfonso X, nasceu em Toledo, no ano de 1221 e veio a falecer em Sevilha em 1284. Foi um monarca visionário e erudito que além das suas contribuições para a ciência e cultura, demonstrou um enorme interesse pela alquimia e pela busca da pedra filosofal, a lendária substância capaz de transformar metais comuns em ouro e conceder a imortalidade. Embora nunca tenha tido sucesso nessa demanda, tamanha dedicação reflete o seu espírito de investigador e um insaciável desejo de entender os segredos do universo. 

A obra que mais o distinguiu, trata-se de um tratado traduzido e compilado de documentos de origem árabe, conhecido como o “Lapidário” de Afonso X, em que contou com a ajuda de  Hyuda Fy de Mosse al-Coben Mosca, judeu, médico da corte afonsina e Garcí Pérez, clérigo conhecedor de astronomia. Mais que um tratado, nele podemos verificar a dialética existente entre os tratamentos médicos e holísticos nele propostos, e os princípios religiosos, cristãos, muçulmanos e judaicos, presentes no reino de Castela e Leão. 

“E o que são os Lapidários? Resumidamente, os lapidários são catálogos de pedras, quase sempre preciosas ou semipreciosas, às quais se atribuem poderes mágicos ou maravilhosos, virtudes de caráter terapêutico ou de utilidade prática”.  

Sendo a astrologia sensitiva, uma vertente da astrologia que se dedica ao estudo das influências astrais sobre as emoções, intuições e sensações humanas, parte do pressuposto de que os corpos celestes exercem uma influência direta sobre os seres vivos e, consequentemente, sobre os seus comportamentos e características individuais, esta abordagem torna-se particularmente interessante quando analisada à luz do “Lapidário” do rei castelhano, sobre a classificação e caraterísticas dos seres naturais, incluindo pedras preciosas e animais. 

Na obra, o monarca apresenta uma classificação dos seres com base em diversas características, incluindo a sua origem, propriedades físicas e supostas influências astrológicas. O tratado descreve como diferentes planetas e constelações podem conferir certas qualidades e características aos seres por eles regidos, sejam eles animais, minerais ou vegetais. Esta conceção está intimamente ligada à astrologia da época, que atribuía a cada astro do zodíaco determinadas características e influências sobre a personalidade e destino dos seres vivos. 

Por exemplo, Alfonso X descreve como o rubi, uma pedra preciosa, é associado ao sol e à constelação de Leão, conferindo-lhe propriedades de vitalidade, coragem e liderança. Da mesma forma, o diamante, associado a Vénus e à constelação de Touro, seria símbolo de amor, beleza e sensualidade. Esta associação entre as propriedades das pedras preciosas e as influências astrológicas reflete a crença da época na interligação entre o mundo terreno e o cosmos, onde cada elemento é regido por forças celestes. 

No que diz respeito aos animais, o ‘Lapidário’ também faz referência às influências astrológicas sobre as suas características e comportamentos. Por exemplo, o leão, regido pelo sol, é descrito como um animal nobre, corajoso e dominante, enquanto o carneiro, influenciado por Marte, é agressivo e impetuoso. Esta correlação entre os astros e os atributos dos animais reforça ainda mais a crença medieval na harmonia e interdependência entre todas as formas de vida e os corpos celestes que as governam. 

Além das pedras preciosas e dos animais, o ‘Lapidário’ também aborda a influência astrológica sobre as plantas e elementos da natureza. Alfonso X descreve como determinadas plantas são mais propícias a crescer e prosperar sob a influência de certos planetas e constelações, enquanto outras são mais suscetíveis a doenças e pragas quando sujeitas a determinadas configurações astrais. Esta visão holística da natureza como um sistema interligado e regido pelos astros é característica da cosmovisão medieval, que via no cosmos uma manifestação da vontade divina e na astrologia uma ferramenta para compreender e interpretar essa vontade. 

Em síntese, a astrologia sensitiva e a classificação dos seres no ‘Lapidário’ de Alfonso X, O Sábio, estão intimamente relacionadas através da conceção medieval de um universo ordenado e interdependente, onde as influências astrais moldam não apenas os destinos individuais, mas também as características e comportamentos de todas as formas de vida. Esta visão integrada da natureza como um reflexo do cosmos é um testemunho da complexidade e riqueza do pensamento medieval, que buscava compreender o mundo através da observação e interpretação dos fenómenos naturais e celestes. 

Alfonso X permanece assim uma figura emblemática, sendo o seu “Lapidário” um legado que transcende a sua época e nos continua a inspirar até os dias de hoje. 

Correio Astral: dra.sofiaestrela@gmail.com

 

 

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