Numa transação que reafirma o valor astronómico das equipas de Fórmula 1, Toto Wolff alienou 15% da sua participação pessoal na Mercedes-Benz Grand Prix por 300 milhões de dólares — o equivalente a 5% das ações totais da equipa. O comprador? George Kurtz, fundador da gigante tecnológica CrowdStrike, que passa agora a integrar o conselho estratégico da equipa de Brackley.
A venda é emblemática da trajetória notável de Torger Christian Wolff, o austríaco que transformou a Mercedes F1 na força mais dominante da história do desporto motorizado e consolidou a sua própria riqueza numa altura em que as equipas de Fórmula 1 atingem valorações sem precedentes.
Do Nürburgring aos escritórios de Wall Street
Toto Wolff nasceu em Viena, Áustria, em 12 de janeiro de 1972, numa família com raízes profundas no mundo dos negócios e da indústria. Aos 17 anos, descobriu a sua paixão pelo automobilismo quando um amigo o convidou para correr no lendário circuito do Nürburgring. Rapidamente, Wolff ascendeu nos campeonatos de monopostos, vencendo a sua categoria nas 24 Horas do Nürburgring em 1994 — um feito que o posicionaria como promessa do desporto motorizado.
Porém, após completar a sua formação em Economia na Universidade de Viena, Wolff optou por um caminho diferente. Aquando da explosão da “bolha tecnológica” dos anos 90, fundou a Marchfifteen, empresa de investimento que se concentrou em startups de internet. Quando a bolha rebentou, demonstrou a sua acuidade empresarial picotando para investimentos em empresas cotadas e entidades industriais consolidadas.
A entrada triunfal na Fórmula 1
Em 2009, Wolff adquiriu uma participação de 16% na equipa Williams. A passagem pela Williams foi breve mas transformadora — em 2012, conquistou a primeira vitória da equipa em oito anos. No entanto, o seu verdadeiro destino aguardava-o na Mercedes.
Em janeiro de 2013, o conselho de administração da Daimler AG pediu-lhe para avaliar o desempenho da sua equipa de F1. O relatório foi devastador: a Mercedes precisava de uma transformação radical. Wolff aceitou o desafio, tornando-se Director Executivo e adquirindo uma participação de 30% na Mercedes-Benz Grand Prix Ltd., ao lado da lenda Niki Lauda.
Uma era de supremacia sem paralelo
Aquilo que se seguiu foi uma das maiores dinastias na história do desporto. Entre 2014 e 2021, a Mercedes conquistou oito títulos consecutivos de Campeões do Mundo de Construtores — um feito nunca antes alcançado. Com doze títulos mundiais totais sob a sua liderança, Wolff posiciona-se entre os gestores de equipas mais bem-sucedidos de toda a história do automobilismo, ao lado de lendas como Ron Dennis, Frank Williams e Jean Todt.
Este sucesso extraordinário foi alimentado pela dupla dinâmica de Lewis Hamilton e Nico Rosberg nos primeiros anos, pela engenharia de topo mundial e pela capacidade única de Wolff de navegar a política corporativa enquanto mantinha a excelência desportiva. O seu segredo? Uma rara combinação de empatia para com os colaboradores, perfeccionismo implacável e decisão estratégica sem hesitação.
O estilo de liderança que mudou a Mercedes
Toto Wolff não é um gestor convencional. A sua experiência como piloto oferece-lhe uma compreensão profunda das dinâmicas desportivas que poucos chefes de equipa possuem. Simultaneamente, a sua formação em economia e as suas décadas em investimentos garantem que ele compreende os números, a estratégia corporativa e a viabilidade económica tão bem como qualquer executivo de Wall Street.
Sob a sua liderança, a Mercedes construiu uma cultura de elevado desempenho enraizada na inovação contínua. Wolff é conhecido por tolerar apenas a excelência — uma qualidade que o tornou tanto respeitado como temido dentro do paddock da F1. Contudo, os seus colaboradores também o descrevem como justo, acessível e genuinamente interessado no desenvolvimento pessoal da sua equipa.
Uma participação avaliada em 6 mil milhões de dólares
A venda recente de 5% da Mercedes F1 por 300 milhões de dólares oferece uma perspectiva fascinante sobre o valor actual da equipa. Se 5% vale 300 milhões, isso significa que a Mercedes-Benz Grand Prix está avaliada em aproximadamente 6 mil milhões de dólares — uma valorização espantosa que reflete o crescimento exponencial do valor das equipas de F1 nos últimos anos.
Para contextualizar: há apenas três anos, a Ineos adquiriu uma participação equivalente da Mercedes por 273 milhões de dólares. Num período de apenas 36 meses, a valorização foi de cerca de 10%. Quando Wolff entrou na Mercedes em 2013, a equipa era uma operação muito menos valiosa. O crescimento não apenas reflete o sucesso desportivo, mas também o apetite global crescente de magnatas tecnológicos pela Fórmula 1.
Um bilionário em ascensão
Em abril de 2023, a revista Forbes reconheceu oficialmente Toto Wolff como bilionário, um feito que se deve quase exclusivamente à sua participação na Mercedes. Aos 52 anos, Wolff representa uma rara fusão de homem de negócios, visionário desportivo e gestor estratégico de classe mundial.
Fora das pistas, Wolff está casado com Susie Wolff desde 2011. Susie é ela própria uma figura proeminente no automobilismo — foi piloto de teste da Williams, competiu em fins de semana de Grande Prémio e é actualmente Directora-Geral da F1 Academy, o programa de formação de pilotos exclusivamente dedicado a mulheres. Juntos, representam uma parceria que combina excelência desportiva com progressismo.
Wolff também foi nomeado Executive Fellow da Harvard Business School, onde leciona regularmente, partilhando os seus conhecimentos sobre liderança de elevado desempenho com futuras gerações de executivos.
O futuro de um império
A venda de 5% da Mercedes F1 não sinalizou qualquer desejo de Wolff se afastar. Ele permanece como Director Executivo e chefe de equipa da Mercedes, continuando a orquestrar as operações da equipa com a mesma mão firme que a transformou numa força dominante.
A entrada de George Kurtz, no entanto, adiciona uma dimensão interessante. Como fundador da CrowdStrike, uma empresa de cibersegurança avaliada em dez mil milhões de dólares, Kurtz traz expertise tecnológica e capital significativo para um mundo cada vez mais dependente da computação avançada, análise de dados e segurança digital. A sua presença no comité estratégico da Mercedes sugere que Wolff continua a modernizar e a adaptar a equipa para o futuro.
Conclusão: A lenda continua
Toto Wolff personifica a história moderna de sucesso desportivo e empresarial. Da sua paixão juvenil no Nürburgring à construção de um império de seis mil milhões de dólares, a sua trajetória é um testemunho ao poder da estratégia, determinação e liderança visionária. A venda de 300 milhões de dólares é não apenas uma transação financeira, mas uma declaração de que a Fórmula 1 chegou a um patamar de valorização onde até os bilionários tecnológicos competem por participações.
Enquanto o futuro da Fórmula 1 continua a evoluir — com novos construtores a entrar, regulamentos a transformarem-se e a tecnologia a reescrever as regras do jogo — uma coisa parece certa: o nome de Toto Wolff permanecerá inscrito na história do desporto motorizado como um dos seus maiores arquitetos.
Fontes consultadas:
• Mercedes-AMG Petronas F1 Team (Comunicado Oficial)
• BBC Sport
• Sky Sports F1
• ESPN
• CNBC
• Reuters
• Associated Press (AP)
• CrowdStrike Communications
Repórter






