Tudo começou quando o meu pai, “doente” pelo Benfica, “escoltou” o seu clube do coração, a Montemor-o-Novo, onde iria defrontar o clube local, num jogo para a Taça de Portugal. Um amigo, inteirou-o sobre os atributos e as peculiaridades da minha mãe, e assim entabularam as primeiras correspondências, até ao dia em que deram o laço matrimonial na igreja de Fátima. Passados dois anos, nasci eu!
Em 1962, com apenas dois anos de idade, recebi a minha caderneta de sócio do SLB, com o nº 62.612. Como o meu pai, tinha uma relação muito estreita com alguns dos dirigentes do clube, tive a ventura de coexistir com os notáveis jogadores da altura.
Como naquele tempo os jogadores jogavam por amor à camisola, após as partidas juntavam-se todos para cearem juntos. Na altura, os principais clubes eram o Benfica e o Sporting e eu ainda criança, via-me rodeado por vermelho e verde, em grande comunhão. Foi num desses convívios que bebi a minha primeira cerveja. Adivinhem oferecida por quem?…O grande Eusébio! E acompanhei com o seu marisco preferido, um prato de tremoços.
Um dia mais tarde, perguntei à “pantera negra”:
– Eusébio, como se marca um penalty?
Resposta dele:
– Com muita força! Se a bola for chutada com força, o guarda-redes não consegue ver para que lado ela vai. Pode por sorte, lançar-se para o lado certo, mas não por total convicção. Quero informar que aquelas bolas eram muito pesadas (catchumbo) e pior ficavam, quando chovia…
O Eusébio era uma dor da cabeça para as defesas e marcava muitos golos, mas na minha crença e convicção, o Coluna foi o maior jogador de sempre do Benfica.
Os anos foram transitando e a música passou a ocupar o meu coração.
Quando vim residir para o Porto, há trinta e nove anos, passei a seguir os jogos do Benfica pela rádio e sozinho. Em 1991, organizei o “Cinquentenário do Coliseu do Porto”, e fui convidado para ser diretor artístico da mítica sala do Porto.
Num desses domingos, estava eu a tratar de assuntos de produção e ouço GOOOOLO! Várias vozes se escutaram…
Fiz uma pesquisa rápida e dos vinte e três colaboradores do coliseu, dezoito eram do Benfica. Dezoito? Eu já sabia que em Braga haviam muitos benfiquistas, mas no Porto (?)…Sinceramente, fiquei muito admirado.
Um dia, recebo um telefonema do José Cid, a convidar-me para atuar com ele, na inauguração do novo estádio do SLB. Foi uma terça muito fria e chuvosa, mas não deixei de visionar o céu, pois seria uma grande alegria para o meu querido pai, poder ter assistido.
Há cerca de cinco anos, recebo um telefonema do Jorge Fernando:
– Ferro! Continuas no Porto? A maior parte dos músicos nascidos no Porto vieram trabalhar para Lisboa e tu vais para o Porto? Bem, mas o meu telefonema não é para falar dos músicos de Lisboa ou do Porto, é só para te lembrar do Hino do Sporting.
– Hino do Sporting ? – Retorqui eu.
– Sim, eu fiz a música e a letra e tu fizeste os arranjos musicais!
– O quê? Hino do Sporting? Não me lembro nada…Se o Chico da Fontesanta fosse vivo, era de certo deserdado e excomungado…
– Ora ouve! https://www.youtube.com/watch?v=Tz0NfhwGy1I
Há seis anos, casei (pela sexta vez) e vim vier para a Afurada, em Gaia. Avisaram logo que era uma das terras com mais adeptos portistas. Na rotunda de Chãs a “Casa Portista” e mais abaixo, perto do rio, a “Casa F.C. Porto Dragões da Afurada”, são fiéis presenciadores do que acabo de advertir . Constatei que o “Café Rolas”, era o único local onde param os escassos benfiquistas. Tem sido lá que tenho assistido aos jogos do meu clube, até descobrir a “Casa do Benfica” de Gaia. Situada no Piso 0, do Centro Comercial Aviadores, na Rua Marquês Sá da Bandeira, é um espaço amplo com oito plasmas e um serviço de snack-bar muito apelativo, principalmente pelos preços baixos praticados. Curiosamente, é a primeira vez que estou a contar a minha história com o SLB.
Se o meu pai não tivesse acompanhado o Benfica no jogo da Taça de Portugal a Montemor-o-Novo, não estaria a testemunhar convosco a minha ligação ao gloriosos SLB.
Músico/Colaborador