Em declarações ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a chefe de Estado afirmou que “os georgianos estão a lutar dia e noite, mas a Europa tem sido lenta a acordar e a reagir” para a crise social e política que a Geórgia vive e que se agravou no fim de novembro com a decisão do Governo, liderado pelo partido Sonho Georgiano, de suspender as negociações de adesão à União Europeia, desencadeando manifestações diárias, que têm sido reprimidas com violência.
“A Europa não tem correspondido e ficou a meio caminho. Muito mais pode e deve ser feito. Estamos à espera que medidas eficazes venham de Bruxelas e Washington e esperamos que não tenha de acontecer uma crise mais grave para que isso aconteça”, declarou Salome Zurabishvili perante os eurodeputados.
Os georgianos, acrescentou, precisam que a União Europeia (UE) “apoie o apelo para novas eleições, como a única solução pacífica” para a crise e pressione para a libertação das “centenas de detidos” nas manifestações.
“Os georgianos não vão parar até que a Geórgia tenha eleições livres e justas porque é a única forma política e democrática para sair desta situação”, afirmou.
Na sua intervenção, a Presidente afirmou que as eleições legislativas realizadas em outubro foram manipuladas, não reconhecendo esse resultado, e denunciou a deriva pró-russa do Governo georgiano.
“Ou vamos para eleições ou vamos para qualquer sítio que não conhecemos, mas será uma crise com que os países da UE terão de lidar em condições muito piores”, advertiu.
Salome Zurabishvili recordou que a União Europeia é o maior doador da Geórgia, o principal mercado e o mais importante destino da diáspora, e deve usar essa vantagem.
A Presidente assinalou que “está muito mais em causa do que só a democracia da Geórgia e escolhas políticas”, nomeadamente “a credibilidade da Europa”, a segurança do Mar Negro ou o futuro da Arménia.
“A Geórgia é parte da luta global que a Rússia está a combater e está a testar-nos. Se a Geórgia cair nas mãos russas, os riscos são muito elevados”, avisou.
Salome Zurabishvili deixou uma pergunta aos eurodeputados: “Se a Rússia perdeu a Síria, não conseguiu impor-se na Ucrânia, falhou impor-se na Moldova, espero que falhe na Roménia, vai ganhar na Geórgia?”.
No seu discurso, denunciou que todas as instituições democráticas estão subjugadas ao partido no poder e que, depois das legislativas, o país tem assistido a “uma deriva russa acelerada”, com ameaças de abolição dos partidos da oposição e detenções dos seus líderes.
Apontou ilegalidades no processo eleitoral de outubro, nomeadamente na universalidade – de um milhão de georgianos na diáspora apenas 34 mil votaram -, e a confidencialidade, com falhas de segurança no voto eletrónico.
“Apresentei queixas no Tribunal Constitucional, bem como os partidos opositores, com a esperança de que talvez alguns juízes percebessem que era uma forma de sair da crise e permitir um caminho constitucional para novas eleições, mas sem sucesso”, disse, referindo que avançou para o Tribunal de Justiça da UE.
“Queremos explorar todos os caminhos legais para encontrar uma solução política para esta crise muito profunda”, disse.
A suspensão das negociações com a UE – “que nem estavam a decorrer” – foi vista pela Presidente como “uma declaração de guerra” por um governo “que não tem mandato para tal” – a Constituição georgiana estipula que as instituições devem facilitar a integração europeia.
Os milhares que se manifestam, dia e noite, há 21 dias formam um “movimento pacífico”, disse a Presidente, recusando a ideia de que o país esteja “a caminho de um confronto civil”.
“Não há duas partes na Geórgia: há o povo, de um lado, e o aparelho repressivo do outro”, sustentou.
Salome Zurabishvili recordou que dentro de uma semana perderá a sua segurança e está sujeita “a todo o tipo de ameaças” após a eleição de um novo Presidente que é o antigo futebolista Mikhail Kavelashvili, leal ao Governo, escolhido pela primeira vez por voto indireto.
Presidente da Geórgia quer novas eleições e “medidas eficazes” da União Europeia contra o governo
A Presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, garantiu hoje que os georgianos vão continuar a exigir novas eleições legislativas “livres e justas”, e pediu à União Europeia “medidas eficazes” contra o partido pró-russo no poder.