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Terça-feira, Novembro 5, 2024

Fernando Poeta – “A poesia é uma forma de abrigo e o melhor remédio para as maleitas que nos afectam!”.

Sobre as virtualidades da poesia, no passado dia 20 de Outubro, José Paulo Santos escreveu o seguinte em O Cidadão: “Se olharmos bem, a poesia é o equivalente artístico de uma cadeira sem assento. Tu olhas e pensas: “Bonita, mas como é que eu uso isso?” E aí reside a genialidade dela. A poesia não se deixa domesticar. Tenta transformá-la em algo prático e verás que ela escapa por entre os dedos, como areia no vento, ou como a paciência ao tentar explicar a poesia ao teu patrão.”

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Está lançado o desafio para falarmos de poesia, numa sociedade louca, onde as pessoas não têm tempo nem para cuidar do seu corpo e muito menos da alma ou do espírito.

Esta entrevista com Fernando Poeta (José Rodrigues), 37 anos, natural de Janeiro de Cima, concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, acontece antes do lançamento do seu livro de poemas intitulado “A quinta essência”. Uma conversa que nos faz pensar na poesia como “um nutriente indispensável para a nossa sanidade mental.”

Em tempos catastróficos como estes que estamos a viver, onde vem à tona as guerras, a ganância, a violência, o desprezo pelos mais velhos, o aumento da violência doméstica e o aumento do ódio entre os homens é bom que se fale da importância da poesia como um antidepressivo social!”, afiança Fernando Poeta.

E o poeta beirão não se fica por aqui. “O melhor antídoto para combater o stress quotidiano e a angústia que vai dentro de nós é a poesia. A poesia tem a capacidade milagrosa de nos curar das maleitas pós-modernas”.

Sobre os enigmas da poesia, Fernando apenas nos disse o seguinte: “A poesia meu caro José é a melhor poção mágica que eu conheço para terminar com o sofrimento que vai dentro de nós!”.

Será mesmo? Pergunto eu ao entrevistado. “Não tenho dúvidas sobre essa matéria. Quando nós estamos sem rumo para a nossa vida. Perdidos. À deriva ou à beira do precipício, a poesia é uma forma de abrigo e o melhor remédio para as maleitas que nos afectam!”.

Fernando Poeta 3
“Não consigo viver sem a poesia!”
Foto de JOSÉ PEIXE

E chegou o momento de trazer à prosa um poema do nosso entrevistado, que nos fala da “saudade do que não vivemos” e sobre a vida:


É tanto da vida

É tanto da vida
Que nós desperdiçamos!
Dos sentimentos, uma espécie de despedida…
E tantas as vezes, que mudamos planos…

Temos esquecido de viver!
Umas vezes por medo, outras sem vontade…
Nada ganhamos, tal é o medo de perder!
No final vem a saudade!

Saudade do que não vivemos,
Mas que tanto queríamos ter vivido!
Mesmo com adversidades, lutemos pelo que queremos…
Ou viver, deixa de fazer sentido.

A escrever poesia desde os 13 anos

Fernando Poeta pertence a uma geração marcada pela música RAP, que significa nada mais nada menos, do que música ritmada e poesia. Ou seja, alguns cantores misturam ritmos intensos com rimas poéticas, integrando um contexto social, cultural e político. Um género musical que marca a história da música dos finais do século XX.
“Eu adorava a música RAP porque percebi nitidamente que os rappers conseguiam casar a música com a poesia, fazendo críticas profundas à classe política ou avançando com lutas sociais de grande envergadura e que fazem parte da história da humanidade. É caso para dizer sem pieguices que a poesia ao aceitar o casamento com a música, transforma-se também ela numa revolução!”, diz-nos o Poeta sem hesitações e com um sorriso no rosto.

Desde criança que Fernando adorava ler poesia. Mas começou a escrever poemas quando tinha 13 anos. E motivado pelo sofrimento da perda do seu pai, quando ele tinha apenas 10 anos. “A poesia foi a forma que eu encontrei para aliviar as dores do desaparecimento do meu pai. Funcionou como um porto de abrigo seguro que me protegeu de um furacão que desabou sobre mim. Percebi que quando eu procurava desabafar sobre a dor que tinha dentro de mim, ninguém me dava ouvidos. Foi a poesia que curou as minhas dores e angústias. Foi ela que me fez despertar para a vida outra vez.”

“Mas a poesia tem que ser sentida. Na sociedade de consumo onde vivemos à velocidade da luz, escrever poesia poderá funcionar como um refúgio!”, afirma.

Um poeta olha o mundo com o coração

Esclarecendo que não escreve fantasias, o nosso entrevistado quis deixar bem claro o seguinte: “Todos os poemas que eu escrevo assentam nas minhas vivências. Nos meus desejos e nas minhas revoltas. Escrever poesia é um exorcismo da alma. As pessoas olham-me com estranheza. Mas depois de descobrirem os meus poemas dão-me os parabéns e questionam porque não me dou a conhecer mais.”

E vem à conversa o seu novo livro “A quinta essência” que brevemente será impresso. “Essa obra é uma viagem guiada ao meu interior. É um despir total da minha alma. São poemas intensos, profundos e sentidos. Quem ler a obra vai acabar por descobrir a minha essência na totalidade. Mas também tenho alguns poemas que são críticas fortes ao sistema político e á sociedade consumista.”

Fernando Poeta 4
Fernando Poeta dedica-se de corpo e alma à Casa das Beiras e à poesia
Foto de LEONOR PORTIJO

Sobre os problemas que enfermam a sociedade pós-moderna e nos apoquentam, Fernando Poeta diz que: “O Mundo é como um quadro enorme que está à nossa frente: para o podermos ver na totalidade temos que recuar de modo a podermos observar com minúcia.”

E avança com o exemplo da obra Guernica da autoria de Pablo Picasso e que se encontra no Museu da Rainha Dona Sofia, em Madrid. “Se quisermos compreender bem o que está na Guernica, não podemos observar de perto. Temos que recuar o mais que pudermos. E só assim podemos fazer uma leitura mais adequada dessa magnífica obra de Picasso.”

Fernando Poeta 2
Fernando diz ao repórter de O Cidadão que está de acordo,  “a poesia não se deixa domesticar!”.
Foto de LEONOR PORTIJO

Fernando Poeta está dedicado de corpo e alma à Casa das Beiras em Lisboa. “Temos muito trabalho e vários projectos para desenvolver em torno do regionalismo e do associativismo. Aceitei o desafio de modo a honrar os meus antepassados e os fundadores desta casa nobre. Uma casa que projecta os valores beirões em pleno coração de Lisboa.”
Terminamos esta entrevista com um poema angelical:

Anjos

Por vezes somos anjos,
De alguém.., em alguma situação!
Nessas almas, fazemos os arranjos..
Somos anjos de proteção!

Nesta vida nada é ao acaso,
Tudo é obra do destino.
Com qualquer pessoa, com qualquer caso…
O universo, os anjos, nos coloca no caminho!

São simples comuns mortais,
Mas cheios de divinas capacidades.
É isso que os torna seres especiais,
Aparecem sempre nas adversidades!

Seja para uma palavra dar,
Seja para um abraço sentido…
Mesmo sem asas, conseguem nos reconfortar,
São os anjos, porto de abrigo!

O autor escreve segundo as normas do antigo Acordo Ortográfico



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