O Futebol Clube do Porto (FC Porto) e a Câmara de Vila Nova de Gaia formalizaram, esta quinta-feira, um protocolo de colaboração que permitirá aos “dragões” construírem o novo Centro de Alto Rendimento (CAR), na freguesia de Olival, junto do Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia, que ali funciona há mais de duas décadas.
A nova infra-estrutura será construída num terreno de 31 hectares, adquirido recentemente pela SAD portista por cerca de quatro milhões de euros, sendo que a obra vai implicar um investimento global estimado entre 30 a 35 milhões de euros, financiado com capitais próprios do clube, recorrendo a receitas geradas por instrumentos financeiros.

“A história entre o FC Porto e o Município de Gaia mistura-se de forma natural e contínua. Gaia é hoje um dos centros nacionais com o maior número de associados e adeptos do clube, e deu-nos alguns dos nossos dirigentes e gloriosos atletas em várias modalidades“, afirmou André Villas-Boas, presidente do FC Porto, durante a cerimónia.
O propósito da nova infraestrutura é centralizar e reforçar a articulação entre o futebol profissional e a formação, de forma a garantir condições adequadas ao crescimento desportivo e humano dos atletas, em linha com os padrões exigidos no futebol de alto rendimento, segundo afirmou.
“Hoje, as exigências do futebol profissional pedem-nos outras respostas e mais investimento em novas equipas, na criação de melhores condições de treino e performance. Unir profissionais e formação é essencial para criar uma identidade forte e projetos com cultura do Porto“, destacou.
O presidente do FCPorto revelou também que a escritura pública de aquisição dos terrenos foi realizada sem recurso a financiamento externo, o que considerou revelador do “trabalho de excelência” feito nos últimos 12 meses na recuperação financeira do clube e da sua credibilidade junto da banca.
Villas-Boas realçou ainda o papel da autarquia gaiense, que irá garantir apoio logístico, urbanístico e paisagístico, destacando ainda a cedência de parte da área envolvente à câmara para a criação de zonas de lazer e bem-estar para a população.
“A Câmara Municipal de Gaia tem sido essencial em todo o apoio técnico, desde o planeamento ao urbanismo. Este protocolo marca o início de uma colaboração estreita. Naturalmente, agora seguiremos para as etapas seguintes: o licenciamento, os movimentos de terra e a execução do novo centro de rendimento“, explicou Villas-Boas.
O Centro de Alto Rendimento, projetado por Silva Garcia, incluirá campos de treino, estruturas de alojamento, áreas administrativas, auditórios e outras valências.
Por seu turno, o presidente demissionário da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, classificou a assinatura do protocolo como um “ponto de chegada“, sublinhando que a autarquia não financiará a obra, mas garantirá o seu enquadramento institucional e técnico.
“O município apoiará em tudo o que for possível, mas não tem disponibilidade para financiar a obra. Não faria sentido pagarmos uma infra-estrutura destas. Mas faz todo o sentido apoiar institucionalmente, nomeadamente através da isenção de taxas e da requalificação de todo o espaço envolvente e das acessibilidades“, afirmou o autarca, considerando o projeto uma oportunidade para melhorar os acessos precários ao atual centro de treinos e à futura academia.
Villas-Boas exige “resposta firme” da FPF após suspeições levantadas por rivais
À margem da assinatura de um protocolo com a Câmara de Vila Nova de Gaia, o presidente do FC Porto defendeu que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) deve dar uma “resposta firme” face às recentes suspeições e críticas que surgiram, sobretudo após a final da Taça de Portugal.
“Acho que chegou a altura de o presidente da FPF dar um murro na mesa, porque estamos perante graves suspeições levantadas“, afirmou André Villas-Boas.
O dirigente portista criticou as declarações do presidente do Benfica, Rui Costa, sobre arbitragem, depois da final da Taça de Portugal diante do Sporting, considerando-as geradoras de um “ambiente tóxico“.
“As frases [de Rui Costa], que não sei a quem as dirige, são graves e levantam várias suspeitas sobre o futebol português. Eu não tenho feito outra coisa se não avisar tanto o presidente da Liga como o presidente da Federação que todo este clima não revela nada de bom“, acrescentou.
Villas-Boas também criticou as recentes declarações do presidente do Sporting, Frederico Varandas, sobre o Conselho de Arbitragem, classificando-as como “lamentáveis“.
“As declarações de ataque a árbitros e ao Conselho de Arbitragem por parte do presidente do Sporting também são lamentáveis. Continua a atacar árbitros, um em particular, que curiosamente errou a favor da sua equipa. Toda esta liberdade que o líder do Sporting tem deixa-me desapontado com a forma inerte que o Conselho de Disciplina e a Federação assistem a todo este carnaval“, disse o presidente do FC Porto.
Sobre a possibilidade de diálogo entre os principais clubes, André Villas-Boas mostrou-se pouco otimista, apontando para a falta de liderança e para o clima de crispação que se vive entre os dirigentes dos chamados ‘três grandes‘.
“O futebol português está ‘podre’. As instituições não colaboram, os grandes clubes não se sentam à mesa, há um conflito claro entre o presidente da Liga e o presidente da Federação. Todos falam em união, mas nada acontece de facto“, notou.
O dirigente defendeu também mudanças estruturais, nomeadamente na centralização dos direitos televisivos, advertindo que a sua aplicação terá de considerar a realidade económica dos clubes.
“A centralização poderá beneficiar os clubes mais pequenos, mas é evidente que os três grandes representam a maioria do mercado e não querem perder receitas. Ainda assim, podem contribuir de outras formas“, analisou Villas-Boas.
Questionado sobre o modelo competitivo, defendeu alterações, incluindo a remoção da Taça da Liga, e apelou a uma reflexão séria sobre a sustentabilidade do atual formato, referindo jogos com fraca assistência e a necessidade de rever deslocações e calendário.
“O futebol português não pode continuar com jogos com 500 pessoas nas bancadas. É preciso reavaliar o modelo. Defendi ontem (quarta-feira) a remoção da Taça da Liga, que perdeu interesse“, afirmou.
O líder dos ‘dragões’ defendeu a importância de uma liderança institucional forte, capaz de colocar fim ao que classificou como “impasse prolongado” na gestão do futebol nacional, considerando que a ausência de medidas concretas por parte da FPF e Liga contribui para o descrédito do setor junto de adeptos e patrocinadores.
“Não é com almoços de cortesia nem com discursos formais sobre união que vamos resolver os problemas estruturais do futebol português. Precisamos de liderança efetiva, decisões concretas e responsabilização. Estar à espera de relatórios e estudos durante 90 dias é adiar o inevitável“, observou.
Interrogado sobre o papel dos clubes neste contexto, Villas-Boas afirmou que as agremiações devem assumir a sua quota de responsabilidade e abandonar posturas que considerou “sobranceiras e hipócritas“.
“Os clubes têm de demonstrar maturidade ética e institucional. O atual clima de crispação entre os três grandes é alimentado por discursos divisionistas e atitudes contraditórias. Assim, torna-se impossível alcançar qualquer tipo de entendimento duradouro“, afirmou.
OC/MP
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Jornalista free-lancer