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Sábado, Abril 19, 2025

Amei-te sem o saberes…

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Amei-te sem o saberes…
Numa manhã de primavera acordei sem saber o que o futuro me reservava. Passei o dia naquele alpendre a mirar o rio, a ver as aves a postarem nos ramos, a sentir a leve brisa e o cheiro a alfazema do campo vizinho…
Nunca julguei reencontrar o amor, o afeto e o carinho há muito esquecido e perdido…
Foi nessa hora que paraste o carro mesmo à minha frente, dirigiste-te a mim e perguntaste:
– Onde fica a Quinta do Choupal?
Fiquei gélida e eletrificada quando te vi … um Homem alto, magro, robusto, elegante, delicado e muito mas mesmo muito bonito… que roucamente respondi:
– É mesmo aqui ao lado.
Pensei por instantes, quem é este Homem e o que faz aqui, neste dia e hora no meio do nada…
Resolvi acompanhá-lo até à porta da Quinta do Choupal e chamar a D. Antónia e o Sr. João, os donos da Quinta, ambos já com idade avançada…
E, para meu espanto, quando abriram o portão ficaram tão atónitos e desmedidamente contentes que gritaram:
– Oh José, meu filho há quanto tempo… que rica surpresa!!! Porque não avisaste que vinhas? Estás tão bonito, mas magrinho… vamos, entra, entra!
José respondeu:
– Quis fazer-vos uma surpresa. Espero que não seja incómodo ou transtorno na vossa pasmaceira da vida de campo…
E, rapidamente, o Pai João respondeu-lhe:
– Continuas um graçola destemido. Claro que és bem-vindo e queremos que saibas que aqui é o teu lugar… Já sei que vais dizer que gostas dos arranha-céus e da confusão e que isto e aquilo, que aqui é só tédio e silêncio…
José disse-lhe:
– Não Pai, estou a ficar cansado daquela correria, da vida que levo… tenho saudades daqui, do tempo vivido sem medos e receios, sem pressão e pressas, dos amigos e principalmente dos meus queridos Pais…
Fiquei perplexa e emocionalmente comovida pelas palavras trocadas e sentimentos nunca revelados e vistos há muito tempo por estas bandas.
– Desculpa Maria, nem te vi. Fiquei entusiasmada ao ver o nosso José… Entra e toma um chá connosco, disse-me a D. Antónia.
Não sabia o que dizer e fazer… e foi quando José respondeu prontamente:
– Vem, toma um chá connosco!
Acedi com a cabeça.
Não sabia o que dizer nem fazer. Nunca tinha ficado naquele estado. Parece que um relâmpago entrou no meu corpo e alma e ideletrou aquele Homem que estava mesmo ali à minha frente. Nunca pensei que um dia voltaria a sentir borboletas na barriga e voltar a olhar profundamente alguém eletrificada e vidrada…
A chávena abanava e ouvia-se o seu bater no pires, face a tremura da minha mão descontrolada e trémula…
– Estás nervosa? Queres um biscoito? disse-me José.
Respondi, baixinho como se me faltasse a voz:
– Obrigada pelo cuidado, mas estou bem!
Desviava o olhar de José, pois o olhar dele era tão penetrante e intenso que me incomodava e me descontrolava acessamente…
Decidi ir-me embora para me recompor no meu abrigo e poiso, longe daquele insólito episódio, nunca outrora visto ou imaginado nos meus perversos sonhos…
No dia seguinte, bateram-me à porta. Quem será, pensei. Ao abrir, deparei-me com aquilo que temia, o José.
A partir daquele momento, os nossos olhares trocaram-se tão, intensa e profundamente, que nunca mais se largaram desde aquele momento até aos dias de hoje.. já lá vão uns largos pares de anos…
Agora, juntos no alpendre e enroscados numa manta, miramos com saudade o dia em que tudo aconteceu e começou…
O Amor bateu-me à porta sem pedir permissão… sem saber amei, logo no primeiro segundo, amei sem o saber e saberes…
O que o Amor faz e nos torna… Não tem idade…
Amar-te-ei para sempre, dissemos e prometemos um ao outro…
Até ao final dos nossos dias… este, um Amor incondicional!
Rosa Maria Aranha

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