Cerca de 500 estudantes de várias instituições de ensino do Porto apanharam esta segunda-feira milhares de pontas de cigarro das ruas da baixa, numa ação para sensibilizar para os impactos do tabaco na saúde e no ambiente.
Na Praça General Humberto Delgado já se preparam as estruturas para as típicas luzes de Natal e a árvore já se encontra praticamente montada, mas esta segunda-feira o motivo que justificava haver uma multidão reunida em frente à Câmara do Porto era diferente: vários alunos aceitaram o desafio de recolher pontas de cigarro lançado pela Polícia Municipal e pela Federação Académica do Porto (FAP) para assinalar o Dia Mundial do Não Fumador.
Faltavam poucos minutos para as 15h quando os alunos, divididos por grupos e já munidos de luvas e sacos de plásticos, dispersaram por várias ruas da baixa.
É a terceira vez que David Maia, que frequenta a licenciatura em Imagem Médica e Radioterapia, participa nesta iniciativa e desta vez vai a guiar um grupo de praxe composto por vários cursos da Escola Superior de Saúde.
“Acho que isto permite não só passarmos um bocado de tempo juntos, como faculdade e como estudantes, mas também mostrar que temos de fazer este tipo de atividades para sensibilizar a população, para manter a nossa cidade o mais limpa possível”, justifica.
Pela Rua dos Clérigos acima, são muitas as beatas que vão sendo apanhadas das entradas de algumas lojas, das bermas dos passeios, e presas entre os paralelos de granito que caracterizam o centro da cidade.
A agente da Polícia Municipal (PM) Paula Alves, que, junto com David, vai guiando este grupo, explica aos estudantes que as beatas de cigarro “são o lixo mais descartado do mundo” e que se estima que sejam descartadas anualmente cerca de cinco biliões.
“São mesmo um desastre habitual”, garante, enquanto também se vai baixando para os ajudar na recolha.
É com olhares de admiração, e também de estranheza, que os alunos são recebidos pelos turistas que param a apanhar sol no jardim do Base, mas ninguém precisa de perguntar nada, porque a agente Paula é a primeira a explicar, junto ao bar, que estão a “fazer uma campanha de sensibilização”.
“Esta parte da esplanada está limpa, que nós fazemos a limpeza todos os dias”, esclarece um funcionário, que sugere que continuem a seguir mais para as entradas deste jardim.
Lúcia Martins, estudante de terapia ocupacional, veio incentivada pelos colegas mais velhos e porque acha que “todos” devem ajudar.
Não consegue especificar quanto lixo já conseguiu apanhar, mas o saco de plástico que leva na mão já vai a meio, muito à semelhança de todos os alunos que, ao fim da tarde, iam chegando à conhecida como Praça dos Leões e ouvindo palavras de agradecimento dos vários agentes policiais presentes.
“Penso que ainda há pessoas que não têm consciência de que é uma contraordenação [deitar pontas de cigarro para o chão]”, partilha a comandante da Polícia Municipal, Liliana Marinho, que não tem dúvidas de que é o “passa palavra” e a as ações de sensibilização junto da camada mais jovem que poderá ajudar a travar o fenómeno.
O valor das multas “vai de 150 a 500 euros”, mas a Polícia Municipal do Porto ainda não passou nenhuma e tem apostado, para já, “só na vertente da sensibilização”.
“Este é um trabalho que nunca está terminado e as questões da sensibilização e da literacia são extremamente importantes”, corrobora, ao lado, a vice-presidente da autarquia, Catarina Araújo.
Para a vereadora, que é também responsável pelo pelouro do Ambiente e Sustentabilidade, “envolver os jovens desde o início é o caminho para o sucesso” na longa caminhada contra os malefícios do tabaco e autarquia deve estar sempre presente pela simbologia.
A mesma ideia é defendida pelo presidente da FAP, que sugere que são este tipo de iniciativas que permitem criar no subconsciente uma mentalidade que “faz depois no dia-a-dia não cometer este tipo de atos”.
As pontas de cigarro recolhidas ainda vão demorar a ser contabilizadas, e os agentes de segurança não têm mãos a medir para a quantidade de resíduos trazida por casa aluno.
“Já não cabem mais beatas nestas 10 caixas”, ouve-se um polícia dizer, enquanto vai juntando as que sobram em sacos.
OC/MP






