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Sexta-feira, Setembro 26, 2025

Polarização, ignorância e violência: o aviso que fingimos não ouvir – Por Amadeu Ricardo

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Vivemos tempos perigosos.

Não vale a pena dourar a pílula: em Portugal, no Ocidente e no mundo, está a crescer uma fenda que divide as pessoas. A polarização social já não é um mero debate político — é uma rutura alimentada pela ignorância, pela arrogância e pelo medo do diferente. O resultado? Mais violência. Mais ódio. Mais normalização da agressividade. E isto mina, de forma quase invisível, as bases da democracia, da convivência e da simples decência humana.

Polarização, ignorância e violência: o tripé da decadência

Polarização não é discordar, é cortar a ponte. É viver em trincheiras, onde o outro deixa de ser adversário e passa a ser inimigo.
Ignorância não é falta de informação — é recusar aprender, é preferir a ilusão confortável à verdade incómoda. Pior: é transformá-la em bandeira, em orgulho cego.
E a violência já não é só murro ou agressão. É insulto, estigma, humilhação pública. É o “ódio banal” que se infiltra nas conversas de café, nos comentários das redes, nos debates políticos. Quando a violência se torna hábito, deixou de haver travão.

O que está em jogo

A polarização destrói a confiança. A ignorância destrói a razão. A violência destrói o tecido social.
Tudo isto abre caminho aos discursos de ódio, à manipulação dos medos, ao crescimento dos falsos líderes que se alimentam do ressentimento coletivo. E o terreno já está fértil: desigualdades, frustrações, inseguranças. Onde há injustiça, cresce raiva. Onde cresce raiva, alguém a instrumentaliza.

Portugal não é exceção

Gostamos de pensar que “aqui não”, mas estamos a enganar-nos. O discurso político radicaliza-se, o debate público embrutece, a “nova ignorância” — feita de excesso de ruído e falta de pensamento crítico — alastra.
A intolerância em torno da imigração, da identidade ou do género multiplica os sinais de hostilidade. Brechas sociais que muitos insistem em ignorar como se fossem meras discussões. Não são. São sintomas de algo maior.

O que arriscamos perder

Democracia: sem diálogo, só sobra o grito.

Coesão social: cresce o medo, o preconceito, a desconfiança.

Saúde mental coletiva: viver em permanente hostilidade adoece-nos a todos.

Futuro: as novas gerações aprendem que violência e intolerância são o normal.

Como resistir

Não há milagres, mas há caminhos:

Educação crítica, para ensinar a pensar e não apenas a repetir.

Espaços de diálogo real, fora das bolhas e do ruído.

Responsabilização de quem fala em público — palavras têm de ter consequências.

Empatia e contacto com a diferença.

Políticas que ataquem as desigualdades na raiz.

Para os distraídos e os alienados

A democracia não cai num golpe de Estado cinematográfico. Cai devagar, às mãos de quem a corrói por dentro enquanto a maioria assobia para o lado.

A polarização e o ódio não se instalam de repente — normalizam-se, gota a gota, até parecer que sempre estiveram cá.

Se continuarmos cegos, ou simplesmente apáticos, acordaremos um dia num país onde a violência já não choca, onde o insulto é norma, onde a solidariedade desapareceu. E aí, será tarde.
O perigo não é distante. É agora. E quem continua a fingir que não vê, ou é cúmplice ou é tolo.

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