Porquê intervir com agressores/as? A prevenção da violência e proteção da vítima devem considerar aqueles que perpetuam a violência, a fim de alcançar e intervir nas dinâmicas que sustentam a interação abusiva. Existem limitações no trabalho isolado com a vítima, como o risco de lhe atribuir “culpa” pela ocorrência de violência.
Focando esta mudança n@ agressor@, atribui-se-lhe a responsabilidade, alteram-se estereótipos e crenças socialmente enraizadas que perpetuam condições geradoras e aceitação da violência doméstica. Ademais, potencia-se a aceitação de que a pessoa violenta pode mudar o seu comportamento e ter relacionamentos saudáveis e aumenta-se a consciência social de denunciar este crime. Por outro lado, vítimas de VD, embora desejem a interrupção da violência, podem não querer abandonar @ companheir@ e, mesmo que exista este rompimento, a pessoa agressora tenderá a repetir os padrões de violência noutras relações.
Existem diversas teorias explicativas do comportamento de agressores/as. Algumas exploram fatores biológicos, psicológicos e psicofisiológicos como determinantes do comportamento abusivo. Outras destacam práticas parentais e/ou padrões educativos, recurso a castigos corporais, reduzidos níveis de interações positivas pais-filhos e falta de afeto, defendendo a reprodução intergeracional da violência.
Algumas abrangem, ainda, fatores culturais, sociais e situacionais, como normas sociais, papeis sexuais de género e afirmação da masculinidade pela violência. No entanto, todas estas perspetivas são uni-fatoriais, tendo a revelar-se deterministas e simplistas. Os modelos multidimensionais são os mais corroborados pela ciência e eficazes para a compreensão da violência na intimidade. Englobam variáveis pessoais, culturais e contextuais, bem como fatores de risco, fatores psicossociais e relacionais e outras variáveis diversas para explicar o fenómeno e as motivações d@ perpetuador@ da violência.
Entre os diferentes modelos e estratégias psicoterapêuticas utilizados com agressores/as, os cognitivos-comportamentais são os mais eficazes e comuns. Estes focam-se no treino de competências sociais, competências de tomada de perspetiva e empatia, competências de regulação emocional e de autocontrolo ou de controlo da impulsividade, aumento da sensibilidade aos conflitos interpessoais e modificação de padrões de pensamento. Defendem que o comportamento agressivo deriva de padrões de pensamento errados, que levam ao surgimento de emoções negativas.
Assentes em modelos teóricos que defendem a existência de uma relação entre comportamento agressivo e défices de controlo do comportamento impulsivo e/ou de regulação emocional da ansiedade, ira e frustração, muitos programas específicos de intervenção em agressores atuam na promoção de competências de autocontrolo da raiva.
A intervenção passa pela reconstrução das crenças e emoções que sustentam os comportamentos agressivos. Assim, intervêm ao nível do controlo do comportamento, pela autorregulação e pelo controlo das respostas agressivas “automáticas” e promovem um maior autoconhecimento e capacidade de discriminação de estados emocionais.
A título exemplificativo, na intervenção com abusadores/as sexuais de menores deve ter-se em conta o papel das cognições e emoções na perpetuação de abusos sexuais. As crenças implícitas dos/as ofensores/as sexuais sobre as necessidades e desejos, crenças e atitudes da vítima, moldam a interpretação dos seus comportamentos. Estes esquemas cognitivos mal adaptativos suscitam frequentemente a interpretação de que o comportamento da vítima revela preferência e intenção sexual, contribuindo para o início e manutenção do abuso sexual infantil.
Compreende-se que a intervenção em agressores/as de VD desempenha um papel crucial na prevenção da recorrência da violência, na promoção de relacionamentos saudáveis e na segurança das vítimas. A mesma centra-se, sempre, na proteção das vítimas e na responsabilização dos agressores/as. Efetivamente, a interrupção imediata da violência é um procedimento recorrente e celebrado num contrato terapêutico no início da intervenção.
É a partir da compreensão das motivações do comportamento abusivo d@ agressor@ que se intervém em direção a uma vida livre de violência.
Psicóloga/ Mestre em Psicologia da Justiça e da Desviância