Na origem da acusação estiveram perguntas de jornalistas sobre um vídeo colocado nas redes sociais de André Ventura que mostra parte da sua interação com um imigrante que o abordou na quinta-feira numa ação de campanha na Póvoa de Varzim.
O Chega utiliza apenas parte das imagens da interação para sugerir que o imigrante mentiu quanto à sua nacionalidade e profissão. Na legendagem que o Chega fez, o homem afirma ser indonésio e pescador, apesar de ter dito aos jornalistas que era nacional do Bangladesh.
O Chega deixa de fora a parte em que André Ventura o questionou diretamente se trabalha na pesca e o homem responde, num português esforçado, que trabalha nas estufas e que ajuda outros imigrantes indonésios, esses sim, pescadores.
André Ventura recusou que o vídeo tenha sido manipulado, insistindo que o homem lhe disse ser da Indonésia e “depois disse que era do Bangladesh”, preferindo virar-se contra a comunicação social, em especial a SIC, classificando como “miserável” o trabalho feito por esta estação televisiva.
“Se alguém mentiu primeiro foram vocês… vocês ontem foram os inimigos do povo, os inimigos das pessoas. Ao partilhar uma peça mentirosa, falsa, e a manipular as pessoas”, acusou, recorrendo a expressão de Donald Trump.
Questionado se está a imitar o ex-Presidente norte-americano, Ventura respondeu: “Você está a imitar o Fernando Mendes por fazer perguntas assim? Quer dizer, não faz sentido, eu não estou a imitar ninguém, estou a dizer aquilo que acho”.
“Sabem que respeito o vosso trabalho eminentemente, mas ontem vocês foram os verdadeiros disseminadores de notícias falsas e foram, sobretudo, o inimigo do povo, que é aquele que tenta manipular o povo em prol de uma ideia política“, acusou, numa interação hostil com os jornalistas e durante a qual os apoiantes aplaudiam as críticas de Ventura.
O líder do Chega disse também que o imigrante pediu inicialmente para “tirar uma foto” consigo e “de repente” estava a acusá-lo de racismo, alegando que “foi instrumentalizado e que foi alguém que o pôs lá”.
Questionado sobre quem instrumentalizou o imigrante, Ventura respondeu que “só pode ter sido a esquerda política“, mas não quis concretizar.
Na ocasião, o presidente do Chega comentou também a notícia do Expresso de que a juíza de instrução considerou que as suspeitas que recaem sobre o filho do Presidente da República quanto ao caso das gémeas poderiam estender-se a Marcelo Rebelo de Sousa, mas o Supremo Tribunal de Justiça recusou a instrução do caso.
André Ventura insistiu que Marcelo Rebelo de Sousa “tem de dar explicações“.
Questionado também sobre declarações suas na quinta-feira à tarde, recusou ter-se comparado a Salazar.
“Dantes dizia-se que era preciso dois Salazares, agora toda a gente sabe que não é preciso Salazar nenhum, basta o André Ventura. Isso não é comparar-me a ninguém, é dizer que aquilo que se dizia no sentido errado, hoje diz-se no sentido certo”, sustentou, afirmando que “o mau já lá vai, o bom ainda agora acabou de chegar”.
Também em declarações aos jornalistas, o cabeça de lista do Chega às europeias defendeu não ter insultado ninguém quando disse que não vai para o Parlamento Europeu “defender os animais, as plantas, os jardins”, mas sim “Portugal e os portugueses“, alegando: “não há ninguém que goste mais de animais do que eu”.
Questionado se o Chega não acredita no problema das alterações climáticas, continuou no tom utilizado pelo líder do partido: “Se eu quisesse ser desagradável dizia olhe vá perguntar aos cãezinhos que eles logo lhe responderão. Por amor, isto é que pergunta que se faça?”.
Ventura acusa jornalistas de serem “inimigos do povo”
O líder do Chega acusou hoje os jornalistas de serem "inimigos do povo", recorrendo a uma expressão reiteradamente utilizada pelo antigo Presidente dos Estados Unidos Donald Trump.