À hora em que alinhavo este artigo, os trabalhadores e jornalistas com salários em atraso estão concentrados na praça General Humberto Delgado, frente ao edifício da Câmara Municipal do Porto. Na capital, os jornalistas, técnicos e demais trabalhadores estão em frente às Torres de Lisboa para se manifestarem junto à sede da Global Media Group.
Decidi escrever este artigo de opinião sobre o ex-jornalista José Paulo Fafe e actual CEO da Global Media Group, porque sei muito bem quem é a peça que nos últimos dias tem sido notícia na abertura dos telejornais.
Fiquei indignado com a postura e arrogância deste “gringo”, na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, numa audição no âmbito do requerimento do Bloco Esquerda (BE).
Nessa audiência José Paulo Fafe deixou uma ameaça aos jornalistas que têm salários em atraso: “Vão ter que levar comigo até eu decidir!”. Uma declaração que deve ser levada a sério pelas autoridades (especialmente a Entidade Reguladora da Comunicação) que têm o dever de investigar quem são os verdadeiros acionistas da Global Media Group.
Mas quem é este “galifão” que pretende despedir mais de 200 trabalhadores (entre eles muitos jornalistas também!) e aparece como o “testa de ferro” de um grupo de fundos que não tem rosto, mas que adquiriu os jornais centenários “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias”, para além de outros órgãos de comunicação social como a rádio TSF?
Conheci José Paulo Fafe nos anos 90 quando ele era detentor da carteira profissional de jornalista. Um profissional altivo e sem respeito pela ética jornalística. Um malandro encartado com quem sempre mantive algum distanciamento. Como eu, outros camaradas de profissão mantiveram sempre um pé atrás com o actual CEO da Global Media Group.
Desencantado com o jornalismo (pois claro!) José Paulo Fafe decidiu abandonar o exercício da profissão (para bem da higienização da mesma!), foi convidado pelo publicitário brasileiro Duda Mendonça a exercer funções de consultor de marketing político no Brasil, e em outros países da América do Sul, onde concebeu e coordenou diversas campanhas eleitorais.
Aliás, só mesmo na América do Sul é que José Paulo Fafe poderia ser aclamado e reconhecido. Vamos lá saber porquê…
Em 2021, liderou a equipa que relançou o semanário “Tal & Qual”, descontinuado em 2007 e onde foi principal acionista e administrador, até Maio de 2023. E como terminou essa gestão do “Tal & Qual”? O jornal faliu e muitos jornalistas colaboradores ficaram sem receber. Eis uma mini radiografia do actual CEO da Global Media Group.
Mas para quem não conhece José Paulo Fafe, basta rever o seu comportamento na Assembleia da República, para deduzir do que ele é capaz. É um ex-jornalista que se especializou em “afundar” projectos jornalísticos. Um subserviente de capitalistas que fazem lavagem de dinheiro em paraísos fiscais como as Bahamas. Um indivíduo sem escrúpulos.
Num ano em que Portugal se prepara para comemorar em força os 50 anos da Revolução dos Cravos, percebemos que o jornalismo nacional está a atravessar uma das maiores crises de todos os tempos.
O jornalismo livre, sério e honesto é um dos pilares da democracia. Mas com grupos como a Global Media Group, não há democracia que resista. Chegou o momento de repensar com seriedade qual o futuro do jornalismo em Portugal.
Mas não se pense que José Paulo Fafe é o único a fazer este papel de carrasco e de coveiro. Ele é apenas o rosto de alguém que está ressabiado com o jornalismo.
Editor