A melhor parte da vida é a realidade.
Trabalho na educação há anos suficientes para perceber a sabedoria que encerra a expressão “colhemos aquilo que semeamos”. Isto a propósito da qualidade dos jovens alunos e do choque destes quando dão de caras com a idade adulta.
Dou a mim própria o descanso de saber que a vida se vai encarregar de ensinar aos nossos alunos aquilo que estes se recusaram a aprender na escola.
Lembro-me de andar a estudar e não ser de todo uma fã da escola, assim como outros meus pares; mas recordo-me igualmente de entender que esse era um dos seus mistérios. Aceitei que esse era a fase de ouvir e procurar perceber. Muitos, como eu, entenderam que esse era o tempo que antecedia a vida adulta, pelo que mais valia aproveitá-lo, quer aprendendo quer usufruindo do ambiente simples e despreocupado da vida de estudante.
Hoje, ouço dos alunos muitas e variadas queixas, de todos os tamanhos, formas e feitios. Quanto menor a qualidade do aluno, maior é a quantidade de queixas acerca da escola que frequentam.
Curiosamente ou não, um aluno queixoso é quase sempre apadrinhado pelos pais. Aí, então, as queixas ganham outra dimensão; assumem o carácter de certezas e é vulgar ouvirmos os múltiplos defeitos que têm os professores A, B ou C: ora porque não ensinam, porque não explicam, porque complicam, porque implicam-tudo serve de argumento para justificar o ressentimento para com a escola.
As Reuniões de Turma tornam-se o momento mais aguardado, onde os pais, do alto da sua superioridade, despejam todo o tipo de exigências e assumem nenhuma responsabilidade. E vê-los no papel de advogado de defesa dos educandos, de advogado de acusação dos Docentes, e, de seguida, demitirem-se de toda e qualquer responsabilidade, no que à Educação diz respeito.
Enquanto Encarregada de Educação, assisti a inúmeras Reuniões de Turma e ouvi pais e mães culparem a Escola e, simultaneamente, desculparem os seus educandos. Pergunto-me: como se chegou este ponto? Entendo que é fruto de um Projeto Educativo assente num pensamento muito à Esquerda, dos Pedagogos que abundam nas Universidades e que veem o Aluno como um Ser que deve estar numa redoma, bem protegido. Porém, é uma fórmula que não o prepara – porque o torna mais frágil – para os desafios da vida adulta.
Quando acaba a Escolaridade Obrigatória acontece esta coisa maravilhosa que é o choque com a Realidade do Mundo do Trabalho.
Chegados aqui e tendo em conta que todas as profissões são duras – porque rotineiras e monótonas – não adiantam as queixas que ninguém quer ouvir, seja o filho, o pai ou a mãe.
A Escola é um vislumbre do que será a vida adulta.
Sobreviver à Escola com estoicismo e sem lamúrias é a maior prova de que estaremos prontos para enfrentar as dificuldades do resto das nossa vidas.
Professora de Português e Alemão