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Quarta-feira, Janeiro 22, 2025

Tudo a postos para o início do 5.º Congresso dos Jornalistas Portugueses

Pedro Coelho, presidente da comissão organizadora do 5º Congresso dos Jornalistas, defende que é preciso repensar a legislação que regula o jornalismo. Alerta para o impacto das "fake news" e defende que, para ultrapassar a crise no setor, é preciso tornar o exercício da profissão verdadeiramente distintivo.

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Começa esta quinta-feira, dia 18, o 5.º Congresso dos Jornalistas. Em entrevista à Renascença, o presidente da comissão organizadora, Pedro Coelho, pede maior transparência no setor, nomeadamente no que diz respeito aos proprietários dos grupos de media.

Pedro Coelho critica os jornalistas comentadores, afirmando que deviam “repensar a contribuição que estão a dar ao serviço público que lhes é exigida”.

Este congresso realiza-se num contexto de particular crise no setor, com o emagrecimento das redações, a precariedade das condições de trabalho, as dificuldades no financiamento, problemas que ganharam maior visibilidade pública com a atual situação no grupo Global Media. Que tipo de soluções pode o congresso trazer para que este cenário comece a inverter-se?

O congresso não vai produzir nenhum milagre, mas acho que, pelo menos, é o lugar do encontro, da frontalidade e da discussão. Estamos há sete anos sem congresso e, em 2017, quando aconteceu o IV congresso, não estávamos no estado em que estamos. Batemos no fundo. O edifício jornalístico desabou e temos de o reerguer, peça a peça.

É claro que o congresso não vai reerguer um edifício inteiro. Aquilo que pode e deve fazer é lançar as bases do novo edifício. O edifício desabou do ponto de vista da sustentabilidade económica. Se o jornalismo durante 200 anos se aguentou a viver à custa da publicidade, e se esse dilema entre servir os interesses particulares das empresas que anunciam no jornalismo e o jornalismo que deve servir o interesse geral foi resolvido, agora, chegou o momento de salvarmos o jornalismo, respeitando o quadro de valores [da profissão], mas já sem essa sustentabilidade que tivemos até aqui. Sabemos isso há 20 anos, porque desde a viragem do século o modelo de negócio começou a mudar. Agora, mudou de facto. Não podemos acreditar que o capitalismo por ele próprio vai conseguir salvar o jornalismo. O jornalismo é um bem público e nós, jornalistas, temos de ser os primeiros a encontrar o caminho para sairmos do buraco onde nos colocamos, mas, sobretudo, onde muitos à nossa volta acabaram por nos colocar.

De acordo com o inquérito do sindicato de jornalistas divulgado em 2023, a remuneração média líquida dos jornalistas no ativo é de 1.225 euros. É possível fazer bom jornalismo com remunerações tão baixas? É este o principal fator de erosão da profissão ou, pelo menos, um sinal disso?

Quem está no jornalismo não está para ganhar muito dinheiro. Isso é um facto. Há outro estudo que vamos divulgar no congresso feito por uma rede interuniversitária de académicos em que ficamos a perceber que, apesar de tudo, os jornalistas não desistem. É aquele velho bichinho que nos liga diretamente a esta profissão. Essa paixão é à prova de bala, porque, apesar de tudo, os jornalistas resistem e querem continuar. Ora, isto diz muito sobre o potencial que transportamos. Os que aqui estão, os que resistem, resistem porque querem. Não temos é que sofrer como sofremos – e não sou eu quem sofre, que já estou numa fase muito madura da carreira. São sobretudo os mais jovens, aqueles que estão a começar.

O estudo do Sindicato dos Jornalistas e da Casa da Imprensa apontava para estes 1.225 euros de média de salário, mas abaixo disso há muita gente. São aqueles que partilham casa, que não conseguem ter autonomia financeira. São esses todos que o jornalismo tem dentro e que querem muito estar cá, mas fazem-no em condições absolutamente calamitosas. Não faz sentido que um jornalista tenha um salário indigno. A dignidade de uma profissão começa exatamente no salário. Mais de 80% dos jornalistas são licenciados ou têm formação universitária. Alguns têm mestrado e, mais do que em 2017, têm doutoramento. Enquanto tivermos baixíssimos salários, o jornalismo não se consegue autonomizar. Ninguém veio para ser rico, mas também ninguém veio para ser ostensivamente pobre.

Conteúdo Informativo: Rádio Renascença

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