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Domingo, Outubro 13, 2024

Transtorno de Ansiedade Generalizada

A ansiedade é uma reação normal ao perigo ou ao stress do dia-a-dia. Pode ser entendida como uma sensação de medo face a uma ameaça ou uma preocupação perante algo que poderá acontecer e que tememos ser negativo.

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Ficar ansioso em resposta a um evento específico é tão normal quanto sentir medo, tristeza, felicidade ou irritação. Na verdade, a ansiedade pode até ser benéfica em algumas situações, podendo ser útil, na medida em que ajuda a identificar situações de perigo e permite uma melhor preparação para as enfrentar. Quando bem controlada, atua sobretudo como estimulante. Em excesso, causa sofrimento desnecessário.

É comum as pessoas sentirem-se ansiosas quando têm problemas no trabalho, antes de passarem num exame ou quando necessitam de tomar uma decisão importante. É caraterizada por sentimentos de tensão, preocupação, insegurança, normalmente acompanhados por alterações físicas como o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, sudação, secura da boca, tremores e tonturas. A ansiedade envolve uma  preocupação em relação a várias áreas da vida, como saúde, trabalho, finanças ou relacionamentos.

Apesar deste caráter normativo, quando a ansiedade persiste em certos contextos, interfere negativamente com a capacidade de desenvolver as atividades diárias e causa sofrimento físico e/ou emocional significativo; estamos perante uma patologia ansiosa. Em geral, essas preocupações parecem realistas, no entanto, são tipicamente desproporcionais ao impacto do evento previsto ou ao objecto de preocupação
Portanto, quando a ansiedade é intensa, surge sem motivo aparente e atrapalha as tarefas diárias, pode indicar um transtorno de ansiedade como o transtorno de ansiedade generalizada (TAG).


Falamos em perturbações de ansiedade quando existe um medo grave, desproporcionado, que perdura há pelo menos 6 meses e que têm um verdadeiro impacto na vida quotidiana, com interferência com a capacidade de normal funcionamento do indivíduo.
Assim, dizemos que o paciente tem um transtorno de ansiedade quando o seu quadro de preocupação é prolongado, intenso e incontrolável, a ponto de atrapalhar as suas atividades pessoais e profissionais.
Os sintomas comuns do TAG podem ser divididos em psicológicos e físicos:

Sintomas psicológicos do transtorno de ansiedade generalizada
Incapacidade de relaxar a mente.
Inquietação.
Irritação fácil.
Medo frequente.
Sensação de estar no seu limite.
Dificuldade de concentração.
Sensação que a mente frequentemente “dá um branco”.
Medo de tomar decisões por receio de errar.
Ficar estressado quando está indeciso.
Ficar preocupado por estar preocupado demais.
Sempre imaginar desfechos negativos para qualquer situação.
É comum que o paciente fique excessivamente preocupado com questões que são pouco racionais, como ficar constantemente com medo de haver um terramoto, incêndio em casa ou que algum familiar vá desenvolver uma doença grave a qualquer momento.

Sintomas físicos do transtorno de ansiedade generalizada
Cansaço.
Tensão muscular.
Tremor.
Palpitação.
Assustar-se facilmente.
Insônia.
Suores.
Enjoos.
Sintomas da síndrome do intestino irritável.
Dor de cabeça.


O transtorno de ansiedade generalizada é geralmente uma doença crónica, cuja gravidade flutua ao longo do tempo.
É importante destacar que os sintomas da TAG variam de pessoa para pessoa.


A doença costuma iniciar-se gradualmente, podendo levar meses, ou até anos, para que o quadro clínico completo se estabeleça.


Os pacientes que apresentam outros distúrbios psiquiátricos associados, tais como síndrome do pânico, fobia social ou depressão, costumam apresentar um prognóstico pior, com mais dificuldade de retornar a uma vida produtiva.


Pacientes com TAG têm um maior risco de desenvolverem depressão, doenças cardíacas, problemas digestivos e abuso de substâncias químicas, como o álcool, por exemplo. Em alguns casos, a ansiedade poderá ter uma causa evidente. No entanto, existem outros em que parece não ter origem aparente. Quando isso sucede, o facto de o paciente não conseguir identificar o seu motivo tende a aumentá-la ainda mais.

Por isso, um dos aspetos importante no tratamento é a identificação dos factores que a desencadeiam. Há indícios de que poder existir uma base genética para a ansiedade. A ocorrência de experiências stressantes e a incapacidade de lidar com elas é outra questão importante. O consumo de álcool, drogas, chá, café, tabaco e alguns medicamentos também podem associar-se a crises de ansiedade.

De um modo geral, os problemas da vida são habitualmente desencadeadores de ansiedade, e nos casos agudos, angústia. Além disso, as dificuldades pessoais de inserção na sociedade, os conflitos interiores no domínio afetivo, emocional e sexual podem conduzir a uma sintomatologia ansiosa. Os pacientes com TAG sentem-se ansiosos na maioria dos dias e frequentemente precisam se esforçar para conseguirem lembrar-se da última vez que estiveram relaxados, pois as crises de ansiedade sobrepõem-se. Quando um motivo para estar ansioso é resolvido, logo em seguida surge outro.

O transtorno de ansiedade generalizada é duas vezes mais comum nas mulheres que nos homens e costuma surgir ao redor dos 30 anos, apesar de poder estar presente tanto em crianças quanto em idosos. As perturbações de ansiedade são comuns. Podem afetar, ao longo da vida, quase uma em cada 10 pessoas. Há indivíduos que ao longo da vida sofrerão de vários tipos de perturbação de ansiedade.

Tal como ocorre com muitas doenças psiquiátricas, as causas exatas do transtorno de ansiedade generalizada não são totalmente compreendidas. Sabemos haver um relevante componente genético, pois a história familiar é um dado importante.

Factores ambientais também são significativos. Traumas na infância, abusos, abandono de um dos pais, bullying, morte de um familiar, interrupção do uso de uma substância química viciante, divórcio ou desemprego são alguns dos eventos que podem ajudar desencadear um quadro de TAG. Pessoas com doenças físicas crónicas, principalmente aquelas que causam dor persistente, também apresentam maior risco.

Alguns tipos de personalidade estão mais associados a um risco maior de desenvolver TAG, incluindo pessoas muito tímidas ou que apresentam um temperamento negativo, com irritação, falta de paciência e tristeza frequentes.

Estudos do metabolismo e da atividade cerebral mostram que os pacientes com transtorno de ansiedade generalizada apresentam desequilíbrios na quantidade de alguns neurotransmissores cerebrais, como a serotonina e a noradrenalina. Há evidências também de que algumas áreas cerebrais envolvidas no controle das emoções e do comportamento encontram-se hiperativas.

O seu diagnóstico deve ser feito por profissionais de saúde mental, como o médico psiquiatra e o psicólogo clínico. O tratamento do transtorno de ansiedade generalizada tem como objetivo interromper o ciclo de preocupações, podendo ser recomendado a realização de técnicas de relaxamento ou o uso de medicamentos, dependendo do grau do transtorno. O tratamento do TAG costuma ser feito com a combinação de medicamentos e psicoterapia, habitualmente com terapia cognitivo-comportamental.

No tratamento psicológico, a terapia cognitiva comportamental é uma das melhores formas para trabalhar esses casos, tendo em vista a sua abordagem estruturada e diretiva, com metas definidas a partir da aliança terapêutica e da participação ativa do paciente no seu processo de mudança. O psicólogo clínico precisa ter um papel educativo e colaborativo, preparando o paciente para desenvolver a sua autonomia e se tornar capaz de lidar com seus problemas de forma saudável. É por isso que, muitas vezes, o psicólogo precisa indicar algumas tarefas para ele realizar em casa ou em outras situações sociais.

Assim, são utilizadas uma série de técnicas que auxiliam o desenvolvimento de um tratamento de qualidade e, de quebra, facilita a realização das atividades individuais do paciente. Existem diversas estratégias  da TCC que auxiliam os casos de ansiedade. Separamos as duas principais que auxiliam na diminuição dos sintomas, tanto dos quadros mais sutis quanto dos mais complexos:
Reprogramação mental
Como o próprio nome aponta, a reprogramação mental consiste em transformar os pensamentos disfuncionais em crenças saudáveis e positivas que auxiliam os pacientes a lidar com a ansiedade. Isso faz com que seja muito mais fácil suportar as situações ansiogênicas.

Para isso, é preciso identificar as situações-gatilho junto do paciente e auxiliá-lo na percepção dos seus pensamentos e comportamentos disfuncionais. Esse processo não ocorre em poucas sessões, cada consulta pode servir como base para investir na reprogramação mental, principalmente se o paciente apresenta um alto nível de ansiedade.

Saber controlar a respiração é uma estratégia eficiente para relaxar o corpo e a mente. Nos últimos anos, muitos profissionais da área da saúde investiram em pesquisas para comprovar os benefícios que a respiração correta oferece.

Assim, a terapia cognitivo-comportamental passou a adotar essa ferramenta para ajudar as pessoas com transtorno de ansiedade generalizada. Isso faz com que o psicólogo assuma uma postura de psico- educador, ensinando seus pacientes algumas técnicas de respiração que os auxiliam no controle de sintomas.

As técnicas cognitivas fazem com que os indivíduos consigam monitorar suas distorções, sejam de pensamento, sejam de comportamento, reduzindo o seu impacto emocional negativo. A reestruturação permite que o paciente desenvolva novas interpretações e significados em relação às situações do presente e do futuro, reduzindo as reações emocionais disfuncionais ou destrutivas. No entanto, a TCC não busca eliminar as emoções negativas, já que elas são propulsoras de mudança, apenas torná-las proporcionais à intensidade dos eventos.

A terapia cognitiva, ainda que tenha uma estrutura solidificada para orientar o seu trabalho e a evolução do doente, não busca ser engessada ou fechada. Em outras palavras, esta terapia utiliza as melhores técnicas que corroboram com a personalidade do paciente e o transtorno apresentado, desde que ambos estejam confortáveis com as ferramentas escolhidas.

Portanto, a terapia cognitiva comportamental para ansiedade é uma excelente ferramenta de tratamento , promovendo mais qualidade de vida por meio da ética, cuidado e respeito. Com sessões estruturadas e técnicas eficientes, consegue-se trabalhar sem dificuldades com os mais variados níveis do transtorno.

A nível psiquiátrico existem alguns antidepressivos que podem aliviar a ansiedade, bem como a depressão para a qual são geralmente prescritos. Geralmente demoram 2 a 4 semanas a funcionar e têm de ser tomados diariamente. 

Trata-se de um problema importante e comum. A nível da medicação, entre 2004 e 2009, observou-se um crescimento de 25,3% no consumo de ansiolíticos, hipnóticos, sedativos e antidepressivos. Estes dados são confirmados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), onde Portugal se situa acima da média dos países desta entidade no consumo de ansiolíticos. São escassos, no entanto, os estudos que apresentam resultados relativos à realidade portuguesa. Alguns apontam para taxas de cerca de 50% dos utilizadores de cuidados primários de saúde apresentando sintomas de depressão/ansiedade.

Existem diferentes formas de ansiedade, cada uma delas com sintomas diferentes, sendo as principais as seguintes: doença obsessiva compulsiva; stress pós-traumático; pânico; agorafobia; ansiedade generalizada; social; ou de separação.

É comum que as pessoas tenham concepções erradas sobre o TAG e os transtornos de ansiedade em geral. Por exemplo, é comum pensar que a ansiedade é uma fraqueza ou que as pessoas com transtornos de ansiedade podem simplesmente superar os seus sintomas com a força de vontade.

No entanto, é importante esclarecer e enfatizar que a ansiedade é um transtorno real e tratável, mas que não depende simplesmente da vontade do paciente, ele requer ajuda profissional.

As perturbações de ansiedade podem ser tratadas, mas têm uma probabilidade elevada de regressarem em circunstâncias de perceção de novas ameaças, causadoras de sofrimento e de perda de funcionalidade para a vida do indivíduo. Afinal, os vários contributos tornam difícil a sua total eliminação.

Uma pessoa que sofra com o TAG ou conheça alguém que está a passarspor isso, deve procurar ajuda qualificada.
É um problema comum e é muito melhor conseguir ajuda em vez de sofrer em silêncio.





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