A fase do 3 G, é aquela em que parafraseando o Gaudêncio, “temos todo o tempo do mundo”…
Se fomos inteligentes no passado, e ao longo da nossa vida profissional, tivermos descontado o máximo de descontos para a Segurança Social durante a fase 2G, provavelmente até podemos auferir de uma boa reforma! E assim, a parte financeira deixa de nos preocupar…(atenção que em relação a reformas e segurança social, já estamos a chegar ao limite…)
É nessa fase que podemos viajar, visitando países e regiões que sempre fizeram parte da nossa memória, de nossos azos, conjunturas e enseios. Com a casa liquidada, o automóvel e outros investimentos que tenhamos realizado ao longo de tantos anos e sabe Deus, com que sacrifício, chegou a altura do desfrute e da usufruição.
Atermou-se e derrogou-se aquele sentimento de “obrigatoriedade” de ter de fazer amortodos os dias, como se fossemos obrigados a picar o ponto…
Quando e como sabemos que chegamos ao 3G? É fácil! Quando entramos num transporte público e alguém se levanta para nos dar o lugar, é o sinal!
Depois vêm os netos e quem tem paciência para lidar com eles? Os avós!
O avô, é pai duas vezes. Quando teve de cuidar do filho e de lhe transmitir bons ensinamentos, ficou com conhecimento e experiência, para tratar muito bem dos seus netos. Já viveu a fase do frenesim, do rebuliço, da debandada e da aflição profissional e financeira, e neste momento, está na fase do usufruto e da fruição.
Se me perguntarem qual a melhor fase da minha vida na infância e adolescência, a resposta é demasiado simples: – Com os meus queridos avós em Montemor-o-Novo.
Os meus avós não tinham televisão, não tinham frigorífico nem máquina de lavar a roupa. A tradicional casa de banho, também não existia. Havia penicos e um alguidar grande de zinco para tomar banho. O meu avô levava-me ao café para visionarmos a TV, com preferência para futebol (Benfica), jogos de hóquei patins, touradas e os programas do Vitorino Nemésio (Se Bem me Lembro). Ainda hoje me interrogo, o meu avô tinha apenas a quarta classe e como era possível entender os programas do Nemésio?… Primeiro pelo vocabulário rebuscado e segundo pela pronúncia açoriana.
Ainda possuo a mesa oval, onde o meu avô me ensinou a ler e a escrever.
E os Natais? Insuperáveis! Com um grande madeiro na chaminé onde cabia toda a família. Os chocolates na árvore de Natal que eu antecipadamente ia comendo e enchendo as pratas com algodão, a família reunida a assar febras nas brasas do madeiro, o meu pai a declamar algumas partes de peças teatrais, a minha mãe a cantar, o meu avô a tocar harmónica (gaita de beiços) e a minha avó na percussão com um adufe. O presépio tinha musgo verdadeiro encontrado no quintal.
O quintal de casa dos meus avós: do lado esquerdo era o jardim da minha avó, onde ela cuidadosa e zelosamente tomava conta das flores e, do lado direito, era a horta do meu avô e o galinheiro.
Ainda recordo um ano em que fizemos um enterro a um galo, com toda a pompa e circunstância. Eu próprio, plantei um pessegueiro (não, este não foi na ilha…) e recordo a frondosa nespereira, talvez a maior que visionei em toda a minha vida.
Durante muitos anos, não havia férias que eu não as passasse em Montemor. Foi lá, aos quinze anos que a minha querida avó me ofereceu o meu primeiro baixo elétrico (Kawai).
Quando o meu avô faleceu, conheci finalmente o seu irmão mais novo, fui eu que cozinheipara a família e logo a seguir ao funeral, lá fui eu até ao Algarve, pois tinha uma atuação lá. Sabe Deus a vontade e força anímica que eu tive de forçar para ninguém se aperceber.
A velha história do palhaço que no dia da morte do seu querido filho, sobe ao palco e põe as pessoas a rir…Quem não está diretamente ligado ao espetáculo, talvez não entenda que não podemos recusar um trabalho, mesmo numa situação dolorosa, como aquela que eu passei e rememoro.
THE SHOW MUST GO ON !
Músico/Colaborador