Na noite da última sexta-feira, dia 8 de setembro, um terremoto com magnitude de pelo menos 6,8 graus sacudiu Marrocos. Com o seu epicentro na Cordilheira do Atlas, a cerca de 70 quilómetros de Marraquexe, ele também fazia sentido na vizinha Argélia e no extremo norte de Portugal.
Uma leitora do jornal O Cidadão, que se quis identificar apenas e só pelo primeiro nome: Liliana, decidiu relatar os momentos de aflição que vivenciou em Marraquexe, no momento em que ocorreu um terramoto que já contabiliza quase 3 mil mortos.
“Decidi ir de férias para Marrocos. Estive lá desde o sábado dia 2 de setembro. Inicialmente fiz uma viagem ao deserto de Merzouga, só fui para Marraquexe dia 5 de setembro.
O sismo começou por volta das 23h10 de sexta-feira, dia 8 de Setembro. Estava já no quarto do hotel Riad, deitada na cama quando comecei a sentir tudo a tremer. Inicialmente não percebi o que se passou, mas a intensidade foi aumentando e manteve-se durante alguns segundos, embora parecesse uma eternidade.
Ainda com tudo a tremer, levantei-me assustada e fui à porta ver das outras pessoas e vi toda a estrutura da instância turística onde me encontrava, a balançar de um lado para o outro.
Felizmente não houve danos nesta instância turística, mas quando desci as escadas e espreitei para a rua estreita onde estava, vi logo paredes que tinham caído e muitos cidadãos marroquinos em aflição.
Depois de ver este cenário, o responsável da Riad disse para pegarmos no essencial e sairmos. Vesti uma roupa à pressa e peguei no telemóvel, passaporte e dinheiro para sair de lá e ir para um sítio descoberto, longe de estruturas que pudessem cair. Pelo caminho havia já pessoas feridas, pó e escombros em todo o lado, inclusive vi um táxi completamente esmagado por tijolos, que tinham caído do edifício ao lado onde estava estacionado.
Fiquei numa rua longe de qualquer parede a ver toda aquela confusão que me fez sentir que estava num filme.
Pessoas a correr, a procurar os seus familiares, mães com crianças a chorar, carros e motas a tentar sair daquela zona e afastarem-se.
Passou uma hora e não havia informações sobre nada. Nem ajuda para aquelas pessoas que se encontravam feridas e debaixo dos escombros.
Decidi pedir para voltar ao hotel onde me encontrava hospedada, para ir buscar o resto das minhas coisas e ir para o aeroporto. Como já tinha voo no dia seguinte, preferia ficar já perto do aeroporto nem que fosse no estacionamento à espera. E várias pessoas tiveram a mesma ideia que eu.
Na incerteza de haver réplicas e do que poderia acontecer, o passo até ao hotel foi de corrida para estar o mínimo de tempo possível naquelas ruas estreitas com fracas construções à volta. No quarto, coloquei tudo o que consegui na mochila o mais rápido possível e voltei a sair.
Afastei-me do local da confusão e consegui partilhar um táxi com uns turistas espanhóis que também iam para o aeroporto. Nas zonas mais afastadas da Medina que era onde estava hospedada, não parecia haver tantos estragos já que a cidade aí tinha construções mais recentes e modernas.
Quando chegamos ao aeroporto, estava fechado e as pessoas estavam a colocar-se num jardim lá perto à espera que abrissem, mas sem indicações de nada. Fiquei ali, sem dormir, até às 4h da manhã, hora em que abriram as portas do aeroporto e deixaram entrar toda a gente.
O meu voo estava agendado para as 14h30, portanto fiquei no aeroporto à espera que chegasse a hora de embarcar. Reparei que tinha alguns estragos, mas tinham limpado tudo antes de deixarem entrar as pessoas.
Durante esse tempo, quase não preguei olho. Fui-me mantendo atenta às notícias, vi que não havia alterações nos primeiros voos que saíram de manhã e avisei os meus familiares e amigos que estava tudo bem comigo.
As imagens e vídeos que iam aparecendo na net eram assustadores e de situações graves que tinham acontecido perto do sítio de onde saí e de onde passei os últimos dias a passear.
Sinto que apesar do azar tive muita sorte e espero que o país receba toda a ajuda necessária para ultrapassar este desastre”.
Foi este o relato que a Liliana fez para o jornal O Cidadão
