Porque o panorama musical nacional é composto de bandas que, embora prodizindo música de qualidade, são muitas (demasiadas!) vezes desconhecidas, O Cidadão (OC) esteve com o Hugo Silva (H) e a Marisa Ramos (M), dos Noalla.
OC: O Hugo Silva já se dedica à música há vários anos. Descreva-nos o seu percurso musical?
H- Não me recordo bem com quantos anos comecei, mas foi tarde, talvez 14 ou 15 anos, o início foi como o de tantos outros. A velha história “havia uma guitarra lá em casa”.
Por volta dos 16 anos, comecei a ensaiar em salas no Porto, porque Gaia, na altura, era um deserto; fazíamos as gravações naquilo que chamávamos Rádios de cozinha, em cassete, claro. Em dois mil e qualquer coisa, já com uma banda, assinei um contrato com a extinta editora LAD de Carlos Maria Trindade e Luís Beethoven, o disco foi gravado e produzido em minha casa. A convite da Editora, era suposto regravá-lo no estúdio Quinta dos Lobos onde os Madredeus ensaiavam, contudo, por algum motivo, não aconteceu e acabou por ser editado como estava (risos). Este momento foi importante, porque cimentei a ideia de que o que gostava de fazer poderia também agradar, de alguma forma, a outros.
OC– E começaram os concertos em força…
H– Mantive a banda durante vários anos, realizando vários concertos, tendo sido em Espanha que tivemos mais aceitação. As bandas são como os casamentos. Lembro-me que, quatro dias depois de nos termos separado, recebemos um telefonema do jornalista Pedro Vasconcelos, do jornal “O Primeiro de Janeiro”, convidando-nos para tocar em Paredes de Coura! O que, lamentavelmente, não tinha como aceitar (risos).
Terá sido nesta altura que fiz o primeiro tema com a Marisa, a “Trees”, que só anos mais tarde foi editado.
Estive envolvido em mais projetos, com vários concertos e, num deles, a Marisa ficou com o trabalho de projeção de imagem sincronizada (VJ), o que acabou mais tarde por desaguar nos “Noalla”, projeto atual com a Marisa, mas agora na voz e sintetizadores.

Marisa Ramos
OC– E a Marisa, como começou a sua vida musical?
M- Comecei por acompanhar bandas de amigos, escrevi e fiz algumas gravações em casa que, mais tarde, deram origem a um trio do qual o Hugo fazia parte, no entanto, a minha primeira experiência ao vivo foi no Hard Club como VJ, numa banda de música industrial. Depois de uma paragem, decidi voltar à música com este novo projeto.
OC– O Hugo também faz produção?
H– Sim. Trabalho na produção e, em alguns casos, também masterização, no entanto, não sou apologista desta combinação. No meu entender, a master não deve ser feita por quem produziu, porque acaba-se por ficar imune a algumas frequências devido ao excesso de exposição durante a produção, o que pode ser negativo. Há cerca de 14 anos que, para algumas masterizações, recorro ao Andy Vax (Kiev) ou ao Streaky (Londres). Neste último EP de Noalla (2023), fomos impedidos de fazer equipa com o A. Vax conforme fizemos com a primeira banda juntos, por causa da guerra na Ucrânia.
OC – A Marisa também tem formação nestas áreas.
M- Embora tenha tido formação em produção de áudio no Porto, há cerca de 10 anos, neste momento tenho deixado esse trabalho para o Hugo, por falta de tempo.
OC: Como surgiu a atual banda e a sua composição?
H- O atual projeto nasce da sede pela criação, compor aquilo que gostamos de ouvir, muitas vezes exorcizar vivências atribuladas, vivendo-as em forma de sonho na música, um cicatrizante natural, ou, por vezes, simples divertimento. E isso chega.
OC- Sempre em dueto?
M- Optámos por nos manter em duo por questões de praticabilidade e tempo; no entanto, em concerto, se por aí seguirmos, teremos convidados. Por gosto e razões técnicas.
Noalla
OC- De onde surge o nome da banda?
H- O nome “Noalla” foi ideia inicial da Marisa que eu abracei a 100%. É uma referência e homenagem à freguesia Galega, tendo sido o local onde vincamos a ideia de voltarmos à música, mas também porque gostamos muito do som da palavra.
OC- Por que cantam em inglês?
M- O tópico de usar outras línguas é por vezes mal interpretado, temos temas na gaveta temas em português, inglês e em francês. A língua, em meu entender, é um instrumento, um lápis, escolhem-se lápis diferentes para atingir objetivos diferentes, a música não é diferente, seja por aspetos artísticos, sonoros, fonéticos ou até mesmo questões nostálgicas. Existe também a evidente influência da fonte onde se bebe, que foi maioritariamente em inglês.
H- A velhinha ideia de que o inglês serve apenas para ter aceitação no exterior, para nós não faz muito sentido. Para além da mensagem literária, existe a mensagem musical. Eu não entendo patavina de islandês, mas gosto de Sigur Rós, mesmo quando cantam em islandês. Existem músicos portugueses que têm um verdadeiro dom com a métrica e fonética na língua nativa, e isso é muito bom. Mesmo os mais contemporâneos, como Peixe Avião; bom exemplo disso, é o tema “Quebra” ou “Atiro ao Alvo” … Mão Morta, Linda Martini ou Mutu, que deixam claro o gosto pelas raízes, evidente no tema “Ceifa”. Existe espaço para todas as formas de expressão, nada contra, nada obriga.
OC- Lançaram um tema recentemente, The Room (part 2). Como pensam fazer chegar o vosso projeto às pessoas?
M- Sim, depois do EP “Mastermind”, concluímos o tema “The Room part2”. Ainda este mês de outubro, vamos fazer outros lançamentos, com artwork do artista visual romeno Daniel Padure, com quem já trabalhamos no EP e em outras viagens passadas. A forma de divulgação neste momento, são rádios, que desde já, agradeço pelo apoio que nos têm dado, assim como os Podcasts Spotify, Apple Music, ITunes e várias outras plataformas de streaming.
OC- Pretendem atuar ao vivo?
H- Sim. Os concertos são uma probabilidade, mas pretendíamos completar outras etapas primeiro. vamos ver, a ver, a ver…
OC- Como definem o vosso estilo musical?
H- É difícil definir um estilo, porque não existe a preocupação ou intenção de seguir um género musical; penso que o universo Noalla salta entre vários estilos de forma despreocupada, como o Dream Pop, Synth Pop, um Post Punk ao longe e uma impercetível, mas forte influência, Trip Hop mais atual. A bateria e guitarra, conferem um lado algo orgânico ao som.
OC- Apesar de serem uma banda relativamente nova, fazem ideia de onde são os vossos ouvintes?
M- As pessoas que mais nos ouvem são os portugueses, embora existam pessoas a ouvirem-nos em vários locais do mundo. Em Praga, estivemos na playlist de uma Radio local. Viva a internet!
OC- Quais os vossos planos para o futuro?
M- O futuro é sobretudo despreocupado, mas temos a intenção e ideias para vídeos e novos temas. É provável que surja um disco, mas, para já, a facilidade dos temas soltos ou EP´s tem sido o mais cativante.

Técnico de Turismo