Entre 2012, a primeira obra, e até hoje, tem percorrido um caminho muito interessante, quer nos estilos que nos vão surpreendendo e saltitando, com mestria da prosa ao verso. Ao “O Cidadão” foi contando a sua aventura na escrita e não deixa de ser curiosa a forma como foi apanhada pela paixão .
O Cidadão (OC): Rosa Fonseca, quando e como começou a paixão pela escrita?
Rosa Fonseca(RF): No início da adolescência; um dia encontrei no lixo alguns livros, um deles, “A Mãe”, de Máximo Gorki. Apesar da narrativa extensa, devorei-o e percebi, nessa altura, que havia algo para lá do meu “mundinho”. Lembro-me de fazer resumos do que ia lendo. Mais ou menos por esta altura, escrevi uma peça de teatro que chegou a ser representada para os meus vizinhos.
OC– A Rosa Fonseca é professora do Ensino Especial, a sua ocupação prncipal. Ser escritora era uma ambição antiga ou surgiu a oportunidade e agarrou-a?
RF: Ambição, não! Tudo aconteceu com naturalidade. Sempre escrevi pequenos textos. Tinha (e tenho!) vários cadernos, continuo a fazê-los. A vontade e a necessidade de escrever é um facto. Uma aprendizagem constante. E continua a ser um processo interior que muito respeito. Escrevo enquanto sentir que tenho algo a dizer.
OC: Alguns escritores variam muito no gosto pelos locais onde escrevem. O José Cardoso Pires, por exemplo, andava sempre a mudar de casa, à procura do ambiente ideal. E a Rosa, tem algum local especial para escrever?
RF: Escrever, como outro trabalho qualquer, exige disciplina, dedicação, resistência e amor. Mas o acto criativo é, em si mesmo, libertador. Qualquer outro trabalho não nos deixa ser nem pensar livremente. Para mim, é imperativo com silêncio e algum isolamento. Depende do que vou escrever e a música também entra na equação. Preciso de estar comigo própria e com os meus “fantasmas” e estes são muito inquietos. O local será sempre aquele que reúna estas condições. Escrever é, realmente, um acto solitário.
OC: Prefere escrever de de dia ou de noite?
RF: Com a idade fui deixando alguns hábitos. Escrevi, durante anos, noite adentro. Trabalhava de dia e, então, aproveitava a noite, trazia-me sossego e silêncio de que tanto precisava. Hoje, faço-o em dois momentos do dia – durante a tarde e parte da noite.
OC: Sente necessidade escrever todos os dias, mesmo quando não está com um livro entre mãos?
RF: Sinto muita necessidade de escrever todos os dias. Também é a própria vida que nos impele e quase nos impõe à reflexão, à criatividade, a uma visão mais ampla do que nos rodeia. Também procuro na escrita algum conforto emocional.
OC: A sua profissão (professora do Ensino Especial) teve ou tem influência na forma de encarar a escrita e as temáticas que aborda?
RF: Sem dúvida! Somos um todo. Vivências, experiências, personalidades, emoções,desilusões, desencantos e tudo isto se reflete no que sou, quem sou e, por conseguinte, na escrita. A bagagem acompanha-nos sempre. Mas , sim, a profissão é a área específica do ensino especial tem influência; sobretudo em algumas temáticas mais incisivas do ser humano.
OC: Prosa ou Verso? Em que área a Rosa Fonseca está mais à vontade para escrever, uma vez que cultiva as duas formas?
RF: Confesso que me encontro mais na prosa, que abarca um contexto mais diferenciado como o tecido social e pessoal dos que me rodeiam, com as suas fragilidades e resistências. O que me tem levado, ultimamente, a enveredar por esta narrativa. Na poesia, é mesmo um estado de espírito que influencia. É muito emocional, de sentimentos à flor da pele. Neste mar por navegar e muito naufrágio pelo meio.
OC: Teme pelo futuro do livro em suporte de papel?
RF: O livro em papel é eterno! Posso ter uma visão redutora, tendo em conta o tanto que há por aí digitalizado. Mas manusear um livro, cheirar um livro, abraçar um livro, ah… é indescritível tamanha sensação. Penso que ambos possam subsistir. O futuro, creio, está garantido.
OC: E os jovens? Há incentivos suficientes para que continuem a ler cada vez mais?
RF: O incitamento à leitura deve começar desde tenra idade. E começa com a família. Criar hábitos, espaços de leitura e contato, são decisivos para termos no futuro bons leitores ou mais atentos. As escolas, as bibliotecas, têm um papel crucial e de fundamental importância. Porque nem sempre temos jovens e crianças com livros em casa, logo, compete à instituição zelar por essa lacuna social e cultural e estimular. Se o jovem não for estimulado também não o vejo a ler em formato digital. Concluo que ainda há muito por fazer e investir. É preciso que a sociedade assim o entenda. Cabe a todos nós fazer um pouco mais
Jornalista