O anúncio de que Manuel Pizarro, o médico especialista em medicina interna que foi secretário de Estado da Saúde nos dois executivos liderados por José Sócrates, entre 2008 e 2011, ia substituir Marta Temido no Ministério da Saúde aconteceu a 09 de setembro de 2022.
Um ano depois e após dezenas de reuniões com organizações representativas dos profissionais de saúde, a avaliação que estes fazem do homem que disse que regressava a Portugal – liderava então os deputados do PS no Parlamento Europeu – “cheio de determinação e de vontade de trabalhar a favor da saúde dos portugueses e do SNS” não é negativo, mas não chega a ser positivo.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, disse à Agência Lusa que Manuel Pizarro “tem falhado” sobretudo em áreas como as maternidades, as urgências, a fixação de profissionais ou a cobertura de médicos de família, classificando este ano como “uma certa desilusão” face às expectativas criadas.
“Quando o doutor Manuel Pizarro assumiu a pasta da saúde, havia elevadas expectativas porque estávamos a sair de um período muito difícil para os profissionais de saúde com uma titular de pasta muito distante e inclusivamente de costas voltadas para os médicos. O perfil de Manuel Pizarro prometia: um médico que conhece bem o sistema de saúde, alguém que sabia que o SNS precisa de reformas muito rápidas. Mas na concretização, estamos muito longe de estarmos satisfeitos”, considerou Carlos Cortes.
“É verdade que depois de vários anos em que os sindicatos não eram recebidos e foram destratados – éramos os cobardes, os com falta de resiliência – a atitude de maior simpatia e de maior experiência política [de Pizarro] fez renascer a esperança”, afirmou Jorge Roque da Cunha, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) que partilha da opinião de que falta autonomia ao titular da pasta da Saúde.
Pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, referiu que “embora o interlocutor [na pasta da saúde] tenha mudado, as políticas de António Costa mantêm-se”, razão pela qual demonstra “tristeza” pela esperança que a federação sentiu quando foi anunciado para o cargo alguém “com espírito mais afável e mais cordial” que entretanto “ficou aquém das expectativas”.
Guadalupe Simões, da direção Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), ressalvou que quando Manuel Pizarro tomou posse “concretizou a decisão politica do primeiro-ministro da contabilização de pontos aos enfermeiros com contrato individual de trabalho e aos enfermeiros que tinham sido reposicionados na primeira posição da carreira em 2011, 2012 e 2013”, mas esperava mais.
O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Hélder Mota Filipe, acrescenta à análise outros dois protagonistas: o secretário de Estado Ricardo Mestre e o diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, considerando que “a equipa dificilmente podia ser melhor do que esta, mas os resultados tardam”.
Para o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Hélder Mota Filipe, a equipa de Manuel Pizarro “trouxe uma grande esperança porque são pessoas muito bem preparadas, com conhecimento aprofundado e vontade de mudar o sistema. Há boa vontade e uma maior abertura para dialogar. Mas por exemplo no que diz respeito à alteração da carreira dos farmacêuticos no SNS: a lei tem problemas à nascença. Há aspetos positivos como a residência farmacêutica, mas gostaria de ver maior proatividade e maior capacidade de transformar a boa vontade em resultados”, concluiu.
“Acho que não há autonomia nenhuma e esse é claramente um problema de Manuel Pizarro. Tínhamos alguma esperança quando tomou posse por sabermos que é uma personalidade dentro do PS com algum peso político. Pensamos que as Finanças podiam ter um bocadinho mais de respeito pelo que se passa na Saúde, mas ao fim de um ano, no que diz respeito aos farmacêuticos, a frustração é absoluta e completa. Um ano de mandato corresponde a zero no que diz respeito aos farmacêuticos”, esclareceu Henrique Reguengo, o presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos.
Manuel Pizarro, que por duas vezes foi candidato derrotado a presidente da Câmara do Porto e teve vários cargos políticos e partidários, nasceu em 1964, em Coimbra, mas residiu sempre no Porto.