Quando falamos com artistas, seja de que área for, a maioria começou muito cedo a demonstrar o gosto pelas artes. No caso de Ricardo Vieira, foi a música. E veio com companhia.
“Comecei muito pequeno a tocar num piano de brincar da minha mãe – era de madeira, para crianças – e andava por todo o lado com um disco de vinil da 5ª Sinfonia de Beethoven.”
Assim, não havia nada a “inventar”. O instrumento estava escolhido…
“Sim, tinha de ser o piano! Estava apaixonado por aquele instrumento!”
Ricardo não teve dúvidas. O seu futuro tinha de passa pela música, mais concretamente pelo piano. A que juntou a nobre profissão de professor.
“Sempre pensei concentrar-me numa carreira 100 % artística. Mas nunca me saciou…”
Concluído o “secundário”, rumou a Castelo Branco. Foi primeira etapa de uma carreira brilhante. A seguir, ainda na Cova da Beira, iniciou a caminhada profissional.
“Fiz o curso na ESART – Escola Superior de Artes Aplicadas e trabalhei na EPABI – Escola Profissional de Artes da Beira Interior, depois no Conservatório da Covilhã.”
Apesar de estar, atualmente, numa das cidades proeminentes do ensino artístico, Ricardo não esquece as raízes.
“Tenho imensas saudades da ESART, da EPABI e do Conservatório. Todos os alunos e colegas foram pedras preciosas neste meu edifício. Todos.”
PARIS
Ricardo Vieira, apesar da ligação afetuosa às suas atividades e às pessoas em Portugal, procurou mais. E a opção por França não foi casual.
“Saí do país porque tinha grande fascínio por França, desde o tempo em que aprendi nas aulas de História. E acima de tudo, precisava de conhecer mundo.”
E foi sozinho para Paris. Estudar mais e continuar a dar aulas de piano.
“Paris é o coração da Europa. Tem uma dinâmica cultural ímpar. As
ideias fascinam-me desde que aprendi o iluminismo.
Fui sozinho. E ganhei a vida a ensinar.”
Concluiu, há pouco, o Mestrado. Uma conclusão lógica para quem gosta também de dar aulas e de aprender. Na Universidade de Paris é isso mesmo que faz. Aprende e ensina a ensinar.
“Dou aulas de música em geral, mas sobretudo de como ensinar música – Pedagogia e Didáctica. Preparo também os alunos para os concursos da função pública.”
Prefere dar aulas ou concertos?
“Gosto de ambas as coisas. São uma forma de prolongar o que sou…”.
MUNDO E MUSICORBA
Quando saiu de Portugal, rumo a Paris, Ricardo levava a ideia de conhecer mundo, como nos disse. Na “Cidade das Luzes”, o sucesso não demorou . Prémios e “mundo” não lhe têm faltado.
“Prefiro dizer felicidade em vez de de sucesso. E sim, repleto de vários momentos muito felizes. Com o meu duo, “Musicorba”, temos tocado um pouco por todo o mundo – Japão, China, EUA, França, India, Turquia, etc. E em grandes salas como Tribeca, em Nova Iorque ou Olympia, em Paris.”
MusicOrba nasceu em 2009 e é um projeto de dois pianistas – Ricardo Vieira e o japonês Tomohiro Hatta. Como costumam tocar? A quatro mãos?
“Sim, a quatro mãos. Mas também com dois pianos.”
Ricardo Vieira gravou duas obras de António Victorino d`Almeida (em dueto com T. Hatta), algumas músicas para rádio e uma peça de teatro.
Não está nos seus propósitos regressar definitivamente a Portugal, pelo que, devemos aproveitar a sua vinda em fevereiro e reapreciar o talento, não só dele, mas também de Tomohiro Hatta.
Jornalista