“O Cidadão” foi dar uma volta pela UNIR, a nova rede de transportes públicos da Área Metropolitana do Porto que prometia, há pouco mais de quatro meses, “uma maior cobertura, com mais horários, novas linhas, otimização de trajetos existentes e surgimento de novos de modo a abranger locais que anteriormente não estavam servidos de transporte público”.
Esta rede, que interliga os 17 municípios da AMP prometia, também, “melhor acesso à informação pelos utilizadores será melhorado com disponibilização de informação em tempo real”. E prometia, ainda, uma “oferta mais eficaz e eficiente e com ganhos significativos na minimização do impacto da mobilidade no meio ambiente”.
O descontentamento e a revolta são o denominador comum aos utilizadores desta rede de transportes que, desde a sua implantação a 1 de dezembro de 2023, ainda não baixaram de tom. Em Vila Nova de Gaia, por exemplo, os atrasos, grandes atrasos que chegam a ultrapassar as duas horas, as carreiras por cumprir, os horários desajustados e a falta de informação estão entre as principais queixas dos utentes da Unir, que até já despoletaram várias manifestações e petições públicas.
“O Cidadão” procurou “ver para crer” e acomodou-se num canto daquele belo passeio de calçada portuguesa na Avenida da República, mesmo em frente à estação D. João II da linha azul do Metro do Porto, que serve de paragem às centenas de pessoas que ali se amontoam, todos os dias, por vezes durante horas a fio, à espera da carreira que tarda em chegar.
A indignidade desta “paragem” improvisada, onde os passageiros esperam e desesperam pelas carreiras da rede Unir é de bradar aos céus! Os mais velhos e os utentes com mobilidade reduzida não têm um único equipamento para aguardarem o transporte com o mínimo de conforto; as crianças, adolescentes e jovens pulam e brincam como se estivessem no recreio da escola, sem noção do perigo que representa o tráfego intenso, ali mesmo na berma da avenida.
Os cidadãos de meia-idade, na generalidade trabalhadores, vociferam contra os serviços prestados pela nova rede de transportes que se apresentou assim, com pompa e circunstância: “Agora, a Área Metropolitana do Porto está mais unida e ligada de uma forma única”. Mas os utentes contrariam o slogan e lamentam: “A Unir só veio desunir!”. E descarregam a sua ira nos pobres motoristas, maioritariamente imigrantes, que apenas são responsáveis por não falarem português.
«Isto é uma vergonha! Estávamos mal com as camionetas que tínhamos, mas ainda ficamos muito pior», desabafam alguns utentes naquelas conversas que matam o tempo à espera da carreira que teima em não chegar. “Queremos ir para o trabalho ou para casa e não conseguimos. Isto é um desespero, uma pouca-vergonha», acrescentam outros que se associam àquela partilha de frustrações e de revoltas.
Não obstante os atrasos sistemáticos e a falta de acesso à informação pelos utilizadores, cuja promessa institucional apontava uma melhoria com disponibilização de informação em tempo real, é de realçar que os atos de vandalismo nos autocarros parecem ter terminado.
O propalado nascimento de uma mobilidade mais sustentável, que interliga os 17 municípios da AMP, comprometida em garantir mais qualidade de vida aos passageiros, uma gestão mais eficiente das cidades e reduzir as emissões de carbono, está longe das evidências.
A Unir compreende 439 linhas de autocarros, uma frota alegadamente reforçada de autocarros tendencialmente amigos do ambiente e a utilização exclusiva do sistema Andante, com bilhética e tarifários comuns a todos os municípios.
Jornalista free-lancer