Os motivos que levam alguém a tentar suicidar-se podem ser muitos e complexos. O suicídio pode afectar as pessoas de todas as idades e em qualquer momento do ciclo de vida.
Uma interacção de factores sociais, psicológicos e culturais pode ajudar a explicar os comportamentos suicidários. Sabemos que a maior parte das pessoas que morreu por suicídio sofria com problemas de Saúde Psicológica (nomeadamente Depressão, Perturbação Bipolar ou Consumo Problemático de Álcool).
Na verdade, a maior parte delas nem queria necessariamente morrer, mas sim escapar à dor e ao sofrimento que estava a sentir. E, nessa altura, morrer parecia-lhes a única saída.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde cerca de 1 milhão de pessoas cometem suicídio anualmente. Estima-se que para cada suicídio ocorrido haja cerca de 20 tentativas.
O suicídio encontra-se entre as 10 principais causas de morte em todo o mundo.
Podemos considerar que existem “estágios” no desenvolvimento da intenção suicida, iniciando-se, geralmente, com a imaginação ou a contemplação dessa ideia. Em seguida, ocorre o desenvolvimento de um plano de como se matar que pode ser implementado por meios de ensaios realísticos ou imaginários e, por fim, a ação destrutiva concreta. Contudo, não podemos esquecer que o resultado de um ato suicida depende de uma variedade de fatores e nem sempre envolve um planeamento.
Em geral, pacientes com idea suicida apresentam algumas das seguintes características:
– Ambivalência: querem a morte e também querem viver. Isso acontece porque ao mesmo tempo em que há sofrimento psíquico há também outros fatores na vida do indivíduo que lhe trazem satisfação e motivação para viver;
-Impulsividade: como qualquer outro impulso, o impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns minutos ou horas e normalmente são desencadeados por eventos negativos do dia-a-dia;
– Rigidez/Constrição: os pensamentos passam a ser dicotômicos, do tipo tudo ou nada, ou seja, a pessoa tem os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos restritos ao suicídio, tendo boa parte do seu tempo tomado por esse funcionamento e restringindo a solução do que ocorre ao suicídio, não sendo capaz de perceber outras maneiras de solucionar o problema. São pensamentos rígidos e drásticos;
– Sentimentos de depressão, desesperança, desamparo e desespero:
A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções, frequentemente dão sinais e fazem comentários sobre querer morrer, sentimento de não valer nada. Esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados.
Diante disso, a primeira conduta terapêutica perante uma ideação suicida deve ser avaliar o risco da situação considerando os estágios e características citados acima.
Quando o risco é alto, ou seja, o paciente apresenta desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída da situação que se encontra, existe tentativa de suicídio prévia, abuso/dependência de substâncias, e tem um plano definido para se matar e meios para fazê-lo e já tomou providências para o acto, como se despedir das pessoas e escrever cartas, é preciso AGIR IMEDIATAMENTE de forma a manter a pessoa segura, muitas veze sendo necessário o internamento.
A segurança do paciente toma precedência sobre a confidencialidade e portanto, a quebra do sigilo profissional contatando familiares e amigos é necessária e prevista no Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Quanto ao paciente é de suma importância acolher, ouvir e mostrar-lhe que o “setting” terapêutico é um ambiente seguro, de confiança e não julgamento. As sessões devem ocorrer com menor espaço entre uma e outra quando o risco de suicídio for alto e também é aconselhável realizar contactos telefónicos entre as sessões.
Uma vez em segurança, os objetivos terapêuticos passam a ser o desenvolvimento de um plano de segurança ou plano de crise junto com o paciente.
Durante a sua execução é dada atenção a identificação de situações (gatilhos) que costumam desencadear ideação suicida e as estratégias que podem ser desenvolvidas (coping) para enfrentá-los. Algumas estratégias estão associadas a maneiras de permanecer longe de objetos que possam ser usados para se autoagredir, atividades que costumam reduzir a ansiedade e desenvolvimento de uma lista de boas razões para continuar vivo. Dessa forma, o objetivo do tratamento e do plano de segurança será reduzir a impulsividade, diminuir a ambivalência valorizando o desejo pela vida e ampliar a percepção sobre os fatos através da flexibilização cognitiva e diminuição dos pensamentos dicotômicos.
Por vezes, os familiares podem ficar assustados e resistentes às orientações dos profissionais por serem tomados por sentimentos contraditórios como: preocupação, medo, raiva, esperança, banalização, culpa, cansaço, entre outros. Por isso, o profissional deve adoptar uma postura de apoio emocional e prático.
Ao mesmo tempo em que amigos e familiares se preocupam, eles podem se sentir muito desconfortáveis diante do comportamento do paciente. É normal a ambivalência também acontecer com eles, é normal não saber ao certo como agir e também dizer ou fazer algo e depois arrepender.
É uma situação de crise que exige mudanças na rotina e cuidados intensivos, funções para as quais não estavam preparados e portanto, pode haver insegurança, cansaço e desgaste emocional. Diante disso, é importante que os familiares busquem suporte e procurem psicólogos que poderão ajudá-los. Dessa forma, será possível compreender os pensamentos e sentimentos que os deixa apreensivos e confusos e buscar um entendimento mais realista e as melhores soluções possíveis. Além disso, é possível desenvolver melhor comunicação entre os familiares e destes com o paciente.
Toda essa comunicação entre profissionais e familiares e amigos é feita com o intuito de se criar uma rede de proteção, por isso, ela não acontece apenas com pacientes menores de idade. Caso o paciente não concorde com essa proposta, ainda assim o contato deve ser realizado e o risco de suicídio deve ser exposto.
É necessário que as informações sejam objetivas e claras, sem eufemismos sobre o risco de suicídio e é importante ressaltar que nessa comunicação o psicólogo deve ter muito tato no repasse das informações e ao responder possíveis questionamentos dos familiares e amigos pois a intimidade do paciente deve ser preservada. Por fim, é necessário que a família e amigos estabeleçam um ambiente de compreensão e apoio que esteja pronto para a ação caso seja necessário.

Poetisa