Que a Fisioterapia moderna se confunda com a sua Postura clínica e societária é olvidar o que a faz mover-se para além dos métodos e paradigmas, aquém da ambição sociolátrica. É sempre a ciência que deve defini-la, mas jamais anquilosá-la. Reduzir a Fisioterapia à mera expressão grupal é seduzi-la a carecer do aspecto identitário da medicina física e clínica. É o que acontece quando o terapeuta se confunde com o reeducador postural ou professor de Pilates.
E, no entanto, é entre aqueles dois métodos que podemos ambicionar o viés simultaneamente clínico e idiossincrático. Mas o excesso de qualquer um deles trai o equilíbrio postural e, quiçá, redesenha o jogo de disputas posturais e societárias, fazendo multiplicar as possibilidades clínicas. Mas, quando o tempo é crasso e o Objecto se desenha no concreto, convém reduzir cientificamente as potencialidades posturais à linha raquidiana do equilíbrio clínico.
Daí que não possamos negligenciar o poder das tarefas manuais, localizacionais, e do movimento que denuncia a relação evolutiva da Reeducação Postural para o Pilates. Não há, no entanto, equilíbrio possível se cada um daqueles pólos paradigmáticos se excede, levando necessariamente à contratura, à anquilose.
É neste palco clínico que a Reeducação Postural deve libertar o corpo para o movimento subsequente, finalizando-se na força da “contrologia” do Pilates. Antepor a necessidade dogmática de (re)desenhar o corpo é convidar cada um dos pólos a uma jornada independente. Mas que podem a Reeducação Postural e o Pilates sem o movimento e a terapia manual? São os últimos que se devem aproveitar dos primeiros num intento pessoalizador.
O modelo “postural”, mormente em “flexão”, somente prepara o trabalho em “extensão”, sem o qual condições como “hérnia discal” arriscariam a agravar-se. De igual modo, não pode a função limitar-se ao treino postural e à actividade grupal, mesmo a postura é idiossincrática, e a função exige a acuidade terapêutica para além das obrigações de um economato, de uma massificação, de uma alienação.
Se, de acordo com Souchard, atemos enquanto “objecto” o alongamento da musculatura postural e o reforço da musculatura “fásica”, então não podemos esperar que esta sinergia se consiga sem a actividade individuacionante, regida pelo raciocínio clínico.
Acontece, até, que o sobejo de alongamento posterior produz mais contracção, tornando o trabalho anterior mais forçoso, o que leva a mais contracção posterior. Acontece, também, que um Pilates colectivizado, não antecipado, por exemplo, pelo alongamento da Cadeia muscular posterior, convida, igualmente, a mais tensão, reproduzindo a necessidade de (re)harmonização. De qualquer modo, o Pilates não deixa de ser sobrevalorizado, não existe, aliás, verdadeira “reeducação postural” sem o treino funcional, neurodinâmico, o equilíbrio é haver menos força a operar no movimento, e os métodos periféricos são, tão-somente, mecanismos aferentes que visam dispor à relação harmoniosa, racional, entre as forças. Importa à Razão que o próprio ráquis se eleve, estabilizando o relacionamento metodológico que só o dogma poderá fazer trair.
Destarte, a gravidade da ambiência clínica, onde o jogo de forças é muitas vezes tumultuoso, dogmático, enformado no poder, que é também a atitude do terapeuta face ao paciente, que nem sempre se formula na requerida tolerância.
Fisioterapeuta e Escritor