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Terça-feira, Outubro 15, 2024

Patrícia Mota de Almeida – “Escrevi sobre as pessoas que me existem no corpo”

“O Corpo Dormente Não Desvenda Sentidos” foi apresentado e O Cidadão quis ouvir a jovem autora, Patrícia Mota de Almeida, explicar o que a levou a escrever, em prosa, esta obra profunda, intensa e reflexiva. Tem 22 anos, nasceu e reside no Porto e, além da escrita, frequenta Arquitetura, toca piano e estuda composição na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo.

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Joaquim Marques
Joaquim Marques
Técnico de Turismo

Patrícia Mota de Almeida tem uma maturidade cultural e literária muito superior a  grande parte dos jovens da sua idade. Não fosse assim, dificilmente conseguiria despir-se emocionalmente como fez na sua obra de esteia “Corpo Dormente Não Desvenda Sentidos”. Pelo que apurámos, a escrita corre-lhe nas veias. 

Acho que o gosto pela escrita existe desde que aprendi a escrever…”
Na Escola Primária, portanto…
“Sim. Desde que me conheço, gosto de ler. E por volta dos seis ou sete anos, já escrevia histórias, naturalmente à luz do que pode fazer uma criança dessa idade. Na “Primária” sempre fui muito elogiada pelas redações que fazia.”

LANCAMENTO 93
Na Apresentação do Livro, Direitos Reservados

Porém, só na adolescência, próximo dos 19 anos, é que a Patrícia ganhou consciência de que a escrita era também uma necessidade.
Escrever e da forma como o faço é uma forma de catarse. Tenho muitas coisas que preciso dizer e acho a escrita o canal mais fácil para fazê-lo.”

Arquitetura, Instrumento, Composição, escrita, dá a imagem exata da Patrícia Mota de Almeida – uma criadora multifacetada. Sem preferências, mas a completar-se sucessivamente.
“Cada uma dessas atividades tem um papel diferente e revejo-me em cada uma de forma também diferente. A música, numa formação mais clássica e a arquitetura, mais académica. A escrita, como está fora dessa institucionalização, e se calhar por isso, flui de forma mais natural, sem barreiras.”

LANCAMENTO 26
Na Apresentação do Livro, Direitos Reservados

Personagens, sim ou não?

No prólogo do seu livro, Patrícia refere “…não há história porque não criei cenários, enredos ou personagens…”. A ideia que nos fica, enquanto leitores, é que a narradora é a personagem principal. A autora, no entanto, tem outra explicação.
O ponto de partida sou sempre eu, claro. Se quiser considerar o narrador como personagem, pode. Mas depois há pessoas a quem me dirijo – não estão lá explícitas – e existem; podem ser vistas como outras personagens, apesar de não terem características físicas ou nome, mas existem. E são elas quem transmite a mensagem e dão impulso para que escreva.”

De onde lhe vem a inspiração para tratar sentimentos tão profundos? Afinal é uma jovem de 22 anos…
“A inspiração vem do que fui vivendo e sentindo. O livro foi uma espécie de análise ao que estava a sentir – recorro muito a metáforas – e de exprimir essas emoções.”

A obra tem um sabor poético muito intenso. Podia ter sido escrito em verso. Curiosamente, Patrícia, nunca pensou desta forma e não tem apetência para escrita em poesia. Mas conseguiu explicar a razão do “sabor” que sentimos ao ler o seu livro…
Nunca equacionei escrever em poesia porque eu não escrevo poesia. Tudo o que me sai, de forma natural, é em prosa. No entanto, gosto muito de ler poesia, e inspiro-me imenso com ela. Às vezes, leio poemas soltos e fico com muita vontade de escrever. A poesia é inspiração, mas depois, o que sai de mim não são versos ou estrofes, mas frase m forma de prosa. É um processo que eu acho engraçado.”

Entre as várias emoções que percorremos ao longo dos capítulos, no sétimo, encontramos “…o Futuro é o meu maior medo…”. A Patrícia tem assim tanto medo do Futuro?
Não penso muito no medo, mas sinto-o muito. O que me assusta no futuro é o fator imprevisibilidade, não saber o que vai acontecer. Viver situações que estão fora do meu do meu controlo é assustador. Esse capítulo surgiu desse medo.”

Dylan e Patti Smith

Patrícia Mota de Almeida vai buscar à memória o momento em que Patti Smith canta Bob Dylan na entrega do “Nobel”. Figuras controversas e rebeldes de uma época diferente; haverá também uma semente de rebeldia dentro da autora?
“Rebeldia, não direi (sorrisos). Mas há um espírito de uma vontade em querer mudar algumas coisas; eles tiveram, numa dada altura, o que eu, durante a adolescência, senti. Essa revolta interior também eles a sentiram. Como são cantautores, têm a música sempre presente, o que acaba por ser inspirador para mim.”

Patrícia, é possível “desaprender de nadar”?
“Há momentos em que estamos muito próximos de desaprender; e podemos dar a volta a isso ou não. O livro também me ajudou a dar a volta a momentos em que eu me sentia a desaprender qualquer coisa…”

Patrícia Mota de Almeida escreveu “Corpo Dormente Não Desvenda Sentidos”, após recolher diversos trechos e notas que foi guardando em cadernos entre os 20 e os 22 anos. Juntou, deu-lhes sentido e o livro nasceu. Forte, intimista, metafórico e poético, mas escrito em prosa. Uma prosa brilhante que nos prende do princípio ao fim.
O livro surgiu como forma de catarse e, para mim, é mais fácil partir de uma folha em branco para desabafar. Prefiro colocar as palavras no papel do que dizê-las”- conclui Patrícia Mota de Almeida.


“Corpo Dormente Não Desvenda Sentidos”, de Patrícia Mota de Almeida, Editora Cordel d’Prata, 1ªEdição, setembro de 2023

 

 

 

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