O sonho da Sissi englobava muitos sonhos de várias cores e de vários tamanhos.
Sonhava que o tempo tinha apenas uma estação – a Primavera – onde via florir lindas flores, parte delas foram cuidadas por ela, no seu jardim, no seu Alentejo.
Sonhava que havia de ser professora e foi. Não daquelas que ensinam a ler e escrever, mas daquelas que ensinam a usar as mãos, na arte dos bordados.
Sonhava com um príncipe encantado, bordou-o à sua imagem e nasceu o seu maior sonho – Eu!
Sonhou com bonitas viagens pelo mundo, que os seus livros não a deixaram adormecer e viajou por eles sem passaporte.
Sonhava em ser escritora (poetisa) e escreveu lindos poemas para os seus mais queridos, os que nunca deixaram de estar presentes nos seus sonhos.
Mesmo na contingência das longas separações físicas, os sonhos… preencheram sempre o seu dia-a-dia.
Nas noites da sua avançada idade, alguns dos seus sonhos começaram a ter voz:
– Tó Manel! Tiago!
No dia 30 de Setembro deixou de sonhar… Mesmo assim, quis estar presente no dia mundial da música – 1 de Outubro – o dia da padroeira – Santa Cecília.
Por momentos, ficámos a sós os dois… Ela só e eu inábil e inepto.
As lágrimas cismaram em não correr na minha face, pois ao olhar para ela, imóvel e fria, conseguia vê-la sonhar, a continuar a realização dos seus sonhos.
Tenho pensado nela todos os dias e muitas noites, os meus sonhos têm batido à sua porta, têm tentado dar-lhe a mão. Mas como sinto a serenidade com que a vi partir, fico feliz, pois sinto que um dos seus sonhos, “aquele em que, ao lado da Nossa Senhora, ela está absorvida a comer batatas fritas”, talvez se tenha realizado e talvez nesse parco e exíguo sonho, a Sissi tenha conseguido realizar todos os sonhos da sua vida.
Um beijo, Mãe!
Músico