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Quarta-feira, Janeiro 15, 2025

Os novos “Vendilhões do Templo”: Vendem-se orações

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Rosa Fonseca
Rosa Fonseca
Professora e Escritora

À saída de um espaço comercial, fui abordada por uma senhora, relativamente nova, de nacionalidade brasileira – o que é irrelevante para o caso; e não foi para pedir uma informação ou ajuda.
Entre um sorriso doce e a pergunta pronta – “Posso orar por si?” O meu olhar deteve-se na serenidade do seu rosto.

E sem qualquer reação imediata, dou por mim a ceder à ladainha, uma oração de proteção em nome de Deus, depois de perguntar-me se autorizava.
E como não autorizar se me fala em Deus!? Que pecado se não aceitar!
E se Deus está em todo o lado, também estava ali a ver-nos – a dar uma voz cerimoniosa àquela pessoa.

Durante a oração e em segundos, só consegui questionar interiormente: será que Cristo desceu à Terra?
Será que estamos todos a precisar disto, de redenção?
Ou será uma nova forma de mendicidade mais subtil, mais direta ao coração do outro.
É que ninguém é indiferente ao desconhecido, no mínimo não o queremos encarar.
Porque mexer com as crenças de cada um não se brinca. Porque ainda pesam sobre nós os ensinamentos da Igreja, os valores católicos arreigados.
De repente, tudo isto somado, fizeram com que eu ali ficasse e o “posso orar por si”, tivesse êxito comigo.
De repente, vi-me na cena bíblica, os “vendilhões do templo” (João 2,13-25). Serão estes os novos vendilhões?

Afinal todos queremos estar de bem com Ele.

Preocupa-me se isto for a mais moderna forma de mendigar. Ou tudo o que possa estar por detrás destas congregações, como me adiantou a senhora que vendia orações.

E como em tudo, “quando a esmola é grande o pobre desconfia”, em troca da oração recebi um livrinho, pagando por tudo doze euros.

Continuo apreensiva com o preço das orações em nome de um deus idolatrado.


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