A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Fernando Pessoa
Vamos imaginar-nos, por breves instantes, capazes de regressar à nossa infância e de entrarmos numa nave espacial para observar a Terra pela janela. O que vemos? O Cosmos, a vastidão infinita do espaço, onde flutua este nosso planeta Azul. Continentes, mares e oceanos, terra, montanhas, rios, florestas, desertos e a humanidade. Tudo faz parte de um ecossistema vasto e global que temos dificuldade em compreender, em alcançar.
Mas estamos ali. Observamos, contemplamos somente. A nave continua a sua viagem em torno da Terra. São imensas as perspetivas. Vamos registando na mente imagens. Forçosamente, nos colocamos em causa. Somos crianças exploradoras e sonhadoras do mundo. “Como cheguei aqui?”, “para onde vou?”, “o que devo fazer?”, “o que é verdadeiro ou falso?”, “quem sou eu?”. São imensos os pensamentos, as emoções, os sentimentos, as crenças, as intuições e reflexões que vão emanando consciente ou inconscientemente, desencadeadas pelos nossos sentidos… Filosofamos. Precisamos de saber exatamente que lugar ocupamos nesta infinita dimensão, na qual nos sentimos atomicamente minúsculos.
E a infância vai passando pela adolescência até à idade adulta. Por momentos, distraímo-nos e descemos à Terra. Pisámos o solo e esquecemo-nos de voltar à viagem cósmica. Prendemo-nos ao solo, a um espaço reduzidíssimo da nossa existência. Os sonhos esfumaram-se. Num tempo ou lugar qualquer, abandonámos a pessoa em crescimento que éramos. Desamparámos aquela criança ávida do conhecimento, sedenta do entendimento, da viagem interior que a levaria sempre em viagens cósmicas.
Mas nem todos perderam essa faculdade. Há uns resistentes que insistem em manter-se ocupados, viajando e sempre atentos ao que se passa do outro lado daquela janela. São os Cosmovidentes.
São aqueles que chegaram à maturidade, como diz Friedrich Nietzsche, encarando “a vida com a mesma seriedade que uma criança encara uma brincadeira.” São aqueles que evoluíram, pois acreditam que “quem tem a mesma visão do mundo aos vinte anos que aos cinquenta, perdeu trinta anos da sua vida”, pelas palavras do pugilista Mohammed Ali.
Estes Cosmovidentes são adultos-criança. Ainda sonham, leem, viajam, estudam, questionam, duvidam, ponderam, refletem em profundidade, extraem lições, rodeiam-se de pessoas bondosas e pensadoras, imaginam e nunca, nunca receiam o sonho. Mantêm a avidez do conhecimento, a férrea vontade de amar-se e de amar as pessoas, o mundo, as culturas, as línguas.
Os Cosmovidentes comungam da postura do romancista e poeta e dramaturgo, nascido na Índia, Lawrence Durrell e compreenderam que “a verdadeira maturidade anda sempre a par com uma profunda compaixão pelo mundo, pelas pessoas.”
Àqueles que se esqueceram de vestir o fato de cosmonauta, convido-vos a viajar com os Cosmovidentes, respeitando os valores e princípios mais elevados da Humanidade, que devemos preservar e respeitar!
Boa viagem!
Professor, Poeta e Formador