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Domingo, Outubro 13, 2024

Os casais só devem separar-se quando se dão bem… – Por António Ferro

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António Ferro
António Ferro
Músico/Colaborador

Há duas semanas passadas, telefonou-me o Dionísio a planear um café, pois precisava muito de desabafar e desoprimir… Combinei no Vício do Café, na Rua Passos Manuel em frente à Fnac.

Depois das conversas banais e rotineiras, o Dionísio articulou:
– Pois é amigo Ferro, eu e a Lurdes separamo-nos.
– O quê? Mas vocês eram um dos poucos casais de referência aqui no Porto. Os amigos davam o vosso exemplo como um casal unido, grudado e sempre bem ajeitado.
– É por essa razão, por nos darmos bem que nos vamos separar…
– Mas isso, é um paradoxo e um despautério! Normalmente os casais despegam-se, quando se dão mal e não quando se dão bem…

– Eu vou contar a nossa história para apreenderes melhor. No último meio ano, fui atingido por um vírus desconhecido que afetou alguns órgãos do meu corpo e entre eles, o meu órgão sexual. Consultei-me com inúmeros urologistas e nada conseguiram melhorar. Perdi completamente a ereção! A Lurdes é uma mulher muito ativa sexualmente e não vou condená-la à abstinência… Assim, ela pode arranjar outro homem que lhe possa dar o prazer de que ela é merecedora. Vivemos todos estes anos, sempre tendo como base a sinceridade e a transparência e eu não posso ser mais translúcido do que a atitude que tomei. Somos grandes amigos e espero que continuemos a ser até ao resto dos nossos dias. Quando os casais se separam quando e se dão mal, imagina o que acontece…
Passam a odiar-se, e apenas conseguem vislumbrar os pontos negativos do(a) parceiro(a).
Como se uma borracha apagasse todos os bons momentos que passaram juntos no casamento e nos bons momentos de namoro. Quando estão com os amigos, ainda vincam mais os defeitos do(a) parceiro(a), que levam à indignação de qual a lógica de terem construindo um casamento se tantos defeitos tem o(a) outro(a)…
Agora já começas a entender quando digo que os casais devem separar-se quando se dão bem?

– Sim Dionísio, por esse enfoque tem a sua congruência.
– E depois vem a culpa! Os sentimentos de culpa que nos enraizaram, os que são católicos, com aquela lenga-lenga: “Por minha culpa e por minha tão grande culpa!”
Mas culpa de quê?… Lá porque o Adão comeu a maçã e foi expulso do paraíso o que é que nós, simples mortais, temos a ver com isso (?)…
O problema da culpa é que viaja nos dois sentidos. – Se calhar eu tenho culpa porque lhe respondi mal, ou se calhar eu tenho culpa por que não estive atento, ou não lhe dei atenção. E por outro lado: – “A culpa é dele que não esteve atento aos meus sinais… “. “A culpa é dele porque não me deu ouvidos…” Agora assumirmos a culpa, é que é mais improbo e inusitado…

– Dionísio, desculpa interromper, mas a única culpa que eu conheço é de um filme do António Vitorino D’Almeida, onde, insolitamente, a intervenção física dele no filme, é entrar num urinol, dar a sua “urinadela” e sair…
– Desconhecia completamente. Bem, agora quando alguém perguntar de quem é a culpa, já sei como responder, é do Vitorino D’Almeida

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